Até a manhã de 29 de agosto de 1949, os serviços de inteligência dos Estados Unidos não acreditavam que a União Soviética pudesse reunir recursos tecnológicos e financeiros para produzir uma bomba atômica. Estavam errados.
Os planos para uma bomba soviética remontavam a 1934, quando o físico Georgy Flyorov descreveu a teoria no Congresso de Altas Energias de Stalingrado. O programa russo começou de fato em 1940, mas só ganhou velocidade quando a Segunda Guerra entrou na fase final, em 1944.
Em 1946, o Laboratório n.º 2 passou a ser a sede do empreendimento. Nos documentos oficiais, era citado como "escritório" ou "armazém". Uma cidade inteira foi construída às margens do lago Baikal para receber o pessoal de serviços gerais, militares, técnicos, especialistas e as instalações de apoio, principalmente os laboratórios.
Conhecido como "Ponto Atômico Mãe", o complexo chegou a abrigar 50 mil pessoas, mantidas sob controle da polícia política em um regime bem parecido com o de um confinamento. Em Los Alamos, nos EUA, os 130 mil envolvidos no Projeto Manhattan, das armas atômicas americanas, estiveram submetidos ao mesmo esquema de segurança máxima.
O programa "Primeiro Relâmpago" foi entregue a dois notáveis da ciência soviética: Andrei Sakharov e Igor Kurchatov. O nome oficial do dispositivo era RDS-1. Foi detonado às 7 horas, no Casaquistão. A manhã que virou noite em 25 segundos deu início ao terror da corrida nuclear interminável. No local, a União Soviética faria perto de 500 testes atômicos até 1989. O índice de radiação em um círculo de 18 mil km² ainda hoje é considerado de alto risco.
No início dos anos 50, seria revelado que os soviéticos haviam recebido informações secretas repassadas por uma rede de espiões que agiam nos EUA — entre eles, vários cientistas.
Os governos ocidentais foram surpreendidos pelo teste. Um relatório conjunto da CIA e do MI-6 britânico sustentava que os soviéticos só teriam capacidade para construção de armas atômicas entre 1953 e 1954. O presidente dos EUA, Harry Truman, demorou 25 dias para anunciar que a Casa Branca dispunha de "fortes evidências da ocorrência de uma explosão nuclear" na URSS.
A primeira bomba soviética foi batizada como Joe 1, em uma citação irônica a Joseph Stalin, que governou a União Soviética por mais de 30 anos.