O anúncio da filiação do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, ao PSDB, na próxima quarta-feira, 22, balançou as estruturas da política cearense. Embora já fosse esperada, a movimentação sinalizou um primeiro passo rumo a uma possível candidatura de Ciro ao Palácio da Abolição em 2026.
Membros da base do governador Elmano de Freitas (PT), pré-candidato à reeleição, repercutiram a iminente filiação de Ciro ao partido pelo qual foi eleito governador, em 1990. Para petistas, o movimento é encarado com naturalidade, dado o cenário político do PDT - partido ao qual Ciro foi filiado por dez anos - e não tem efeito prático algum na articulação da base do governador.
O deputado estadual De Assis Diniz (PT) vê o anúncio como a concretização da aproximação de Ciro com ex-opositores. Ele critica o movimento, embora o considere "natural". "Cabe a oposição trabalhar, buscar viabilizar, se aliar com tudo que possa, no passado, ter sido elemento de críticas, aliás, de divergências profundas. E que hoje estão dentro de um mesmo cenário: um péssimo exemplo para o mundo da democracia. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é, como diz o poeta", disse ao O POVO.
Sobre os efeitos na estratégia da base aliada para 2026, De Assis minimizou a questão, alegando que o governo não cairá em "armadilhas" e que em uma disputa não se pode escolher adversário.
"Não altera em nada, o governador Elmano continua trabalhando e precisa ter foco para continuar suas entregas. Quem quer ganhar não pode cair na armadilha de antecipar a eleição, nem de ficar fazendo palanque. Muito pelo contrário, precisa trabalhar, governar e mostrar sua capacidade dentro do programa de governo. Trabalhar e trabalhar. Não muda muita coisa não".
O parlamentar reforçou: "É bom que venham. Venham! Quem quer ganhar não escolhe opositor, não. É trabalhar e quando chegar (o período) as eleições, lá para o final de maio ou início de junho, se discutirá a montagem do palanque e aí vamos disputar", finalizou.
O vereador de Fortaleza, Aglaylson (PT), tratou a filiação como algo esperado, mas recomendou cautela sobre Ciro ser candidato em 2026. Além disso, o petista criticou eventual formação de aliança com o PL e com figuras ligadas ao bolsonarismo; lembrando do motim da Polícia Militar no Ceará, em 2020, que culminou num episódio de tiros contra o senador Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, em Sobral.
"Sobre a pré-candidatura dele, só o tempo irá dizer. Eu ainda duvido que ele seja candidato em 2026, isso é uma opinião minha. Até porque se for só com o PSDB, ele vai sair com uma candidatura muito isolada, não terá apoio, tempo de TV, estrutura, etc. E se for com o apoio do PL, aí se torna uma contradição ainda maior. Vale lembrar que no motim dos PMs, o irmão dele, o senador Cid, foi vítima de uma tentativa de assassinato; então, sendo assim, ele estaria com a mesma turma que tentou matar o irmão dele", argumentou.
E prosseguiu: "Era esperado que ele saísse do PDT. Isso não é novo. O PDT faz parte da base do presidente Lula, da base do prefeito Evandro leitão, em Fortaleza, e na Assembleia há uma aproximação. Não tinha outra opção para o Ciro. Tinha o União Brasil ou PSDB. Como a Federação União e PP tem diálogo em andamento com o governo, restou a ele o PSDB", analisa.
Independentemente do adversário, Aglaylson crê que a gestão Elmano tem plena capacidade de superar a oposição nas urnas. "O governador tem boa análise, a população apoia o governo, que tem um leque de alianças e líderes fortes. Não estamos preocupados com quem será o adversário, vamos colocar para a população escolher qual o projeto ela quer, se é esse que está e que faz entregas, melhora emprego, garante renda ou se um retrocesso.
Questionado sobre como enxerga o papel de Cid Gomes na articulação governista, após o anúncio da filiação de Ciro a um partido opositor, o vereador sinalizou não ver problemas.
"O senador Cid tem dito que caminha de maneira oposta ao Ciro, todos os movimentos e declarações dele sinalizam que ele faz parte desse projeto governista. Até porque é uma continuidade do próprio governo Cid, que passou pelo então governador Camilo Santana e agora está com Elmano. Então é uma continuidade, não tem porque o Cid se aliar com a turma do Bolsonaro", finaliza.