A manifestação em Fortaleza na defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) marcou o primeiro reencontro público de vários dos principais líderes de oposição no Ceará após os estremecimentos no bloco nas últimas semanas.
Os alvos centrais da manifestação foram o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com bandeiras dos Estados Unidos e cartazes de agradecimento a Donald Trump, o ato ocorre pouco depois do anúncio de tarifas de 50% sobre exportações brasileiras para os Estados Unidos, e também da aplicação de sanções a Moraes.
Estavam presentes praticamente todos os membros do PL cearense com mandato, além do senador Eduardo Girão (Novo), pré-candidato a governador, e do ex-deputado federal Capitão Wagner, presidente do União Brasil no Ceará, que pretende ter candidato a governador.
As conversas para unificar a oposição foram atrapalhadas depois que o deputado federal André Fernandes anunciou que o PL terá candidato próprio a governador e descartou apoio a nomes como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ou o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio. Naquele dia, Bolsonaro foi alvo de operação para colocar tornozeleira eletrônica e, na mesma manhã, Ciro divulgou vídeo com críticas ao presidente Lula, mas também à família Bolsonaro. A segunda parte não foi bem recebida. Desde então, líderes oposicionistas tentam contornar o mal-estar.
Capitão Wagner declarou que tanto Ciro Gomes e Roberto Cláudio quanto ele próprio se colocaram à disposição para concorrer. Segundo ele, ainda não é o momento para definição de candidaturas, e o mais importante é manter a coesão do grupo.
"Meu nome está à disposição do Roberto Cláudio. O Ciro tem dito pra gente também que o nome tá à disposição. (...) Definir o nome agora não é inteligente. O que a gente precisa garantir é que estaremos unidos, independente de quem seja o nome", disse Wagner.
Segundo o deputado estadual Sargento Reginauro (União Brasil), também presente ao evento, o diálogo com Ciro Gomes tem se fortalecido, mas ele reconhece que houve momentos de instabilidade e divergência.
“O diálogo com Ciro continua se fortalecendo, com Tasso Jereissati (PSDB), com Wagner. Então, a oposição no Ceará vai trabalhar por um palanque único. Houve um momento de instabilidade, natural quando grandes lideranças políticas se divergem em qualquer ponto. É natural que o Ciro diga o que pensa e que o deputado André Fernandes defenda o que ele pensa, mas nós temos um ponto em comum”.
“Desde que o Ciro foi ao café da oposição, ele deixou bem claro, ele foi muito sincero. Nós temos divergências históricas, mas estamos unidos por um objetivo comum. Essa fala resume tudo”, conclui o deputado estadual.
Interlocutores da oposição apontaram que a manifestação de Fernandes não foi comunicada previamente e que teria sido tomada em decorrência da postagem crítica de Ciro direcionada a família Bolsonaro, classificando os últimos movimentos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) como "burrice".
O vereador de Fortaleza Inspetor Alberto (PL) criticou o que considera falta de alinhamento entre os líderes. “A oposição está precisando de mais união, seja quem for, Girão, Wagner, André, Roberto Cláudio, para se unir. Mas eu noto que não, a gente senta, conversa, alinha, e no outro dia as pessoas estão batendo em Bolsonaro, batendo na direita, aí fica impossível de você fazer uma conjuntura”, apontou o vereador.
“Falamos com o Ciro Gomes, com Roberto Cláudio, Bolsonaro veio aqui para alinhar. Mas eu não sei o que é que acontece na cabeça desse povo, porque a tendência é o seguinte: ou você se une para viver ou se separa para morrer”, questionou o vereador.
Ainda assim, o deputado estadual Alcides Fernandes (PL), pai de André Fernandes e apontado como futuro candidato ao Senado, disse que Ciro e Roberto Cláudio são “bons nomes”, porém afirmou que o grupo ainda deve se reunir para debater o assunto.
O senador Eduardo Girão (Novo), um dos primeiros a se colocar como pré-candidato, evitou antecipar articulações políticas para 2026. Ele considera que é cedo para discutir o assunto, mas defende seu nome para o pleito do próximo ano.
“Hoje eu sou pré-candidato ao governo do Ceará porque sempre fui contra a reeleição, por princípio. E eu acredito que, se eu estou num xadrez político e as pessoas têm realmente acompanhado o nosso trabalho, é um nome legítimo que a gente possa colocar”, destacou. No caso de o PL ter mesmo candidato próprio, a filiação de Girão é tida como alternativa.
Durante o ato, um homem chegou a pedir para colocar faixa em referência a Ciro Gomes (PDT) e perguntou aos organizadores se haveria problema. Eles responderam que o foco da manifestação era contra Moraes e o pedido de anistia, sem relação com a possível aliança eleitoral. A faixa não foi exposta.
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Outros políticos presentes eram Kamila Cardoso (Avante), ex-candidata ao Senado, Soldado Noélio (União Brasil), vereador de Fortaleza, Dayany Bittencourt (União Brasil), deputada federal, Carmelo Neto (PL), deputado estadual, acompanhado da esposa Bela Carmelo (PL), vereadora de Fortaleza.
O ato foi também o primeiro a reunir publicamente Carmelo e André Fernandes desde o anúncio de que este último assumirá a presidência estadual do partido na vaga do deputado estadual.
O ex-presidente Bolsonaro não tem permissão de participar presencialmente dos atos devido às medidas cautelares da Justiça, que o mantêm proibido de sair aos finais de semana e exigem o uso de tornozeleira eletrônica. Porém, Bolsonaro fez uma vídeo-chamada com o deputado André Fernandes, que mostrou o público para o ex-presidente.
Em contraste com manifestações anteriores, que tinham um viés religioso mais acentuado, o ato de 3 de agosto teve maior ênfase em motivações políticas. As falas concentraram-se em críticas ao STF e à gestão do presidente Lula, com menos referência a temas espirituais ou de oração coletiva.
O ato teve como palavras de ordem entoadas "fora Lula" e "fora Moraes". Houve manifestações de apoio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foi tocada uma versão do forró Carta Branca. A letra adaptada diz: "Vai fazer isso comigo só porque eu sou o Xandão".
Em julho, Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em retaliação ao andamento de processos contra Bolsonaro e fim da suposta perseguição judicial no Brasil, que considerou "uma caça às bruxas". O governo brasileiro anunciou medidas de retaliação comercial e ação formal na Organização Mundial do Comércio, classificando a iniciativa como uma “chantagem inaceitável” e reafirmando a intenção de preservar a soberania nacional.
Ato pró-Bolsonaro na Praça Portugal, em Fortaleza tem cortejo e forró: "Vai fazer isso comigo só porque sou o Xandão"https://t.co/kohSG8o3XR pic.twitter.com/8ehVNvpsWa
— Jogo Político (@jogopolitico) August 3, 2025