Veja, abaixo, alguns dos momentos-chave da escalada militar dos Estados Unidos sob Trump na região.
Ao assumir a Casa Branca em janeiro de 2025, Donald Trump revoga a extensão do status de proteção de 600 mil imigrantes venezuelanos nos Estados Unidos, expondo-os ao risco de deportação. Seu secretário de Estado, Marco Rubio, afirma que a Venezuela é "governada por uma organização do narcotráfico".
Em julho, os EUA expedem nova licença autorizando a americana Chevron a extrair petróleo venezuelano após um acordo para troca de prisioneiros. No mesmo mês, Washington designa o "Cartel de los Soles", supostamente encabeçado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro e formado por militares associados ao narcotráfico, como uma organização terrorista estrangeira.
Em agosto, Washington anuncia um prêmio de 50 milhões de dólares por informações que levem à prisão ou condenação de Maduro por "violar leis antinarcóticos" e liderar um "Estado narcoterrorista" vinculado a cartéis de cocaína.
Também em agosto, jornais americanos noticiam que Trump assinou uma ordem secreta autorizando o Pentágono a usar força militar contra cartéis de drogas enquadrados como organizações terroristas.
Em 12 de agosto, o regime de Maduro prende 13 supostos integrantes de "células terroristas" ligadas à oposição e as acusa de planejar um atentado na capital, Caracas. Eles acabariam sendo soltos cerca de duas semanas depois. Antes disso, em 13 de agosto, a procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, anuncia o congelamento de mais de 700 milhões de dólares em ativos ligados a Maduro.
Em 18 de agosto, Washington anuncia o envio de três destróieres e um grupo de navios de desembarque com 4,5 mil soldados (incluindo 2,2 mil fuzileiros navais) em direção à costa venezuelana. A justificativa: "Enfrentar as ameaças dos cartéis latino-americanos de drogas". Maduro reage prometendo mobilizar 4,5 milhões de milicianos em todo o país — observadores independentes estimam que o número real não passe de 300 mil — e intensifica os controles de fronteira. Uma semana depois, em 25 de agosto, um cruzeiro com mísseis guiados e um submarino de propulsão nuclear se juntam à missão americana no Mar do Caribe. Em resposta, Maduro anuncia a mobilização de drones e barcos ao longo da costa venezuelana.
Em 2 de setembro, os EUA divulgam um vídeo que mostra a destruição, em "águas internacionais", de uma embarcação supostamente carregada de drogas e ligada ao cartel de drogas venezuelano Tren de Aragua, também classificado por Washington como organização terrorista. Onze pessoas morreram.
"Vamos ver o que acontece", diz Trump ao ser perguntado, em 14 de setembro, se atacaria alvos em solo venezuelano. No dia anterior, caças F-35 americanos haviam chegado a Porto Rico. O ministro venezuelano da Defesa, Vladimir Padrino, ameaça retaliar países da região que servirem de base americana para ataques contra Caracas. Em 2 de outubro, Padrino denuncia o que chamou de "assédio militar" por caças que estariam sobrevoando próximo da costa venezuelana.
Em 3 de outubro, o secretário americano de Defesa, Pete Hegseth, anuncia que os EUA bombardearam um barco em águas internacionais próximo à Venezuela, e que quatro "narcoterroristas foram mortos". De 2 de setembro até 24 de outubro, dez embarcações — nove barcos e um semi-submersível — foram alvo dos militares americanos, com um saldo total de 43 mortos, de diferentes nacionalidades, sendo oito delas no Mar do Caribe. Em nenhum dos casos as autoridades americanas divulgaram evidências de que elas de fato transportavam drogas. Especialistas consideram as execuções sumárias ilegais, mesmo que tenham como alvo traficantes confirmados.
Em 10 de outubro, a líder da oposição venezuelana María Corina Machado é premiada com o Nobel da Paz e dedica a láurea a Trump. Maduro reage dias depois com o fechamento das embaixadas da Venezuela na Noruega e na Austrália.
Em 15 de outubro, reportagens na imprensa americana revelam que Trump autorizou operações secretas da CIA na Venezuela. A informação foi posteriormente confirmada pelo próprio Trump, que declarou cogitar também ataques terrestres contra cartéis de drogas do país. "Vamos atingi-los de forma muito dura quando eles vierem por terra", disse em 22 de outubro. "Estamos totalmente preparados para fazer isso, e provavelmente vamos voltar ao Congresso e explicar exatamente o que estamos fazendo quando chegarmos ao país [Venezuela]." No dia seguinte, Trump afirmou que não vai "necessariamente pedir [ao Congresso americano] uma declaração de guerra" para autorizar operações militares contra supostos traficantes, e sugeriu que pretende atacar o país em breve.
Reagindo às ameaças de Trump, Maduro afirmou em 22 de outubro que o país conta com "mais de 5 mil" mísseis antiaéreos russos Igla-S — arma concebida para abater aviões a baixa altitude. No dia seguinte, porém, adotou um tom mais conciliatório, após Trump confirmar que autorizou operações secretas da CIA na Venezuela: "Paz, sim; paz, sim, para sempre; paz para sempre. Sem guerra maluca, por favor!", disse, em inglês, durante um encontro com sindicalistas leais a Caracas. Já na quinta-feira, 23, porém, o ministério das Relações Exteriores de Trinidad e Tobago, que divide parte de sua costa com a Venezuela, anunciou que receberá um navio de guerra e um grupo de fuzileiros navais americanos para realizar exercícios militares no final de outubro.
Sem citar diretamente a Venezuela ou Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou na sexta-feira, 24, a atuação dos militares americanos na região, afirmando que o combate ao narcotráfico precisa ser feito dentro da lei e com respeito à soberania de outros países. "Se a moda pega, cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer", declarou. "Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ser difícil viver." Já Celso Amorim, assessor especial de Lula, foi mais direto: "Não podemos aceitar uma intervenção externa, pois isso provocaria um enorme ressentimento", afirmou à agência de notícias AP. "Isso poderia inflamar a América do Sul e levar à radicalização da política em todo o continente." Além de Lula, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também tem criticado a ação americana no Mar do Caribe, qualificando os ataques como "execuções extrajudiciais".
Os planos foram noticiados na sexta-feira, 24, pela emissora CNN, que cita três emissários da Casa Branca. O martelo da decisão, porém, ainda não teria sido batido.
Os Estados Unidos anunciaram na sexta-feira, 24, o envio de um porta-aviões e da frota para "combater o narcoterrorismo" na América Latina. Embora tenha havido regularmente presença de porta-aviões para exercícios de treinamento com forças de países vizinhos, é a primeira vez que os Estados Unidos deslocam uma força dessa magnitude na América Latina contra o narcotráfico.
O USS Gravely, um destróier de mísseis guiados, atracou na capital de Trinidad e Tobago. Funcionários norte-americanos disseram que o navio permanecerá em Trinidad até quinta-feira, 30, para que sejam realizados exercícios de treinamento. Kamla Persad-Bissessar, primeira-ministra de Trinidad e Tobago, tem defendido a presença militar dos Estados Unidos e os ataques feitos pelo país contra barcos suspeitos de tráfico de drogas em águas próximas à Venezuela. Caracas classificou a atitude como "provocação militar".
Fonte: DW