O senador cearense Eduardo Girão (Novo) lançou oficialmente a pré-candidatura ao Governo do Ceará para as eleições de 2026. O evento foi marcado pela presença de diversos líderes políticos da direita, dentre eles a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL); o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); o deputado federal André Fernandes (PL) e outros parlamentares federais e estaduais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O evento teve forte caráter político - e tom religioso -, com apoiadores presentes pedindo anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro e a soltura do ex-presidente Bolsonaro, preso após ser condenado por tramar um golpe. Outro ponto de atenção durante o evento foram as críticas feitas ao ex-governador Ciro Gomes (PSDB), outro postulante ao Palácio da Abolição em eventual aliança de oposição no Estado. Para os críticos, Ciro não representaria um projeto da direita.
Em coletiva e sem citar nomes, Girão voltou a bater na tecla da "coerência" durante o evento. "Se tem uma palavra que resume essa pré-candidatura é coerência. De valores, princípios, em defesa da vida, família, da ética, da liberdade. Algo que coloquei na vida inteira com missão". Em outubro, em entrevista ao O POVO, o senador cobrou que a oposição no Ceará seguisse a mesma linha e destacou que "Ciro nunca teve identidade com a direita".
"A direita e os conservadores têm legitimidade. É isso que pretendemos fazer, com uma administração séria. É isso que faremos no Ceará, com esse time do Novo e com apoio de outros partidos também. O PL faz bloco na Câmara com o Novo. No Senado, somos apenas o PL e o Novo. Temos que estar juntos aqui (no Ceará) também", defendeu.
Em outubro, Ciro se filiou ao PSDB em ato que reuniu líderes da oposição no Ceará, dentre eles Tasso Jereissati, André Fernandes, RC e Capitão Wagner; o movimento consolidou uma aproximação do grupo opositor, que pretende disputar contra o PT no ano que vem e articula possível candidatura única. Girão não foi à filiação de Ciro, assim como Ciro não esteve no evento de Girão no último domingo.
A relação da oposição mais à direita com Ciro tem altos e baixos. Em julho, Fernandes chegou a anunciar rompimento com Ciro e candidatura própria do partido devido a críticas do ex-ministro a Bolsonaro; entretanto, voltou atrás em se reaproximou de Ciro. Capitão Wagner também tem histórico de rusgas com Ciro, com troca de acusações e críticas ao longo dos anos. Apesar disso, Ciro fez elogios a Wagner ao se filiar ao PSDB, declarando que ele "não está sozinho" e que "cumpriria a missão" que lhe fosse dada em 2026.
O cálculo da oposição leva em consideração resultados de pleitos recentes em que candidatos do grupo acabaram derrotados. Em 2022, quando Elmano de Freitas (PT) se elegeu governador do Ceará, a oposição mais à direita se dividiu em duas frentes, com Capitão Wagner (União) e Roberto Cláudio (à época no PDT) se lançando como opções. Naquele ano, Elmano venceu a eleição ainda em primeiro turno e frustrou opositores que esperavam aglutinar forças em eventual segundo turno.
Críticas a Ciro Gomes surgiram durante falas no palco. Embora o senador não as tenha feito, aliados não pouparam munição contra o ex-ministro. Em dado momento, um clima de tensão se instalou devido à fala de Michelle Bolsonaro, que deu um 'puxão de orelha' em líderes do PL cearense. Ela disse que o PL Ceará se precipitou ao se aliar ao ex-ministro. A fala gerou desconforto em André Fernandes, presidente estadual da sigla e responsável por costurar a aliança.
A ex-primeira-dama argumentou contra a aproximação. "É sobre isso. É sobre essa aliança que vocês se precipitaram em fazer. (...) Adoro o André, o Nikolas, o Carmelo, a esposa dele, tenho orgulho de vocês. Mas fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá", declarou.
Outro que fez críticas a Ciro foi o desembargador aposentado Sebastião Coelho: "Falar mal da família Bolsonaro. Falou mal do Eduardo nos EUA; este homem pode ser candidato, mas não tem o direito de dizer que representa a direita", bradou ao exaltar Girão como legítimo representante do grupo de direita no Ceará.
Durante a fala de líderes políticos no palco, a plateia gritou palavras contra a aliança da direita cearense com Ciro. "Ciro não, Ciro não", repetiam os apoiadores que prestigiavam o lançamento da pré-candidatura de Girão, em Fortaleza.
Em coletiva, antes das críticas a Ciro, Girão foi questionado sobre como dialogar com outras possíveis pré-candidaturas de oposição. O senador disse considerar que todos os eventuais apoios que cheguem para a eleição "são bem-vindos", mas reforçou que o projeto deve ser liderado por líderes, de fato, conservadores.
Perguntado sobre a possibilidade de união com Ciro, Girão não descartou o diálogo, mas lembrou que o ex-ministro sequer se colocou oficialmente na disputa.
"Nomes estão postos no cenário. Ele (Ciro) nunca falou que é pré-candidato ao governo. Há especulações. O importante é o seguinte, que a direita e os conservadores precisam mostrar o trabalho", disse. (Com informações de Taynara Lima)