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Pré-candidatura de Flávio Bolsonaro gera apoio, críticas e dúvidas para 2026
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Pré-candidatura de Flávio Bolsonaro gera apoio, críticas e dúvidas para 2026

|Presidência| O PL confirmou a disposição de Flávio para concorrer em 2026. O senador diz ter sido escolhido pelo pai para a função
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Flávio Bolsonaro disse ter sido escolhido pelo pai para representar o bloco (Foto: Andressa Anholete/Agência Senado)
Foto: Andressa Anholete/Agência Senado Flávio Bolsonaro disse ter sido escolhido pelo pai para representar o bloco

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) anunciou nesta sexta-feira, 5, que seu pai, Jair Bolsonaro (PL), confirmou que ele será o candidato a presidente do grupo em 2026 "É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação", escreveu Flávio em uma publicação no X.

Antes de falar publicamente sobre o assunto, o senador avisou ao Partido Liberal e ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a decisão de Bolsonaro. O presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, disse estar a par da articulação."Como presidente do PL, informo que o senador Flávio Bolsonaro é o nome indicado por Jair Bolsonaro para representar o partido na disputa presidencial", escreveu, em nota oficial.

Na publicação nas redes sociais, o filho "01" do ex-presidente disse que o País vive dias difíceis e que não pode se conformar em vê-lo caminhar para "tempos de instabilidade, insegurança e desânimo". Membros da cúpula do PL dizem ver a informação com ressalvas, e que acreditam se tratar de um balão de ensaio para tanto inflar quanto testar o nome de Flávio a nível nacional. A escolha definitiva, para alguns, será tomada mais adiante.

Apoio da família

Publicamente, a família Bolsonaro prestou apoio a Flávio. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), autoexilado nos Estados Unidos, afirmou ter recebido "com profunda admiração, alegria e imenso orgulho" a notícia da candidatura do irmão. Ele pediu que os aliados se unam em defesa da candidatura de Flávio por um bem maior.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro compartilhou a breve nota oficial do partido. Escreveu embaixo: "Que Deus te abençoe, Flávio Bolsonaro, nesta missão pelo nosso amado Brasil. Que o Senhor te dê sabedoria, força e graça em cada passo, e que a mão d’Ele conduza o teu caminho para o bem da nossa nação".

O que diz o governo e o Centrão

Já integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e políticos de partidos de centro avaliam que a decisão representa uma estratégia voltada para 2030 e para a manutenção do espólio político da família.

Sob reserva, os políticos consideram que o anúncio confronta diretamente os planos do Centrão para lançar Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, como candidato à Presidência com o apoio de Bolsonaro - em troca de um indulto em caso de vitória em 2026.

Apesar de manter discurso público de que buscaria a reeleição em São Paulo, o governador dava sinais, nos bastidores, do desejo de ser candidato ao Planalto. O anúncio de que Flávio pegou o mundo político de surpresa - mais pelo timing do que pela informação em si.

Integrantes do governo Lula mantinham ceticismo quanto à possibilidade de Tarcísio de Freitas abdicar de uma reeleição em São Paulo para disputar a Presidência por Bolsonaro. O momento de anunciar esse apoio, no entanto, foi inesperado.

Apesar de alguns ministros do governo verem o anúncio como um "balão de ensaio" - jargão jornalístico que se refere à prática de atores políticos vazarem informações para testarem a repercussão antes de confirmarem -, há elementos que apontam na direção oposta. Primeiro porque Flávio e o PL confirmaram a informação. Segundo porque, mesmo após a péssima repercussão junto ao mercado financeiro (o Ibovespa caía quase 4% às 16h30 desta sexta-feira), não houve nenhum recuo.

O dólar disparou e fechou nos maiores níveis desde meados de outubro em meio à informação. A avaliação preliminar de analistas é a de que a entrada de Flávio no pleito aumenta a possibilidade de reeleição do presidente Lula. Com máxima de R$ 5,48, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 2,29%, maior valor de fechamento desde 16 de outubro.

Estratégia

Desde que Bolsonaro foi preso, em 24 de novembro, Flávio se tornou seu principal interlocutor com o mundo externo, algo parecido com o papel que Fernando Haddad representou para Lula em 2018, quando o petista ficou preso na Polícia Federal em Curitiba. Afastado das articulações políticas e do contato diário com aliados, Bolsonaro passou a receber informações, sobretudo, por meio do filho.

Integrantes do governo ouvidos pela reportagem veem na decisão de lançar Flávio como candidato uma estratégia para manter o eleitorado de direita de olho nas eleições de 2030, cientes de que o pleito de 2026 será mais difícil por se tratar de uma campanha contra o atual presidente.

Lula não tem os melhores índices de aprovação, mas ainda assim dispõe da máquina pública, de programas sociais que serão lançados no ano que vem, do capital político pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e de uma estrutura de publicidade estatal robusta.

A ameaça para Bolsonaro, nessa perspectiva, não estaria na esquerda, mas no campo da centro-direita. O apoio a Tarcísio de Freitas, apesar de garantir uma chance maior de vitória contra Lula em 2026 e, consequentemente, de um indulto a Bolsonaro, escantearia a família politicamente: em caso de vitória, pelo motivo óbvio de que o principal nome da direita passaria a ser o governador de São Paulo; em caso de derrota, porque o nome testado nas urnas e com "recall" seria o de Tarcísio.

Não está claro, para pessoas de fora do núcleo mais duro do bolsonarismo, o motivo que levou Flávio a anunciar nesta sexta que será o candidato representando seu pai, quando a informação até então era de que o ex-presidente usaria todo o tempo até maio para tomar uma decisão. A forma como a notícia atingiu o mundo político demonstra que houve pouca participação dos caciques dos principais partidos de centro no processo decisório de Bolsonaro.

 

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