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Gigantes de chips para IA nos EUA protagonizam batalha com a China
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Gigantes de chips para IA nos EUA protagonizam batalha com a China

|MERCADO| As duas empresas desenvolveram chips menos potentes para o mercado chinês, a fim de contornar as restrições americanas impostas em 2022
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A gigante americana de microprocessadores Nvidia aceitou pagar ao governo dos Estados Unidos 15% de sua receita proveniente da venda de chips especializados em inteligência artificial (IA) para a China, confirmou nesta segunda-feira, 11, Donald Trump.

Segundo a imprensa americana, o mesmo acordo afeta a concorrente nacional AMD, outra gigante do setor que está no centro de uma disputa tecnológica entre Estados Unidos e China.

Os chips envolvidos são os modelos "H20" da Nvidia e "MI308" da AMD.

Sobre a Nvidia, "eu disse a eles (...), quero que paguem algo ao nosso país, porque estou concedendo uma isenção", declarou o presidente dos Estados Unidos a jornalistas na Casa Branca.

As duas empresas, sediadas na Califórnia, haviam desenvolvido esses chips avançados — embora menos potentes que seus modelos de ponta — especificamente para o mercado chinês, a fim de contornar as restrições americanas impostas desde 2022. No entanto, a exportação também havia sido suspensa.

Trata-se de um tipo de processador gráfico considerado essencial porque funciona como "acelerador" de IA, oferecendo potência de cálculo indispensável para executar tarefas complexas, explicou Dylan Loh, professor adjunto da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura.

"Evidentemente, é uma ferramenta-chave para atender à demanda insaciável de países e empresas que estão construindo suas ferramentas de IA", acrescentou Loh.

Inicialmente, a exportação desses chips sofisticados para a China estava sujeita a restrições dos Estados Unidos, sob a presidência de Joe Biden, por razões de segurança nacional. Posteriormente, Donald Trump adotou novas medidas restritivas, incluindo incentivos para a relocalização da produção.

Em abril passado, os dois fabricantes americanos de chips alertaram para as graves consequências financeiras dessas medidas. A Nvidia estimou em 5,5 bilhões de dólares (R$ 30 bilhões) o impacto dessas restrições sobre a empresa, enquanto a AMD previa que isso poderia reduzir seus resultados em cerca de 800 milhões de dólares (R$ 4,35 bilhões).

A Nvidia, assim como outras empresas americanas de chips, pressionou o governo americano para suspender essas restrições.

Essa iniciativa parece ter dado resultado, pois, em julho passado, a Nvidia anunciou ter obtido autorização de Washington para retomar a venda de seus chips H20 na China. Essa mudança de política "levantou questionamentos", afirmou Loh.

"Esses chips e muitos outros têm, por natureza, uso duplo, o que significa que podem ser utilizados (pelos chineses) para melhorar suas capacidades militares de várias maneiras", explicou.

Isso inclui o possível uso desses chips pelas próprias forças americanas em caso de conflito, destacou, por sua vez, Chong Ja Ian, professor associado da Universidade Nacional de Singapura.

Ao defender a mudança de política, o responsável pela área de IA do presidente Donald Trump, David Sacks, afirmou à CNBC que o H20 era um "chip obsoleto".

Ele também indicou que Washington revisou sua posição porque a rival chinesa da Nvidia, Huawei, estava fazendo "enormes avanços" e poderia ameaçar o domínio da Nvidia no mercado.

O acordo sobre a transferência de lucros é "sem precedentes", declarou, contudo, Chong.

Mesmo assim, nem todos os obstáculos desapareceram para os fabricantes americanos do setor: legisladores dos Estados Unidos propuseram obrigar a Nvidia e outros fabricantes de chips especializados em IA avançada a incluir recursos de geolocalização em seus produtos.

Por sua vez, Donald Trump exigiu a renúncia "imediata" do novo diretor da Intel, outro fabricante americano de chips, depois que um senador republicano manifestou preocupações sobre segurança nacional devido a seus vínculos com empresas na China.

Enquanto isso, a China tem buscado aumentar a autossuficiência na área de chips. A própria Nvidia enfrenta crescente desconfiança no gigante asiático, já que a mídia estatal classificou no domingo os chips H20 como "inseguros".

"A decisão do governo americano de permitir que a Nvidia exporte seu chip H20 para a China inevitavelmente gera preocupações", informou o Yuyuan Tantian, uma conta de rede social afiliada à televisão estatal CCTV.

"Não é um chip seguro para a China, não é avançado e não é ambientalmente correto", acrescentou essa mesma fonte em um artigo na plataforma WeChat.

Em julho, o principal órgão regulador da internet de Pequim convocou representantes da Nvidia para pedir explicações sobre o que considerava "graves problemas de segurança" relacionados aos chips H20.

A gigante americana assegurou de imediato que seus chips não continham nenhuma suposta "porta dos fundos" que permitisse controlá-los remotamente. (AFP)

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