A prisão preventiva do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, autorizada nessa sexta-feira, 26 pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, foi embasada em um relatório da Polícia Federal (PF) que descreveu as últimas horas do fugitivo em Santa Catariana, antes de deixar o País rumo ao Paraguai, onde foi preso na madrugada de ontem.
A PF relatou a Moraes que a tornozeleira eletrônica utilizada por Silvinei ficou sem sinal de GPS por volta das 3 horas da manhã da última quinta, 25, e, por volta das 13h do mesmo dia, o dispositivo ficou sem sinal GRPS, o que indica que a poderia ter descarregado.
Às 20h09 daquele dia, uma equipe da Polícia Penal de Santa Catarina foi até o endereço do ex-diretor e identificou que tanto o seu apartamento quanto a sua vaga na garagem estavam vazios.
Um equipe da PF repetiu o procedimento por volta das 23h e chegou aos mesmos resultados. Os agentes federais identificaram, ao acessar as câmeras do prédio, que Silvinei utilizou um carro alugado modelo Volkswagem Polo, na cor prata, em vez do carro cadastrado em seu nome, um Jeep Renegade Branco.
A PF identificou que Silvinei esteve no seu endereço residencial até as 19h22 da última quarta, 24, quando não foi mais visto entrando ou saindo de carro. Conforme relatado pelos agentes federais, Silvieni deixou o local vestido com uma calça de moletom preta, camiseta cinza da marca Puma e um boné preto também da Puma.
"Pela sequência de imagens, às 19h06 aproximadamente ele colocou bolsas no porta-malas do carro (não eram malas); novamente, aproximadamente às 19h14min colocou mais coisas no banco de trás (inclusive ração e muitos sacos de tapete higiênico para cães), pelo lado do passageiro; e, aproximadamente às 19h22min, foi para o carro carregando potes comedouros (para ração) e conduzindo um cachorro (aparentando ser da raça pitbull), e saiu", descreveu a PF.
Após a averiguação no local, a PF identificou o rompimento do dispositivo de monitoramento de Silvinei e disparou alertas nas fronteiras. A corporação também acionou a adidância brasileira no Paraguai.
Silvinei utilizava um passaporte paraguaio original no momento em que foi detido, mas o documento não continha as suas informações pessoais.
O ex-diretor da PRF foi abordado e preso ao tentar deixar o aeroporto. Ele foi encaminhado ao Ministério Público do país vizinho, que deve conduzir a sua extradição ao Brasil.
Quem é Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF preso após fuga
Preso nessa sexta-feira, 26, no Aeroporto de Assunção, capital do Paraguai, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques foi condenado, na semana passada, pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 24 anos e seis meses de prisão.
Ele foi diretor da PRF no governo Bolsonaro e, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), fazia parte do "núcleo de gerência" do plano de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota nas eleições de 2022.
Segundo a denúncia, Silvinei Vasques, Marília Alencar e Fernando de Sousa Oliveira usaram a PRF e a estrutura do Ministério da Justiça para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
Eles teriam requisitado relatórios de inteligência para montar operações que dificultassem o voto de eleitores do Nordeste, reduto histórico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Sob a liderança de Vasques, a PRF realizou 4.591 fiscalizações em todo o Brasil entre os dias 28 e 30 de outubro. Só no Nordeste, 2.185 ônibus foram fiscalizados em estradas da região - mais que o dobro das ações de mesmo teor no Centro-Oeste (893), quatro vezes mais que o número de blitz realizadas no Sudeste e sete vezes mais do que no Norte.
Em seu voto, o ministro do STF Alexandre de Moraes afirmou que, sob o comando de Silvinei, a PRF "cruzou os braços" diante dos bloqueios em rodovias federais organizados por apoiadores de Bolsonaro.
Em carta, Silvinei diz que tem câncer no cérebro
O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, preso após fugir do Brasil rumo ao Paraguai, levava, ao ser preso pelas autoridades aeroportuárias, uma declaração médica em que afirma ser portador de um câncer cerebral agressivo e declara não conseguir falar nem ouvir.
No documento, redigido em espanhol, Vasques afirma ter diagnóstico de glioblastoma multiforme grau IV, um tipo de câncer localizado no cérebro, de prognóstico considerado grave. Segundo o texto, a doença o impediria de se comunicar verbalmente e de compreender instruções orais, razão pela qual solicita que toda comunicação com autoridades seja feita por escrito.
"Não posso responder perguntas de forma falada. Se necessário, a comunicação pode ser feita por escrito", escreveu.
O ex-diretor também informava possuir autorização médica para viajar e portar receituário e medicamentos de uso contínuo. Ele relata ter realizado sessões de radioterapia e quimioterapia em dezembro de 2025, em Foz do Iguaçu (PR), tratamento que teria causado lesões na região do crânio como efeito colateral da exposição à radiação.
Ainda de acordo com o documento, Vasques se deslocava para realizar um procedimento de radiocirurgia, descrito como um tratamento "moderno e eficaz" indicado para tentar "prolongar o período de vida". Apesar disso, o texto afirma que ele estaria lúcido em condições clínicas adequadas para realizar a viagem.
"Estou completamente lúcido, consciente e em condições clínicas adequadas para realizar a viagem, bem como para atender a qualquer necessidade ou exigência das autoridades competentes, dentro das minhas limitações de comunicação verbal e auditiva", afirma Silvinei o documento.
Na declaração apresentada às autoridades, Vasques informava ainda que viajava de Assunção, no Paraguai, para San Salvador, em El Salvador, em voo operado pela Copa Airlines, com o "objetivo exclusivo de receber tratamento médico".