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Como a CIA opera na América Latina
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Como a CIA opera na América Latina

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, autorizou a CIA a realizar operações letais na Venezuela. A notícia foi divulgada pelo jornal The New York Times e confirmada em 15 de outubro pelo próprio Trump no Salão Oval, durante uma entrevista coletiva.

"Os Estados Unidos criaram uma rede de informações na América Latina a partir da Segunda Guerra Mundial com os OSS [sigla em inglês para Escritórios de Serviços Estratégicos], que mais tarde se transformaria na CIA", explica o historiador Lorenzo Delgado. Washington já tinha, na época, um vasto histórico de intervencionismo militar na América Latina. E continuaria depois, com a participação em vários golpes de Estado, como os citados por Maduro. A lista é longa.

"A primeira grande intervenção da CIA na América Latina foi na Guatemala contra o governo de Jacobo Arbenz [em 1954]", lembra Arturo López Zapico, professor de História Contemporânea.

Depois vieram a República Dominicana (1961), com a rebelião militar que pôs fim à ditadura de Rafael Trujillo, o golpe de Estado no Brasil contra João Goulart (1964) e, no Panamá, a invasão para capturar Manuel Noriega (1990). Há mais casos documentados, como os da Bolívia e da Argentina.

O caso do Chile é um dos mais citados "porque temos muitas fontes para seu estudo", explica López Zapico, que também lembra intervenções fracassadas como a invasão da Baía dos Porcos em Cuba, os planos para matar Fidel Castro e o apoio ao grupo paramilitar anticomunista Contras na Nicarágua.

"A CIA não é todo-poderosa, nem esse tipo de operação tem como objetivo gerar um caos total no país, mas sim buscar 'soluções' para substituir governos que não são, digamos, favoráveis aos Estados Unidos ou aos seus interesses", acrescenta o historiador.

Um dos exemplos desse vínculo foi a Operação Condor — uma campanha de repressão política e terror executada pelas ditaduras de direita da América Latina com o apoio americano. A operação envolveu operações de inteligência e assassinato de opositores políticos.

O pesquisador mexicano Carlos Pérez Ricart, do Centro de Investigação e Ensino Econômico, lembra que a CIA é um dos vários instrumentos da política externa dos Estados Unidos. "Neste momento, parece muito claro que seu objetivo é derrubar o governo de Nicolás Maduro, com ou sem razão", acrescenta.

Faria parte da estratégia americana associar Maduro ao narcotráfico. "Não é que não haja alguma verdade nisso, o regime tem zonas muito obscuras, mas essas são representações bastante vulgares de uma realidade muito mais complexa, como é o tráfico de drogas na região", afirma Ricart.

Para López Zapico, tanto no caso da Venezuela como em muitas das intervenções da CIA na América Latina, havia claros interesses econômicos por trás. Na Guatemala, a intervenção foi feita para "salvaguardar os interesses da United Fruit Company", aponta. No Chile, também estavam em jogo os investimentos da General Motors, que teve que deixar de operar com Salvador Allende.

No caso da Venezuela, sem dúvida, os interesses petrolíferos estão em jogo, avalia o especialista.

A única coisa que mudou foi a retórica e a forma de falar sobre o assunto, para um "intervencionismo muito mais claro" e sem rodeios, considera Pérez Ricart.

Por exemplo, antes do golpe de Estado no Chile, em 1973, o então secretário de Estado americano, Henry Kissinger (que receberia nesse mesmo ano o Prêmio Nobel da Paz pelo cessar-fogo na Guerra do Vietnã), garantiu a Augusto Pinochet o apoio dos Estados Unidos. No entanto, ele o advertiu que, em público, o então presidente, Richard Nixon, teria que expressar condenação ao golpe.

López Zapico atribui o estilo de Trump à falta de assessores tradicionais do presidente. "O que é novo é a falta de formalismo", concorda Pérez Ricart. "E reconhecer publicamente a participação da CIA na Venezuela também prejudica seus objetivos gerais", acredita. (DW)

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