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Lula e Trump começam negociações com pedidos do brasileiro e acenos do americano
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Lula e Trump começam negociações com pedidos do brasileiro e acenos do americano

| DIPLOMACIA | Presidente brasileiro pediu retirada das sanções. Os dois países indicaram negociadores e os chefes de Estado combinaram de se encontrar pessoalmente
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Presidentes Luiz Inacio Lula da Silva, do Brasil, e Donald Trump, dos Estados Unidos (Foto: EVARISTO SA e SAUL LOEB / AFP)
Foto: EVARISTO SA e SAUL LOEB / AFP Presidentes Luiz Inacio Lula da Silva, do Brasil, e Donald Trump, dos Estados Unidos

Após meses de conflito e com sanções aplicadas ao Brasil e a autoridades do País pelos Estados Unidos, as negociações públicas deram os primeiros passos nessa segunda-feira, 6. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou por telefone com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A conversa de cerca de 30 minutos foi mantida em sigilo até que acontecesse. Ao final, o tom do encontro foi qualificado como amistosa. Os dois presidentes fizeram manifestações positivas sobre o momento.

"Relembramos a boa química que tivemos no encontro em Nova York por ocasião da Assembleia Geral da ONU", comentou o presidente brasileiro pelas redes sociais.

A jornalistas no Salão Oval, em Washington, Trump comentou: "Nos encontramos e gostamos um do outro... e tivemos uma boa conversa, vamos começar a fazer negócios". Ele não respondeu se irá reduzir as tarifas de importação impostas ao Brasil.

Trump elogiou Lula, a quem chamou de "uma boa pessoa", e recordou o primeiro encontro entre ambos. "Eu o conheci nas Nações Unidas, no dia em que o teleprompter falhou... foi um momento interessante", afirmou, em tom descontraído.

O presidente americano também confirmou que há planos de encontros presenciais entre os dois líderes. "Em algum momento, Lula virá para os Estados Unidos, e eu irei ao Brasil", repetiu.

Na manhã dessa segunda-feira, 6. Lula pediu a retirada de sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras.

Na conversa pela manhã, ambos os presidentes relembraram a boa química que tiveram em Nova York, por ocasião da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), há duas semanas.

O governo brasileiro descreveu o contato como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente e recordou que o Brasil é um dos três países do G20 com quem os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços.

"O presidente Lula descreveu o contato como uma oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente", afirmou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil (Secom) em nota.

O presidente Trump designou o secretário de Estado Marco Rubio para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler brasileiro, Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Ambos os líderes acordaram encontrar-se pessoalmente em breve. O presidente Lula aventou a possibilidade da reunião ocorrer na Cúpula da Asean, na Malásia e reiterou convite a Trump para participar da COP30, em Belém (PA). Lula também se dispôs a viajar aos Estados Unidos para um encontro pessoalmente.

Os dois presidentes trocaram telefones para estabelecer via direta de comunicação, informou o governo brasileiro. A conversa foi acompanhada pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin; pelos ministros Mauro Vieira, Fernando Haddad, Sidônio Palmeira e pelo assessor especial Celso Amorim.

Desde 6 de agosto, parte importante das exportações brasileiras para os Estados Unidos é objeto de uma tarifa total de 50%, em represália a uma suposta "caça às bruxas" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Trump.

Além disso, os Estados Unidos impuseram sanções consulares e financeiras a altos funcionários, em especial o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do julgamento contra Bolsonaro, condenado no mês passado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. 

Esta é a primeira vez que Lula e Trump conversam após o retorno do republicano ao poder, em janeiro, e especialmente depois da crise diplomática e comercial desencadeada pela imposição do tarifaço aos produtos brasileiros.

Uma primeira aproximação ocorreu há duas semanas, quando Trump mencionou a "excelente química" entre os dois durante uma conversa à margem da Assembleia Geral da ONU.

No entanto, os Estados Unidos mantiveram a pressão sobre o Brasil nas últimas semanas, com as sanções consulares e financeiras a autoridades.

No dia seguinte ao breve encontro com Trump, Lula expressou otimismo quanto à resolução da crise bilateral. "Na hora que a gente tiver o encontro, eu acho que tudo isso ficará resolvido. E o Brasil e os Estados Unidos voltarão a viver em harmonia", declarou Lula em entrevista coletiva.

As tarifas punitivas de 50% impostas pelos Estados Unidos impactam severamente produtos dos quais o Brasil é o maior produtor e exportador mundial, como café e carne. O governo Lula quer adicionar produtos à lista de isenções, como suco de laranja e aviões.

"O governo brasileiro tem tido dificuldade em encontrar canais de diálogo com o governo americano", disse um diplomata europeu sob condição de anonimato.

"Mais do que diplomatas, foram grandes empresas brasileiras como a Embraer [terceira maior fabricante de aeronaves do mundo] e a JBS [maior produtora de carne do mundo] que pressionaram as autoridades americanas a mudar sua postura em relação ao Brasil", acrescentou. (Com AFP e Agência Estado)

Alckmin diz que reunião foi melhor do que o esperado

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nessa segunda-feira, 6, que o governo está "otimista" após a reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

"Foi muito boa a conversa, melhor do que nós esperávamos. Então, estamos muito otimistas aí que a gente vai avançar. O presidente Lula destacou a disposição do Brasil para o diálogo e para a negociação", afirmou Alckmin.

Para ele, o diálogo renderá desdobramentos. Em relação às tarifas impostas pelo governo americano sobre as exportações de produtos brasileiros, Alckmin entende que a conversa renderá próximos passos, mas disse que é necessário "aguardar".

Na conversa, segundo Alckmin, Lula disse que as sanções contra autoridades brasileiras são equivocadas e defendeu que passem por avaliação. "O presidente Lula colocou que as sanções aos ministros não são justas e que isso também deveria ser rediscutido", afirmou o vice-presidente.

"Nós somos muito otimistas que vamos avançar para o ganha-ganha, nessa relação com investimentos recíprocos e equacionamento da questão tarifária", acrescentou.

Alckmin disse que não está agendada uma nova reunião entre os representantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos. (Agência Estado e Agência Brasil)

Moraes e Bolsonaro não são citados em conversa de presidentes

Após idas e vindas, finalmente o telefone de Lula tocou. Do outro lado, o interlocutor era Donald Trump. A sobretaxa de 40% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros foi o centro da conversa, mas o diálogo também funcionou como uma pré-agenda entre os dois: Lula e Trump acertaram um encontro presencial em breve, que pode ocorrer na Malásia, durante a Cúpula da Asean, no Brasil, durante a Conferência sobre o Clima COP-30 ou nos Estados Unidos.

Trump lembrou o abraço entre os dois durante a Assembleia Geral da ONU e citou a química entre os dois. Lula sorriu e concordou. Depois disso, negócios. Lula pediu a retirada do tarifaço americano sobre produtos brasileiros e, sem citar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, solicitou o fim das sanções a autoridades brasileiras.

Trump não se comprometeu, mas elegeu um responsável pela negociação: o secretário de Estado Marco Rubio. Pelo Brasil, quem vai negociar são o vice-presidente, Geraldo Alckmin, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o chanceler Mauro Vieira.

A conversa também ganhou desdobramentos nas redes sociais com postagens feitas pelos dois presidentes. Lula tuitou lembrando o encontro em Nova York, durante a Assembleia Geral da ONU, quando os dois tiveram boa química. Lula também disse que convidou Trump para a COP-30. Já Trump confirmou o encontro breve e previu boas relações entre Brasil e Estados Unidos daqui para frente. (João Paulo Biage)

Presidente dos EUA diz que gostou de ligação com Lula e prevê reunião

Por meio da própria rede social Truth Social, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou ter tido uma "ótima conversa" com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na manhã de segunda-feira, 6.

Trump afirmou que o foco da conversa foi a economia e o comércio entre os dois países e disse que ambos "se darão muito bem".

"Esta manhã, tive uma ótima conversa telefônica com o Presidente Lula, do Brasil. Discutimos muitos assuntos, mas o foco principal foi a economia e o comércio entre nossos dois países", publicou Trump.

"Teremos novas discussões e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei da conversa — nossos países se darão muito bem juntos!", completou o governante americano.

A ligação telefônica ocorreu por iniciativa de Trump. Os dois presidentes chegaram a trocar números de telefones para estabelecer uma via direta de comunicação. (Marcelo Bloc, com Agência Brasil)

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