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Como ser uma empresa com diversidade?
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Como ser uma empresa com diversidade?

Os desafios são cotidianos e passam pela legitimação das vozes que representam a diversidade dentro da empresa e conscientização coletiva sobre inclusão
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Diversidade no ambiente empresarial traz vantagens, tanto do ponto de vista social quanto financeiro. Mas ser uma empresa diversa passa por um longo processo que inclui diagnóstico e mudança de cultura. É preciso, segundo os especialistas ouvidos pelo POP Empregos&Carreiras, também oferecer canais seguros e estrutura para responder às denúncias de discriminação.

Antes de iniciar um programa de diversidade, o mais importante é ter conhecimento da demografia interna do negócio. É o que explica Liliane Rocha, idealizadora e professora do curso de diversidade na graduação de Marketing da ESPM, autora do livro Como ser um líder inclusivo e fundadora e CEO da Gestão Kairós Consultoria de Sustentabilidade. "Do total de funcionários que a empresa tem, qual é o total de funcionários negros, LGBTQIA , mulheres, pessoas com deficiências, profissionais com mais de 60 anos, ou mais jovens, pessoas de diferentes religiões etc.?", alerta a especialista.

Com esse entendimento, pode-se fazer um comparativo com a sociedade brasileira: dos 220 milhões de brasileiros, nós temos 56% de negros, 52% de mulheres, 24% ou 7% de pessoas com deficiência a depender do estudo do IBGE utilizado. "Se a gente usar a Escala Kinsey, um estudo em uso que é da década de 50, que eu considero subestimado, mas que diz que temos 10% de pessoas homossexuais, quando eu olho para dentro da empresa eu vejo essa diversidade representada? Sim ou não? Se eu não vejo, mas quero que ela esteja representada, então eu tenho que começar com as ações coordenadas de diversidade para contratar essas pessoas, reter e desenvolver a carreira dessas pessoas", diz Liliane.

No Brasil, o Instituto Ethos promove iniciativas focadas nessa agenda: o Perfil Social, Racial e de Gênero; a Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero; os guias temáticos dos Indicadores Ethos para a promoção da equidade racial; para a promoção da equidade de gênero; para a inclusão de pessoas com deficiência. "Estamos desenvolvendo agora um guia para a promoção dos direitos LGBTI , em parceria com o Fórum de Empresas e Direitos LGBTI ", informa a diretora-adjunta do Instituto Ethos, Ana Lúcia Melo.

 

Como ser uma empresa com diversidade?

PARA INICIAR UMA POLÍTICA DE DIVERSIDADE

> Ofereça canais seguros para denúncias de discriminação;

> Promova ações e campanhas internas para um ambiente inclusivo;

> Comunique os resultados das ações de promoção da diversidade;

> Estabeleça um plano para aumentar a diversidade dos quadros, incluindo níveis gerenciais e executivos;

> Estimule a formação de grupos para a promoção da diversidade;

Busque engajar-se em iniciativas voluntárias, nacionais e internacionais.

Ao amadurecer a diversidade

> Inclua indicadores relacionados à promoção da diversidade na avaliação de executivos;

> Estabeleça metas para que a diversidade de seus quadros seja condizente com o perfil demográfico regional;

> Busque engajar fornecedores e clientes;

> Inclua a diversidade como uma competência comportamental a ser avaliada.

Fonte: Ana Lúcia Melo, diretora-adjunta do Instituto Ethos

Vagas para pessoas trans - Diageo

Inscrições: Por e-mail, através do endereço recrutamento@ypioca.com.br

Quando: Até o dia 23 de junho de 2020

Vagas: 12

Camila Pinto
Camila Pinto

Ampliando a diversidade

A Diageo, multinacional do ramo de bebidas, está recrutando jovens aprendizes com atenção especial a quem faz parte da comunidade LGBTQIA . Há 12 vagas disponíveis para o quadro de funcionários da Ypióca, marca da Diageo, que devem ser destinadas, prioritariamente, a pessoas transgênero. Conversamos com Camila Pinto (foto), coordenadora de RH da Diageo.

O POVO - Quando surgiu a iniciativa de contratar jovens transgênero?

Camila - Veio do comitê de diversidade formado há uns quatro anos, por voluntários dentro da Diageo. Temos conversas sobre vários temas dentro da diversidade e decidimos conversar mais com o público transgênero. Entendemos que fazia sentido ampliar as vagas para esse público, apresentamos para a liderança que apoiou e levou pra frente. Hoje, já temos diversidade no nosso time de colaboradores e continuamos a investir nisso.

OP - Há um acompanhamento interno após a contratação?

Camila - Atuamos muito com treinamento e capacitação de uma cultura inclusiva. Umas das ações recentes foi um bate-papo com a Helena Vieira (escritora e transfeminista). Temos canais de denúncia e apoio, o Speak up, que garante a confidencialidade. Podem ser feitas denúncias anônimas que são encaminhas para investigadores treinados. Reforçamos bastante a cultura inclusiva com o comitê, além do próprio RH.

CASE NACIONAL

Com a ambição de ser uma das empresas mais inclusivas do segmento industrial, a Gerdau iniciou, dentre outras iniciativas para "empoderar pessoas que constroem o futuro", diagnóstico interno de colaboradores. Dos mais de 30 mil colaboradores diretos e indiretos, 12% são mulheres; 32% são negros; 2% são PcDs, de acordo com Carla Fabiana Daniel, Head de Diversidade e Inclusão da Gerdau. "Em 2019, o programa de Diversidade e Inclusão da Gerdau passou a se organizar por grupos de afinidade correspondentes aos temas abordados - gênero, raça e etnia, PcDs e LGBTI . Esses grupos se reúnem regularmente para discutir pautas e ações específicas para cada tema e avaliar o avanço do trabalho. Cada grupo tem como responsável um integrante da alta direção da empresa. Atualmente, são mais de 300 voluntários e voluntárias trabalhando nesses grupos e nos Comitês de Diversidade."

Um cargo específico também foi criado, em 2019, para a Gestão da Diversidade e Inclusão que coordena as ações globalmente. Segundo Carla Fabiana, a estratégia de diversidade é validada e acompanhada pelo Comitê Estratégico de Diversidade em reuniões bimestrais. Na unidade no Ceará, a Gerdau já conseguiu, nas contratações para o Programa de Aprendiz deste ano, incluir 40% das vagas para mulheres.

 

CUIDADO COM O "Diversitywashing"

"Um dia estava em casa e vi uma propaganda de uma grande marca brasileira, era um comercial muito bonito. Eu como mulher negra fiquei muito tocada, porque não tinha visto ainda algo daquele tipo. Mas eu lembrei que naquela mesma semana eu tinha ouvido algumas histórias de discriminação dentro daquela empresa." A partir dessas experiência e da atuação na área de sustentabilidade, Liliane Rocha criou o termo "Diversitywashing" (lavagem da diversidade) para referir-se às empresas que estão se apropriando de questões de diversidade, "mas que da porta para dentro não tratam com igualdade ou justiça negros, mulheres, LGBQIA , pessoas com deficiência etc."

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