De 2023 até a última sexta-feira, 8, data em que foi alvo de operação da Polícia Federal, o deputado Júnior Mano (PSB) destinou mais de R$ 69 milhões em emendas parlamentares. Deste valor, R$ 12,5 milhões referem-se à emendas pagas a quatro dos cinco municípios envolvidos nos mandados de busca e apreensão realizados na semana passada, na operação da Polícia Federal batizada de "Underhand", que investiga desvios de recursos públicos.
Dados disponibilizados na plataforma SIGA Brasil mostram registro de emendas enviadas pelo parlamentar para quatro cidades envolvidas na ação da PF na semana passada: Fortaleza, Eusébio, Canindé e Nova Russas. Apenas o município de Baixio, onde também ocorreu desdobramento da operação da PF, não registra envio de emendas.
Segundo a plataforma, Fortaleza recebeu neste período R$ 950 mil, Eusébio recebeu R$ 1 milhão, Canindé pouco mais de R$ 907 mil e Nova Russas, município governado por Giordanna Mano (PRD), esposa do deputado, recebeu R$ 9,6 milhões. O levantamento foi feito pela equipe do O POVO+.
Municípios em que foram cumpridos mandados pela Polícia Federal
O município de Choró, onde o prefeito eleito Bebeto Queiroz (PSB), próximo politicamente ao deputado Jr Mano, foi preso ainda antes de assumir o mandato recebeu R$ 800 mil do parlamentar no mesmo período. Bebeto, atualmente é considerado foragido da Justiça, além de ter tido o mandato cassado.
Em 26 de dezembro de 2024, a então prefeita de Canindé/CE, Maria do Rosário Ximenes (Republicanos), afirmou em depoimento ao Ministério Público Eleitoral que Bebeto teria mais de R$ 58 milhões para gastar na região durante as eleições, e que esses valores vinham de emendas parlamentares.
Segundo ela, Bebeto e Junior Mano atuavam conjuntamente na lavagem desse dinheiro em 51 municípios cearenses. Os dois costumavam aparecer diversas vezes juntos em postagens nas redes sociais, demonstrando proximidade.
Em nota enviada ao O POVO, a assessoria de comunicação de Júnior Mano comentou a destinação dos valores e informou que o deputado federal "atua para garantir recursos para obras e programas relevantes para os municípios cearenses, incluindo Nova Russas".
Sobre os valores mencionados, o deputado argumenta que foram "aplicados em projetos de infraestrutura e promoção da saúde. Todas as verbas enviadas pela União tiveram a aplicação devidamente analisada pelos órgãos de fiscalização".
Por fim, cita que "a regularidade dos investimentos foi atestada pela Controladoria-Geral da União, por meio de fiscalização específica sobre o assunto".
O deputado federal Júnior Mano (PSB) foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) na última terça-feira, 8. Batizada de "Underhand", a ação da PF foi uma iniciativa contra desvio de recursos públicos e cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nos municípios de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio; além de Brasília/Distrito Federal. Houve ainda o bloqueio de R$ 54,6 milhões das contas dos investigados.
Agentes da PF estiveram na residência do deputado em Nova Russas, no apartamento funcional em Brasília (onde o parlamentar se encontrava) e no gabinete de Mano, no Congresso Nacional.
O parlamentar vem sendo investigado por suposta compra de votos no Ceará — esquema de lavagem de dinheiro de emendas parlamentares nas eleições de 51 municípios em outubro de 2024.
Nesta operação, são investigados crimes de organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral. Mano nega qualquer envolvimento com as práticas citadas. O deputado é cotado como pré-candidato a senador em 2026.
Na semana anterior à operação, O POVO mostrou com exclusividade que, a pedido da Polícia Federal, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu mais 60 dias para que investigadores concluíssem relatório sobre suposto desvio de emendas parlamentares no Ceará. Com isso, a entrega do parecer foi adiada para agosto. O processo corre em segredo de Justiça.
VALOR TOTAL EM EMENDAS: R$ 69.496.682
Porto Alegre (RS)*: Valores referentes à ajuda humanitária enviada ao Rio Grande do Sul devido às enchentes de maio/2024
Fonte: SIGA Brasil - produto do Senado Federal desenvolvido pelo PRODSEN e parceria com a Consultorias de Orçamentos - CONORF