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Trump dá ultimato para Hamas responder a seu plano de paz em Gaza
Politica

Trump dá ultimato para Hamas responder a seu plano de paz em Gaza

Países árabes,muçulmanos e europeus elogiaram os esforços e expressaram esperança. Presidente dos EUA deu prazo de três a quatro dias para o Hamas responder,o que sinaliza uma definição nesta semana. Enquanto as negociações ocorrem, os bombardeios aéreos israelenses prosseguiram na terça-feira em Gaza
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Pessoas passam por prédios danificados em uma rua em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 30 de setembro de 2025 (Foto: Omar AL-QATTAA / AFP)
Foto: Omar AL-QATTAA / AFP Pessoas passam por prédios danificados em uma rua em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 30 de setembro de 2025

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu nesta terça-feira, 30, um ultimato para o movimento palestino Hamas de "três a quatro dias" para responder à sua proposta de paz em Gaza, que já recebeu o aval de Israel.

O plano prevê um cessar-fogo, a libertação dos reféns israelenses em um prazo de 72 horas, o desarmamento do Hamas e uma retirada gradual das forças israelenses da Faixa de Gaza.

Além disso, segundo o plano, Trump vai coordenar uma autoridade de transição, que contará com a presença, entre outros, do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Os países árabes e muçulmanos, incluindo os mediadores Egito e Catar, saudaram os "esforços sinceros" para alcançar a paz após quase dois anos de uma guerra devastadora.

Mas o Hamas ainda precisa dar sua resposta. "Vamos dar a eles cerca de três ou quatro dias", disse Trump aos jornalistas quando questionado sobre os prazos.

O magnata republicano avisou pouco depois que, se o Hamas não aceitar sua proposta, "pagará com o inferno".

Trump anunciou o plano na segunda-feira na Casa Branca, depois de se encontrar com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

O Hamas, que governa Gaza desde 2007, já está avaliando o plano americano de 20 pontos, informou uma fonte palestina sob condição de anonimato.

O Catar indicou que o Hamas está examinando "de maneira responsável" e anunciou uma reunião à noite com o movimento palestino na presença da Turquia.

Depois da entrevista coletiva de segunda-feira com Trump, Netanyahu disse que o Exército israelense continuará presente na maior parte de Gaza e insistiu que não aceitou a criação de um Estado palestino em suas conversas com o presidente americano.

O ministro israelense das Finanças, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, criticou o plano, que chamou de "estrondoso fracasso diplomático". Segundo ele, o plano significa "fechar os olhos e dar as costas às lições de 7 de outubro de 2023", data do ataque violento do Hamas contra Israel, que desencadeou o conflito.

O plano de Trump contempla o envio de uma "força internacional temporária de estabilização", além da autoridade de transição, que contará com as presenças do próprio republicano e Blair. O movimento islamista seria excluído de um futuro governo em Gaza.

Netanyahu declarou apoio ao plano "para pôr fim à guerra em Gaza", que segundo ele "alcança nossos objetivos bélicos".

Contudo, ele advertiu que, se o Hamas tentar sabotá-lo, "Israel terminará o trabalho (de eliminar o Hamas) por conta própria". Trump garantiu seu "apoio total" a Israel para seguir com seu objetivo se o Hamas rejeitar o plano.

Além dos países árabes e muçulmanos, o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Espanha e a Itália elogiaram a iniciativa e manifestaram esperança de entendimento. A Rússia também expressou seu apoio.

O secretário geral da ONU, Antonio Guterres, chamou "todas as partes a se comprometerem com o plano de paz".

Em Gaza, no entanto, predomina o ceticismo. "Está claro que este plano não é realista", comentou Ibrahim Joudeh, 39 anos, em um abrigo na denominada zona humanitária de Al Mawasi, no sul de Gaza.

"Está redigido com condições que Estados Unidos e Israel sabem que o Hamas nunca aceitará. Para nós, isso significa que a guerra e o sofrimento vão continuar", acrescentou o programador de informática.

Os bombardeios aéreos israelenses prosseguiram nesta terça-feira em Gaza, segundo a Defesa Civil local e testemunhas.

O Exército israelense confirmou que suas forças executam operações no território, em particular na Cidade de Gaza, a maior do território, onde efetua uma ampla ofensiva.

A Autoridade Palestina, que governa na Cisjordânia e que poderia desempenhar um papel na administração de Gaza após a guerra, celebrou os "esforços sinceros e determinados" de Trump.

A guerra em Gaza foi desencadeada pelo ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, que matou 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo números oficiais israelenses.

A ofensiva israelense, que devastou grande parte de Gaza, matou mais de 66.097 palestinos, a maioria civis, segundo os números do Ministério da Saúde do território, que a ONU considera confiáveis. (AFP)

Os 20 pontos do plano de Trump para a paz em Gaza

1. Gaza será uma zona livre de terrorismo e desradicalizada que não represente uma ameaça para seus vizinhos.

2. Gaza será reconstruída em benefício de sua população, que já sofreu mais que o suficiente.

3. Se ambas as partes concordarem com esta proposta, a guerra terminará imediatamente. As forças israelenses se retirarão para a linha acordada a fim de preparar a libertação dos reféns. Durante esse tempo, todas as operações militares serão suspensas e as linhas de batalha permanecerão congeladas até que se cumpram as condições para a retirada completa e gradual.

4. Dentro das 72 horas seguintes à aceitação pública deste acordo por parte de Israel, todos os reféns, vivos e mortos, serão devolvidos.

5. Uma vez entregues todos os reféns, Israel libertará 250 prisioneiros condenados à prisão perpétua e 1.700 habitantes de Gaza detidos após 7 de outubro de 2023, incluindo todas as mulheres e crianças detidas nesse contexto. Para cada refém israelense cujos restos mortais sejam devolvidos, Israel entregará os restos mortais de 15 habitantes de Gaza falecidos.

6. Uma vez que todos os reféns sejam devolvidos, os membros do Hamas que se comprometerem com a coexistência pacífica e entregarem suas armas obterão anistia. Os membros do Hamas que desejarem sair de Gaza receberão passagem segura para os países receptores.

7. Após a aceitação deste acordo, toda a assistência será imediatamente enviada para a Faixa de Gaza. A quantidade será, no mínimo, a estabelecida no acordo de 19 de janeiro de 2025 sobre ajuda humanitária, incluindo a reabilitação de infraestruturas, hospitais e a entrada do equipamento necessário para remover escombros e abrir estradas.

8. A entrada e distribuição da ajuda na Faixa de Gaza será realizada sem interferência através das Nações Unidas e suas agências, do Crescente Vermelho e de outras instituições internacionais não associadas a nenhuma das partes.

9. Gaza será governada por um comitê palestino tecnocrático e apolítico, responsável pela gestão diária dos serviços públicos e municipalidades para a população de Gaza. Este comitê será integrado por palestinos qualificados e especialistas internacionais, sob a supervisão de um novo organismo internacional de transição, a "Junta da Paz", presidida pelo mandatário Donald Trump, cujos membros e chefes de Estado serão anunciados em breve, incluindo o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Esse organismo estabelecerá o marco e gerenciará o financiamento para a reurbanização de Gaza até que a Autoridade Palestina complete seu programa de reformas.

10. Será criado um plano de desenvolvimento econômico de Trump para reconstruir e revitalizar Gaza mediante a convocação de um painel de especialistas que contribuíram para o nascimento de algumas das prósperas cidades modernas do Oriente Médio.

11. Será estabelecida uma zona econômica especial com tarifas preferenciais e taxas de acesso que serão negociadas com os
países participantes.

12. Ninguém será obrigado a deixar Gaza, e aqueles que desejarem sair serão livres para fazê-lo e para regressar.

13. O Hamas e outras facções concordam em não participar da governança de Gaza, nem direta nem indiretamente, de nenhuma forma. Toda a infraestrutura militar, terrorista e ofensiva, incluindo túneis e instalações de produção de armas, será destruída e não será reconstruída. Um processo de desmilitarização de Gaza será realizado sob a supervisão de observadores independentes.

14. Os parceiros regionais garantirão que o Hamas e as facções cumpram com suas obrigações e que a Nova Gaza não represente uma ameaça para seus vizinhos nem para sua população.

15. Os Estados Unidos colaborarão com parceiros árabes e internacionais para desenvolver uma Força Internacional de Estabilização temporária que será imediatamente destacada em Gaza. Esta capacitará e dará apoio às forças policiais palestinas credenciadas em Gaza. Além disso, manterá consultas com a Jordânia e o Egito, que contam com ampla experiência nesse âmbito, e colaborará com Israel e Egito para ajudar a assegurar as zonas fronteiriças.

16. Israel não ocupará nem anexará Gaza. À medida que a Força Internacional de Estabilização estabelecer o controle e a estabilidade, as Forças de Defesa de Israel (FDI) se retirarão segundo os padrões, marcos e prazos vinculados à desmilitarização que serão acordados entre ambas as partes, os garantes e os Estados Unidos.

17. Caso o Hamas atrase ou rejeite esta proposta, o anterior, incluindo a intensificação da operação de ajuda, será levado a cabo nas zonas livres de terrorismo cedidas pelas FDI à Força de Estabilização.

18. Será estabelecido um processo de diálogo inter-religioso baseado nos valores da tolerância e da coexistência pacífica para tentar mudar a mentalidade e as narrativas de palestinos e israelenses, enfatizando os benefícios que podem advir da paz.

19. À medida que avance a reurbanização de Gaza e se implemente fielmente o programa de reforma da Autoridade Palestina, poderiam finalmente ser criadas as condições para um caminho credível em direção à autodeterminação e à criação de um Estado palestino.

20. Os Estados Unidos estabelecerão um diálogo entre Israel e os palestinos para acordar um horizonte político para uma coexistência pacífica e próspera.

Trump pede mais gastos militares e cobra Nobel

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursou nesta terça-feira, 30, para funcionários do Departamento de Guerra e enfatizou a necessidade de ampliar a produção militar ao afirmar que é preciso "fazer equipamentos militares mais rapidamente. Já fazemos os melhores do mundo, mas precisamos fazer mais rápido".

O presidente projetou expansão dos gastos militares. "Me comprometi a gastar mais de US$ 1 trilhão com as forças armadas no ano que vem". O republicano também celebrou os efeitos de sua política comercial, afirmando que "estamos ricos de novo por conta das tarifas".

Trump prometeu ainda que "ressuscitará o espírito guerreiro" das Forças Armadas, que "venceu e construiu esta nação".

"Juntos, nos próximos anos, transformaremos as nossas Forças Armadas em algo mais forte, mais resistente e mais rápido", disse Trump a generais e almirantes americanos em uma rara reunião em Quantico, Virgínia. 

Pouco antes, o chefe do Pentágono, Pete Hegseth, afirmou na mesma reunião que as Forças Armadas dos EUA precisam ser reformadas para encerrar "décadas de decadência", que, segundo ele, foram causadas por políticas de diversidade. 

Nessa reunião incomum com comandantes de alto escalão, convocados de bases ao redor do mundo inteiro, Hegseth declarou o fim do "lixo ideológico", citando como exemplos preocupações com a mudança climática, bullying, líderes "tóxicos" e promoções com base em raça ou gênero.

A nova "mentalidade guerreira", nas palavras de Hegseth, significa que as Forças Armadas voltarão a usar padrões de recrutamento e treinamento baseados na capacidade masculina em termos de resistência física. 

Em meio ao tom bélico, o presidente americano considerou que seria um "insulto" aos Estados Unidos se ele não recebesse o Prêmio Nobel da Paz por seu suposto papel na resolução de diversas guerras.

"Você receberá o Prêmio Nobel?", perguntou Trump a si mesmo, e então respondeu: "De jeito nenhum. Eles o darão a um sujeito que não fez absolutamente nada". Mas não receber o prêmio "seria um grande insulto ao nosso país", acrescentou durante a reunião.

O Departamento da Defesa, geralmente imune à intervenção política direta, foi particularmente afetado pela chegada de Trump à Casa Branca em janeiro.

A presença de soldados nas ruas de várias cidades americanas, algo muito raro nos Estados Unidos, foi duramente criticada pela oposição democrata.

Além disso, os ataques letais efetuados no Caribe contra embarcações que supostamente transportavam drogas foram criticados no exterior. Trump também ordenou ataques contra instalações nucleares iranianas e contra os huthis, rebeldes iemenitas apoiados por Teerã.

Com a chegada do republicano à Casa Branca, o Pentágono também foi abalado e renomeado como Departamento de Guerra. Em maio, Hegseth ordenou cortes significativos no número de comandantes de alto escalão no Exército americano, incluindo um corte de pelo menos 20% no número de generais e almirantes de quatro estrelas em serviço. 

Não obstante, vários comandantes do Exército foram pressionados a deixar os cargos desde o retorno de Trump ao poder. O presidente demitiu em fevereiro, sem apresentar explicações, o comandante do Estado-Maior Charles Brown.

Também foram demitidos o chefe da Marinha e da Guarda Costeira dos EUA, o vice-chefe do Estado-Maior da Força Aérea e vários advogados militares de alta patente. (AFP com Agência Estado)

Netanyahu diz que não concordou com Estado palestino

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que não concordou com a criação de um Estado palestino na reunião de segunda-feira com o presidente americano, Donald Trump, na Casa Branca.

"De jeito nenhum, e não está escrito no acordo. Uma coisa ficou clara: nos oporemos com veemência a um Estado palestino", declarou Netanyahu em um vídeo publicado na madrugada de terça-feira em seu canal do Telegram.

O chefe de Governo de Israel também afirmou que o Exército permanecerá na maior parte de Gaza, depois de expressar apoio a um plano de paz para o território palestino apresentado pelo presidente americano.

"Nós vamos recuperar todos os nossos reféns, vivos e bem, enquanto (o Exército israelense) permanecerá na maior parte da Faixa de Gaza", disse.

O ministro israelense das Finanças, o político de extrema direita Bezalel Smotrich, afirmou que o plano do presidente dos Estados Unidos para acabar com a guerra em Gaza é "um fracasso diplomático estrondoso".

O ministro publicou na rede social X que o plano de 20 pontos é uma "mistura intragável (...) desatualizada" e que representa "um retorno à concepção de Oslo, um fracasso histórico da oportunidade mais legítima do mundo para finalmente libertar-se das correntes de Oslo, um fracasso diplomático retumbante".

O comentário fez referência ao Acordo de Oslo de 1993 entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina, com mediação da Noruega, que tentou alcançar a paz entre as duas partes com um reconhecimento mútuo, mas que não foi concretizado.

Smotrich acrescentou que o plano de Trump é "fechar os olhos e dar as costas às lições de 7 de outubro de 2023", data do ataque violento do movimento islamista Hamas contra Israel, que desencadeou a guerra. (AFP)

Igreja

O papa Leão XIV afirmou esperar que o Hamas aceite, dentro dos prazos estabelecidos, o plano de paz dos Estados Unidos para pôr fim ao conflito na Faixa de Gaza. "Há elementos muito interessantes" na proposta americana, disse o pontífice a jornalistas italianos ao sair de sua residência de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma. "É importante que haja um cessar-fogo e a libertação dos reféns", acrescentou

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