Um dia após a cerimônia que marcou o retorno de Ciro Gomes ao PSDB — evento que reuniu praticamente toda a oposição no Ceará —, o tema dominou os debates na Assembleia Legislativa (Alece) nesta quinta-feira, 23. A repercussão da filiação do ex-ministro provocou discursos inflamados, troca de acusações e até a interrupção momentânea da sessão plenária.
Durante boa parte da manhã, governistas e oposição se revezaram na tribuna em falas centradas no ex-governador. Houve confrontos verbais, defesas apaixonadas e metáforas inusitadas, refletindo o novo rearranjo político no Estado.
O primeiro a citar Ciro na tribuna foi Léo Suricate (Psol), que criticou nomes apontados como pré-candidatos ao Senado, inclusive alguns da base, como Júnior Mano (PSB) e José Guimarães (PT). A fala gerou o primeiro bate-boca da sessão, envolvendo De Assis Diniz (PT), Lucinildo Frota (PDT) e Cláudio Pinho (PDT), o que levou à suspensão temporária dos trabalhos.
Após a retomada, De Assis Diniz fez duros ataques ao ex-ministro. O petista acusou Ciro Gomes de ter tido apenas "três empregos nas últimas três décadas, todos fracassados".
O parlamentar questionou ainda as fontes de renda de Ciro, disse que o ex-governador traiu diversos aliados ao longo dos anos e afirmou que fará o mesmo com os atuais parceiros da oposição. Ele também lembrou críticas anteriores de Ciro a André Fernandes (PL) e Capitão Wagner (União Brasil).
“Ontem ele (André Fernandes) foi ungido pelo Espírito Santo e foi perdoado, chamado de ‘jovem talento’. A Bíblia diz que ‘a montanha pariu um rato’ e esse rato é Ciro Gomes. Já traiu a todos e vai trair inclusive esses que agora se juntam”, disparou.
Em coletiva, Diniz disse ainda que todo o rancor que Ciro tem contra o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), “não passa de inveja pelo crescimento e a popularidade” do petista.
Ele também defendeu a indicação da ex-primeira-dama Onélia Santana ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), lembrando que Ciro não questionou a nomeação da então esposa, Patrícia Saboya, ao mesmo cargo. “Nada contra Patrícia, que é uma espetacular conselheira, mas é que temos que ter coerência”, explicou.
Na sequência, em Plenário, o deputado Missias Dias (PT) destacou a importância de manter o debate político em nível elevado. “A gente pode discordar, mas não podemos partir para a baixaria. Eu assisti atento ao discurso de ontem do Ciro. Esperava que Ciro falasse de projeto (…) O povo já viu que não se vence eleição na arrogância, com ataques, com fakes news. Queremos debater projeto”, afirmou.
Oposição reage e defende Ciro
O pedetista Cláudio Pinho também subiu à tribuna, mas para defender Ciro e ironizar os governistas que o chamaram de “defunto político” em atividade. “Um defunto não pode estar pautando o Legislativo, Executivo e a imprensa. Onde o povo vê o desespero por parte dos governistas, vê a esperança por parte do povo do Ceará”, afirmou.
Pinho repetiu o discurso de Ciro ao lembrar José Alencar (PL), como vice de Lula (PT) no início do século, para defender a aliança com o partido no Ceará. Ele também lembrou ataques antigos feitos ao presidente pelo hoje secretário da Casa Civil, Chagas Vieira, a quem chamou de “guru do governo”.
"Para eles só presta se estiver do lado dele. Quando está ao lado do PT, qualquer um vira a melhor pessoa do mundo", ironizou, antes de pedir desculpas ao colega De Assis pelos ânimos acirrados minutos antes.
Em apartes, outros deputados da oposição fizeram coro. Queiroz Filho (PDT) afirmou: "O que nos une, com todas as divergências que o Ciro falou ontem, é o enfrentamento ao crime que está infelizmente dominando quase todos os setores do Ceará". O parlamentar disse ainda ver “apatia” do governo estadual no combate à violência.
Já a deputada Dra. Silvana (PL) afirmou que o “grande Ciro chegou para colocar ordem na Casa” e que “Apanhar de Ciro, dói. E tome peia!”, bradou. Em momentos distintos, Antônio Henrique (PDT), Pedro Matos (Avante) e Lucinildo Frota (PDT) também saíram em defesa de Ciro Gomes e da aliança formada pela oposição.
Líder do governo Elmano, o deputado Guilherme Sampaio (PT) usou uma analogia inusitada para definir a união de Ciro e Tasso Jereissati com o bloco bolsonarista no Estado. “Tivemos ontem o noivado do Frankenstein com a Mula sem Cabeça, a união do rancor com o ressentimento, o ódio contra o interesse do povo cearense”, destacou.
Sampaio também criticou as falas de Ciro contra o PSB, partido da base aliada liderado pelo ex-governador Cid Gomes e presidido por Eudoro Santana, pai do ministro Camilo.
“Qual a moral que Ciro tem para atacar as pessoas? Quando ele ataca o PSB, um partido da base aliada, progressista, ele ataca o próprio irmão Cid. Atacar um senhor de 88 anos, como Eudoro Santana? Eu só tenho a lamentar as falas de Ciro, que há muitos anos não passa de um desocupado. Ciro, na verdade, é ex-quase tudo e futuro quase nada”, ironizou.
Em aparte, Agenor Neto (MDB) lembrou que fazia oposição a Camilo Santana e que o próprio Ciro o convenceu a apoiá-lo. “Sabe quem me convenceu que o melhor nome era Camilo? Quem me mostrou a força e a competência do Camilo? Foi exatamente Ciro Gomes”, declarou.