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Cronologia dos laços entre o trumpismo e o bolsonarismo
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Cronologia dos laços entre o trumpismo e o bolsonarismo

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Trump e Bolsonaro em encontro em 2019 (Foto: Brendan Smialowski/AFP)
Foto: Brendan Smialowski/AFP Trump e Bolsonaro em encontro em 2019

Desde o princípio, o bolsonarismo buscou não apenas inspiração no trumpismo, mas também sua aprovação, convergindo uma agenda conservadora, estratégias de comunicação e ecoando narrativas comuns, como o antiglobalismo. Para o cientista político e professor da FGV Guilherme Casarões, a conexão entre o bolsonarismo e a contraparte americana acontece em três movimentos: emulação, articulação e internalização.

Eleição de Trump em 2016 abre elo com Brasil

O vínculo tem início em 2016, quando Trump é eleito presidente pela primeira vez, avalia Casarões. Na campanha, o americano começa a defender um conjunto de pautas que passam a ser incorporadas no repertório de Bolsonaro, cuja futura candidatura à época ainda era incipiente.

Olavo de Carvalho

Naquele momento, o guru do bolsonarismo Olavo de Carvalho passou a despontar como ponto de contato entre a agenda política trumpista e a realidade brasileira, além de fomentar teorias da conspiração online que imitavam aquelas que circulavam nos EUA.

"Trump dos trópicos"

"(Bolsonaro) vai aos Estados Unidos em 2017, não se encontra com Trump, mas já começa a surgir aquela narrativa de que Bolsonaro é o 'Trump dos trópicos'", afirma Casarões.

Estratégia articulada entre movimentos

Em novembro de 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro e Filipe Martins emergem como elo central da ponte entre o bolsonarismo e o trumpismo. Os brasileiros foram aos EUA para articular conexões entre o governo Trump e a futura gestão de Bolsonaro na chefia do Palácio do Planalto. Do lado americano, o estrategista trumpista Steve Bannon, que mantinha relações amistosas com Olavo de Carvalho, declarou apoio a Bolsonaro e se tornou o elo dos brasileiros com movimentos conservadores nos EUA. "Aí começa a aparecer muito claramente uma estratégia mais articulada", diz Casarões.

Cúpula conservadora

Parte desta mobilização, por exemplo, resultou na realização da Cúpula Conservadora das Américas, em Foz do Iguaçu, com a presença de Eduardo Bolsonaro, e o consequente lançamento do Prosul, uma alternativa conservadora à Unasul.

Visita após a posse

A eleição de Bolsonaro e Trump sob as mesmas bandeiras também ajudou a consolidar a ligação entre os movimentos. Em 2019, Bolsonaro foi aos EUA como primeiro destino após eleito e passou a fazer um governo alinhado e elogioso ao do americano. Um vídeo da visita em que presta continência à bandeira americana viralizou e foi defendido por seus apoiadores, também entusiastas das políticas de Trump.

A tática de transnacionalização do bolsonarismo

A posterior pandemia da Covid-19 contribui para sedimentar a reótica comum entre trumpistas e bolsonaristas, muitas alimentadas pelos próprios líderes, como o ataque à vacinação contra a doença, ao lockdown e a defesa de medicamentos sem comprovação científica.

Capitólio 6/1 e Praça dos Três Poderes 8/1

O ex-presidente brasileiro chegou a ir aos Estados Unidos, onde discursou em eventos conservadores. O espelho brasileiro do movimento americano chega ao seu auge quando bolsonaristas invadem a sede do governo em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Quando o mesmo ocorreu em Washington, em 6 de janeiro de 2021, Bolsonaro chegou a apoiar Trump e dizer que o sistema eleitoral dos EUA era fraudado. Na ocasião, disse ser "ligado" ao americano.

Retaliações

Nos anos seguintes, Eduardo Bolsonaro liderou diversas delegações bolsonaristas para discutir abordagens junto a congressistas americanos e participar de eventos conservadores. Dois deles, Maria Elvira Salazar e Rich McCormick chegaram a pedir que Trump sancione o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, reforçando a agenda bolsonarista anti-Judiciário.

"Depois que Lula foi eleito, havia uma percepção de que se o bolsonarismo conseguisse manter viva essas associações com Trump, e Trump fosse eleito de novo, isso poderia ser um caminho para que Bolsonaro pudesse voltar para o jogo político eleitoral", avalia Casarões.

Estratégias casadas

No Brasil, a importação de práticas trumpistas também foi internalizada por parlamentares, que passaram a defender uma agenda pautada nas fileiras do partido Republicano dos EUA. A liberdade de expressão virou fio condutor entre os movimentos, que também rejeitam a responsabilização das big techs, por exemplo.

A articulação bolsonarista culminou em uma publicação de Trump na segunda-feira da semana passada, que atacou o "terrível tratamento" dado pelo Brasil a Jair Bolsonaro e, na quarta-feira, aplicou tarifas de 50% sobre o país.

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