"Pois é… já está 2-0 lá", é uma das frases ditas por Jorge Messias, indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Supremo Tribunal Federal (STF), nas conversas com parlamentares conservadores. Messias cita o julgamento para descriminalizar o aborto até a 12ª semana de gestação para tentar capitalizar votos da bancada evangélica e da oposição.
A ideia não é só ressaltar o currículo e a trajetória dele, mas lembrar que Lula pode indicar outro jurista identificado com os votos dados por Rosa Weber e Luís Roberto Barroso.
A estratégia faz a bancada evangélica fazer as contas: Messias, André Mendonça, Kássio Nunes Marques e Luiz Fux garantem 4 votos contra a pauta. Do outro lado, que já tem os dois votos citados (Barroso e Weber), ainda é possível somar os prováveis votos favoráveis de Cármen Lúcia e Edson Fachin.
Foi assim Messias e interlocutores dele plantaram uma "sementinha" do voto governista na senadora Damares Alves. "Todos os dias eu ajoelho, oro, faço jejum e peço a Deus para me guiar nesse voto", confessou a bolsonarista à reportagem, sem rejeitar a possibilidade de votar pela aprovação de Messias. O quase xará, Mecias de Jesus (Republicanos-RR), que também é evangélico, já se rendeu.
Os 31 votos contados pelos governistas já viraram 34, mas todo cuidado é pouco. A votação só vai ser considerada segura com 48 votos.
Um detalhe da negociação é que Lula anunciou o nome de Messias, mas não enviou a mensagem oficial ao Senado. Com isso, não há indicação - e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Senado, não pode marcar a sabatina.
Mesmo com a estratégia do governo de adiar a sabatina caso seja necessário, para não azedar ainda mais a relação entre Lula e Alcolumbre, Messias tem aproveitado todo o tempo possível para fazer o corpo a corpo com os senadores. Desde terça, ele já esteve com Augusta Brito (PT-CE), Otto Alencar (PSD-BA), Jussara Lima (PSD-PI), Wellington Fagundes (PL-MT), Eliziane Gama (PSD-MA), Sérgio Petecão (PSD-AC) e Eduardo Braga (MDB-AM).
Nenhuma dessas conversas, porém, chamou tanto a atenção quanto o diálogo com Angelo Coronel (PSD-BA). Os dois se encontraram no estacionamento do Senado. Uma conversa, praticamente, no meio da rua, ao pé do ouvido. O pouco tempo dado por Alcolumbre, para pressionar Messias, o faz aproveitar todos os minutos.
É até comum que indicados a cargos menores entreguem currículos nos corredores do Senado e façam o beija-mão mais informal, mas, para o indicado a ministro do STF, isso é atípico.