O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira, 27, em entrevista coletiva em Kuala Lumpur, que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) "faz parte do passado da política brasileira".A declaração foi dada ao comentar a conversa que teve com o presidente Donald Trump, no sábado, 25, na capital da Malásia.
Questionado se a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro foi tratada na reunião já que foi um dos argumentos usados pelo governo norte-americano para taxar o Brasil, Lula disse ter explicado a Trump que o julgamento de Bolsonaro foi sério e com provas contundentes.
Segundo Lula, o líder americano demonstrou compreender "a gravidade do que ocorreu no Brasil" e a seriedade do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente brasileiro disse ter detalhado a gravidade dos fatos atribuídos ao ex-presidente e demais condenados pelos atos do 8 de janeiro. “Eles foram julgados com o direito de defesa que eu não tive quando fui processado e, portanto, isso não está em discussão. E ele sabe que rei morto, rei posto. O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira”, afirmou.
Segundo Lula, qualquer discussão de natureza política será feita entre presidentes, aos negociadores caberão os temas de interesse das duas nações.
O presidente afirmou que, para Trump, o assunto é "página virada" e que as relações entre Brasil e Estados Unidos seguirão em novo patamar. "Com três reuniões que ele fizer comigo, vai perceber que o Bolsonaro era nada, praticamente", declarou.
Lula disse ainda que teve a “boa impressão” de que relação de afinidade entre Brasil e Estados Unidos será retomada e logo-logo não haverá problema entre os dois países. "Acho que está estabelecida a relação Brasil-Estados Unidos, quem imaginava que não ia ter, perdeu. Vai ter e vai ser uma relação produtiva para os dois países e para a democracia”, destacou o presidente.
Na conversa, Lula disse que expressou ao presidente norte-americano que as diferenças ideológicas entre eles devem ser superadas. “Agora não tem mais intermediários, é o presidente Lula com o presidente Trump. Gostemos ou não um do outro, nós temos que assumir a responsabilidade como chefes de Estado de saber que nossas ações têm que trazer benefício para o povo que nos elegeu”.
O julgamento de Bolsonaro foi usado como uma das justificativas para o aumento da taxação de produtos brasileiros. No texto, o presidente americano mencionou a situação judicial de Bolsonaro, classificada por Trump como perseguição. O presidente dos EUA também acusou o STF de censurar ilegalmente plataformas americanas que operam no Brasil. Na época, o mandatário norte-americano destacou ainda ordens emitidas pela Corte contra apoiadores de Bolsonaro que mantêm residência nos Estados Unidos.
Segundo o líder brasileiro, a possibilidade de um novo encontro entre ele e Trump não está descartada. “Ele me disse que está com vontade de ir ao Brasil, eu disse que estou à disposição para ir a Washington, porque se tem uma coisa que aprendi a fazer na vida foi negociação. Vamos à estaca zero e voltar para o seguinte: aonde queremos chegar? Se houver a disposição do presidente Trump, como ele disse que tem de fazer um bom acordo com o Brasil, temos toda a intenção de fazer um bom acordo, não haverá problema para a relação entre as duas maiores democracias do Ocidente”.
No domingo, durante o encontro com Trump, Lula também citou a Lei Magnitsky, utilizada pelos Estados Unidos para impor sanções a autoridades estrangeiras. Segundo o presidente, a aplicação em relação a ministros do Supremo Tribunal Federal é “injusta”, uma vez que “respeitou-se o devido processo legal e não houve nenhuma perseguição”.
Durante a reunião, Lula entregou por escrito a Donald Trump as reivindicações do Brasil. Ele citou a revogação do tarifaço e da punição a autoridades brasileiras, a tensão entre Estados Unidos e Venezuela e a guerra da Ucrânia. Lula disse ter deixado claro que a decisão de impor tarifas elevadas à exportação de produtos brasileiros foi tomada com base em informações equivocadas.
Com Agência Gov
Trump lembra reunião e deseja feliz aniversário para Lula
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou de "boa reunião" o encontro que teve com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no fim de semana. Nesta segunda-feira, 27, ele lembrou da conversa e descreveu Lula como "um sujeito muito vigoroso".
Segundo Trump, as negociações prosseguem. "Tivemos uma boa reunião. Vamos ver o que acontece. Não sei se algo vai acontecer, mas vamos ver. Eles gostariam de fechar um acordo. Vamos ver. No momento, eles estão pagando, acho, uma tarifa de 50%. Mas tivemos uma ótima reunião", disse o americano a bordo do Air Force One.
Trump aproveitou a fala e parabenizou Lula, que fez aniversário ontem. "E feliz aniversário. Quero desejar feliz aniversário ao presidente. Hoje é o aniversário dele, você sabia disso? Ele é um sujeito muito vigoroso, na verdade, e fiquei muito impressionado. Mas hoje é o aniversário dele, então feliz aniversário", afirmou.
O presidente americano se reuniu por alguns minutos nesta segunda-feria com o imperador Naruhito do Japão, em Tóquio. A agenda de terça-feira, 28, incluirá uma reunião com a nova primeira-ministra do país, Sanae Takaichi.
A questão comercial está no centro da viagem de Trump pela Ásia, em particular por seu encontro com Xi Jinping, com quem espera discutir as tarifas impostas à China. (Agência Brasil com AFP)
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