O governo Lula ganhou fôlego na crise de popularidade após o anúncio de tarifa de 50% sobre produtos do Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no último dia 9, mostraram duas pesquisas divulgadas nesta semana.
Em pesquisa Genial Quaest divulgada na quarta-feira, 16, a aprovação da gestão petista passou de 40% em maio para 43% em julho, enquanto a desaprovação oscilou de 57% para 53% no mesmo período.
Um dia antes, pesquisa AtlasIntel mostrou que a aprovação de Lula alcançou o melhor patamar em nove meses. Subiu de 47,3% para 49,9%. E a desaprovação caiu de 51,8% para 50,3%. Ainda assim, em ambos os casos a desaprovação é maior que a aprovação.
De acordo com o levantamento da Quaest, a maior parte dos brasileiros avalia que Trump não tem o direito de opinar sobre processos judiciais do País, como fez o americano em relação à ação penal do golpe de Estado contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que tramita hoje no Supremo Tribunal Federal (STF).
Por outro lado, embora Trump tenha citado o processo que atinge Bolsonaro ao anunciar o tarifaço imposto ao Brasil, a maior parte dos entrevistados afirmou que o que provocou a medida foram declarações feitas por Lula contra o presidente dos Estados Unidos durante o encontro do Brics - bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã — no Rio de Janeiro.
Apesar de diferentes avaliações sobre os motivos da crise tarifária provocada por Trump, os brasileiros querem que o governo e a oposição se unam na defesa dos interesses do País, apontou a pesquisa. O governo brasileiro considerou o apoio americano a Bolsonaro "indevido" e "inaceitável" por representar uma intromissão de Trump em assuntos internos do Brasil.
O levantamento da Genial/Quaest entrevistou 2.004 pessoas, de forma presencial, entre os dias 10 e 14 de julho. A margem de erro é de dois pontos porcentuais e o índice de confiança é de 95%. A seguir, os principais dados da pesquisa, em cinco pontos.
A pesquisa AtlasIntel, contratada pela Bloomberg, ouviu 2.841 pessoas entre os dias 11 e 13 de julho, e tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Os números podem passar de 100% devido aos arredondamentos.
Entre julho de 2024 e maio de 2025, a desaprovação ao governo Lula cresceu de forma ininterrupta a cada levamento realizado pela Genial/Quaest. No período, a desaprovação ao petista cresceu de 43% dos entrevistados para 57%, enquanto a aprovação deste terceiro mandato presidencial de Lula caiu de 54% para 40%.
Desde a rodada anterior da pesquisa, em maio, a desaprovação oscilou quatro pontos porcentuais para baixo, indo de 57% para 53% agora, enquanto a aprovação passou de 40% para 43% no período.
O levantamento aponta melhora de Lula entre os brasileiros que vivem na Região Sudeste (reprovação caiu de 64% para 56% e aprovação subiu de 32% para 40%); os que ganham na faixa de dois a cinco salários mínimos (rejeição passou de 58% para 52% e apoio, de 39% para 43%); no recorte dos que têm ensino superior completo (reprovação caiu de 64% para 53% e aprovação subiu de 33% a 45%); e os que não são beneficiários do programa Bolsa Família (desaprovação caiu de 61% para 55% e aprovação foi de 37% para 41%).
"São os segmentos mais informados da população que se percebem mais prejudicados pelas tarifas de Trump, e que consideram que Lula está agindo de forma correta até aqui, por isso passam a apoiar o governo", disse o CEO da Quaest, Felipe Nunes.
Na AtlasIntel, realizada mês a mês, a desaprovação do governo subiu de abril de 2024 até março deste ano, caiu em abril, alcançou o maior patamar na série em maio, e voltou a cair em junho e no levantamento mais recente, de julho.
Já a aprovação praticamente empatou com a desaprovação em novembro de 2024, foi ultrapassada em dezembro e teve quedas de janeiro a março deste ano. Em abril teve recuperação, caiu em maio até apresentar recuperação na pesquisa anterior, em junho, e nesta de julho.
Lula lidera todos os cenários para 2026, diz pesquisa Genial/Quaest
A um ano e três meses das eleições de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o candidato mais mencionado para um novo mandato à frente da Presidência da República. Nos quatro cenários da nova pesquisa Genial/Quaest divulgada nessa quinta-feira, 17, o petista lidera em relação aos segundos colocados.
A menor diferença é de seis pontos porcentuais, quando Lula aparece à frente do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por 32% ante 26% das intenções de voto. Entretanto, o ex-chefe do Executivo está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030 - portanto, mesmo que registre candidatura, não poderá concorrer.
O ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT) aparece na sequência, com 8% das menções nesse cenário. O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), tem 6%, enquanto o de Goiás, Ronaldo Caiado (União), 3%, e o de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), 2% das intenções. Os indecisos são 9% e os que dizem não votar ou anular o voto são 14%.
Nos outros três cenários testados pela pesquisa, a diferença do presidente para os demais colocados é maior. Concorrendo contra a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), Lula tem 30% das intenções de voto, ante 19% na mulher do ex-presidente e líder do PL Mulher. Ciro aparece com 10%, seguido de Ratinho, com 7%, de Caiado, com 5%, e de Zema, com 4%. São 9% os indecisos e 16% afirmaram votar em branco ou nulo.
Lula já afirmou em diversas ocasiões que deve se candidatar à reeleição. Do outro lado, Bolsonaro, impedido de concorrer a cargos eletivos, continua se colocando como possível candidato e nega indicação de um sucessor, como forma de se manter relevante no jogo.
A pesquisa Genial/Quaest realizou 2.004 entrevistas entre os dias 10 a 14 de julho com brasileiros de 16 anos ou mais. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. (Agência Estado)
Tarifas de Trump ameaçam o Brasil, mas caem bem para um Lula em baixa
A ameaça comercial de Donald Trump pode trazer efeitos negativos ao Brasil, mas, no momento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) surfa uma onda nacionalista, enquanto a oposição de direita reage dividida e na defensiva.
O presidente americano anunciou na semana passada tarifas de 50% às importações brasileiras a partir de agosto, pelo que chamou de "caça às bruxas" contra seu aliado, o ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, que está sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.
Em entrevistas à imprensa e discursos, Lula, usando um boné com a frase o "Brasil é dos brasileiros", condenou a "interferência" americana e disse que não descarta ações de "reciprocidade".
A ameaça de Trump não poderia ter chegado em um momento melhor para o ex-sindicalista de 79 anos, faltando pouco mais de um ano para as eleições de 2026, que ele afirma querer disputar.
Segundo pesquisa feita antes da crise comercial, a maioria dos brasileiros desaprovava o governo em meio à inflação persistente (5,35% em 12 meses em junho e o escândalo de fraude no INSS).
O Congresso, de maioria conservadora, bloqueou a proposta de elevar o IOF.
Diante da ameaças para a economia, o governo Lula apelou para a união nacional, com uma campanha nas redes sociais que inclui o slogan "Brasil se escreve com S de soberania", em referência ao nome do país em inglês: "Brazil".
Além disso, o governo ajustou a defesa de aumentar os impostos aos mais endinheirados à nova situação: "Lula taxa os super-ricos e Bolsonaro taxa o Brasil."
Também se aproximou daqueles que perderiam mais com as tarifas: o grande empresariado industrial e o poderoso agronegócio, setores tradicionalmente mais próximos da direita.
Na Presidência, o momento é aproveitado: "O bolsonarismo quer fazer o Brasil de refém para salvar Bolsonaro. É muito bom", indicou uma fonte à AFP. "Era o que esperávamos. Agora é aproveitar até o próximo ano".
Ao permitir o uso do patriotismo, "Trump jogou um bom mimo para Lula", disse o analista político André César à AFP. E acrescentou: "O brasileiro vai ser chamado para se enrolar na bandeira" nacional, da qual o bolsonarismo buscou se apropriar nos últimos anos.
A extrema direita brasileira esperava há meses uma sanção de Washington contra Alexandre de Moraes, ministro do STF e relator do caso contra Bolsonaro.
Mas a ameaça de tarifas superou todos os cálculos e dividiu as forças conservadoras, com retrocessos relevantes.
Para o filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP), que há meses faz lobby em defesa de seu pai nos Estados Unidos, a carta do republicano confirmou o "sucesso" do "intenso diálogo" que mantém com Washington.
"Obrigado presidente Trump — torne o Brasil livre outra vez", escreveu na rede social X, em inglês. Jair Bolsonaro, por sua vez, disse que "não se alegra" por ver os produtores "sofrer" os possíveis efeitos das tarifas, mas responsabilizou Lula.
Para Geraldo Monteiro, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a ameaça de Trump "teve o efeito de isolar ainda mais a extrema direita" criando uma "inesperada coalizão de interesses" entre o governo Lula e a classe empresarial.
"Pode ter mudado" o jogo das eleições de outubro de 2026 a favor do petista para um quarto e inédito novo mandato, opinou Monteiro à AFP, embora ainda falte mais de um ano para a disputa. (AFP)
Trump
A maioria dos entrevistados na Quaest rejeita o "tarifaço" de Trump. Para 72% dos entrevistados, o americano está errado ao impor taxas aos produtos brasileiros, enquanto 79% avaliaram que o impacto nas exportações do País também prejudicará a própria vida
Ingerência
A maior parte dos entrevistados na Quaest (57%) avaliou que o americano não tem o direito de critica o processo em que Bolsonaro (PL) é réu sob acusação de tentar um golpe de Estado
Brics
Questionados sobre o que levou o presidente americano a anunciar o tarifaço, 26% dos ouvidos na Quaest atribuíram a medida às falas de Lula feitas na reunião do Brics realizada no Brasil. Para 22%, a ação penal no Supremo contra Bolsonaro é, de fato, a principal razão por trás do tarifaço. A maioria (55%) avaliou que Lula provocou Trump ao criticá-lo durante a Cúpula do Brics
Eduardo
São 17% dos ouvidos pela Quaest os que disseram que o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) influenciou o presidente americano a tomar a medida, enquanto 10% afirmaram que Trump buscou retaliar as ações da STF que atingiram big techs americanas