Logo O POVO+
Polícia descarta participação de vereador em homicídio, mas aponta Indícios de compra de votos
Politica

Polícia descarta participação de vereador em homicídio, mas aponta Indícios de compra de votos

|Alto Santo| Vereador estava sendo investigado por homicídio que aconteceu no dia da eleição do ano passado
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Francisco Bezerra Barreto apareceu na urna como
Foto: Reprodução/Instagram Francisco Bezerra Barreto apareceu na urna como "Ivanilson do Batoque" e foi eleito vereador em Alto Santo com 542 votos

Um relatório de análise complementar de dados telemáticos da Polícia Civil do Ceará, concluído neste mês, afastou a participação do vereador eleito de Alto Santo, Francisco Bezerra Barreto, conhecido popularmente como Ivanilson do Batoque (PL), em um inquérito policial que investiga um crime de homicídio.

No entanto, a análise do conteúdo extraído dos aparelhos celulares do parlamentar, realizada pela Delegacia Municipal de Alto Santo, apontou "fortes indícios da prática de crimes eleitorais", especificamente o crime de compra de votos.

O vereador Francisco Bezerra Barreto estava sendo investigado no Inquérito Policial 408–84/2024, instaurado para apurar o homicídio que vitimou José Eudismar Moreira Pinto, ocorrido no dia da eleição municipal do ano passado.

Ausência de vínculo com homicídio

O relatório da Delegacia Geral de Polícia Civil, que analisou o conteúdo de dois celulares do vereador, esclareceu que "não foi possível colher indícios que revelem a participação do investigado no referido crime de homicídio". Em relação a um dos aparelhos (Redmi), a polícia não vislumbrou "nenhum elemento de informação que pudesse constituir o cometimento de algum crime".

Em um celular da marca Samsung, apesar do grande volume de dados extraídos - incluindo 4.891 conversas, 11.976 áudios e 175.000 imagens -, a equipe de investigadores não encontrou áudios relacionados ao caso de homicídio.

Suspeita de compra de votos

Apesar da ausência de ligação com o assassinato, a análise dos dados do celular Samsung M12 revelou uma série de arquivos em áudio que evidenciam o possível crime de "compra de voto", tipificado no artigo 299 do Código Penal.

As transcrições dos áudios mostram o vereador, identificado como "Francisco" em alguns bate-papos, engajado em negociações para adquirir apoio eleitoral em troca de dinheiro, bens ou vantagens.

Entre os principais indícios de crimes eleitorais revelados pelas transcrições:

  • Negociação de bens por votos: em um áudio datado de 24/09/2024, Ivanilson do Batoque instrui um contato a dar "cinco sacos de cimento" a um eleitor e sua mulher, dizendo que o voto deles "é só isso aí". Ele também menciona um amigo do eleitor que receberia "um pneu de mota e são cem reais";
  • Controle de pagamentos: o vereador demonstra preocupação com a eficácia dos pagamentos, mencionando um caso anterior frustrante: "Se sair igual na Pesqueira, que eu dei quatro mil reais ao cara, apareceu nove voto";
  • Estratégia de pagamento tardia: em 06/09/2024, ele expressa cautela ao dar dinheiro antecipadamente: "se der dinheiro antes da eleição, é mesmo que jogar no mato, eles não votam não, macho. O dinheiro pra dá a esse pessoal aí, tem que ser um dia antes". Ele também sugere que o foco deve ser a "compra de voto";
  • Esforços de captação e gastos elevados: em um áudio, ele detalha o alto investimento: "Eu já gastei trinta mil reais, só dentro do Tibolo e o Jardim. Tudo segurando, voto e tudo...". Ele também planejava gastar quantias substanciais nos dias que antecediam o pleito: "do dia vinte e cinco, dez mil, no dia trinta, dez mil, e no dia, dez mil no dia da eleição";
  • Recebimento de bens de opositores: em 03/09/2024, o vereador relata ter instruído um eleitor a receber "dois milheiros de tijolo" de um candidato adversário, mas a votar nele (Ivanilson), confiando na sua palavra;
  • Cautela contra fiscalização: em uma conversa de WhatsApp com o contato "Hermoge Cimento", o vereador pede para cancelar uma entrega de cimento porque "os homi tão apertando aí" (possível referência à polícia ou fiscalização), sugerindo que a entrega fosse feita "depois da eleição" para evitar o risco de o carro ser pego com o material. Ele também se recusa a fazer transferências via pix por ser candidato, alegando que uma transação poderia "me lasca[r]".

Encaminhamento ao MP

Diante dos fortes indícios de crimes eleitorais, a Polícia Civil, por meio do delegado Wagner Luiz de Lima, encaminhou o relatório de extração ao promotor de Justiça da comarca de Alto Santo-CE, para conhecimento e para a adoção das "medidas que a Vossa Excelência entender cabíveis".

O POVO procurou o vereador por meio de mensagem enviada em perfil de uma rede social para solicitar um posicionamento do parlamentar sobre o caso. A reportagem também tentou ligar para a Câmara Municipal de Alto Santo, por meio de número disponibilizado no site da instituição.

Apesar das tentativas de contato, não houve retorno até a publicação deste material. O espaço continua aberto para manifestação e será atualizado caso haja devolutiva.

O que você achou desse conteúdo?