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Como fazer uma transição de carreira?
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Como fazer uma transição de carreira?

Como enfrentar o medo de trocar o certo pelo novo? Há quem comemore a coragem. Saiba o que você precisa para mudar
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Salário melhor, flexibilidade de horários ou ainda propósito. Essas são algumas motivações dos profissionais que buscam uma transição de carreira. Pode ser uma nova área de trabalho, uma nova empresa, ainda que na mesma área de atuação, e até um novo negócio. Já existem mentorias especializadas para auxiliar quem deseja recomeçar, com preços que variam de acordo com segmento, serviços e duração. Porém, o fator decisivo vem do próprio profissional: o autoconhecimento.

Carreira não é só trabalho, o conceito está relacionado à identidade do indivíduo. "As minhas escolhas de carreira têm a ver com as experiências que eu, indivíduo, desejo passar, porque eu considero que é importante para o meu desenvolvimento pessoal, aquilo que eu considero como representação de um legado para a minha vida", aponta Luciana Lima, professora de Liderança e Gestão de Pessoas do Insper.

Sendo assim, é natural mudar, inclusive em diferentes estágios da vida. "Chegando aos 50, vi uma possibilidade de recomeçar em uma coisa que me desse mais realização pessoal. Isso foi uma das grandes motivações, e a outra aquela coisa do ‘ninho vazio’, os filhos criados, cada qual formado, com suas carreiras", conta a administradora Miriam Brito Fialho, 54, recém-formada em Arquitetura e Urbanismo pela Unifor.

Com apoio da família, dos filhos de 29 e 32 anos - que a distância incentivaram a mãe, porque ambos moram fora do Estado-, Miriam concluiu a faculdade em meio à pandemia de Covid-19. "Quando a gente entra não sabe como vai ser depois de tanto tempo sem estudar, é tudo novo. Estar ali com uma nova geração, enfrentando algumas barreiras. Mas os planos são de realmente continuar estudando, fazendo cursos de especialização e buscar parcerias com colegas", diz ela.

A questão familiar precisa ser muito bem discutida em uma transição de carreira: "se você tem filhos, uma união estável, a sua decisão de carreira é uma decisão de casal porque vai impactar diretamente a vida familiar", acrescenta Luciana. E, se você tem um peso grande no orçamento da casa, a recomendação da educadora financeira Beatriz Holanda é fazer a transição total quando já estiver recebendo com essa outra atividade pelo menos 100% da renda atual.

Beatriz, 31, pode falar com propriedade: ela mesma fez uma transição de carreira depois de trabalhar oito anos como advogada especializada em contratos. "Eu já queria estudar outras coisas ligadas à saúde, ao desenvolvimento humano, mas realmente a transição ficou clara a partir de um acidente de carro muito grave que eu sofri. Naquele momento, eu fiz a seguinte pergunta: se eu tivesse desencarnado, o que de legado eu teria deixado para a sociedade, para o mundo, para as pessoas que eu gosto? Isso me gerou uma inquietação."

Ela recusou uma promoção e pediu demissão, mas antes disso já havia garantido reserva financeira e capacitação em terapias integrativas. Agora, o maior percentual do que ganha com mentorias (desbloqueio de crenças limitantes, liberdade emocional e financeira) é reinvestido na própria marca. "A semente de ouro é: tudo que você precisar para cursos, certificações, quem tem que pagar é o salário atual. Tudo de renda extra na próxima profissão tem que ser reinvestido, de forma que você possa ter um capital de giro já preparado", orienta a educadora àqueles que ainda não podem abrir mão da remuneração atual.

Para além do planejamento técnico, a chave está no autoconhecimento, quanto a isso os especialistas são unânimes. "Tem que ir atrás daquilo que faz teu olho brilhar, porque é isso que te mantém cada vez mais vivo e cada vez mais produtivo. A melhor ferramenta para entender o que faz teu olho brilhar é teu processo de autoconhecimento", completa a Luciana Lima.

Crise dos 30? Idade e propósito

Não existe idade certa ou errada para a transição de carreira. O que acontece, de acordo com a diretora de Operações da Lee Hecht Harrison (LHH), Mariangela Schoenacker, é que muitos profissionais começam a questionar se estão no lugar certo após os 30. Independente da idade, as inseguranças tendem a ser as mesmas: Eu vou conseguir? E se der certo?

Consultorias como a LHH ofertam programas de transição de carreira para o profissional que quer um novo desafio. "É uma jornada que ajuda o profissional a avaliar diferentes possibilidades, estruturar redes, fazer simulação de entrevista e estar bem ligado no que está acontecendo no mercado através das conexões que a gente tem, dos webinars e das atividades. Muitas vezes, não dá nem para conversar com marido, esposa, porque ficam em pânico sobre emprego. A gente brinca que com a gente pode chorar, pode tirar dúvidas", diz Mariangela. Com a pandemia, as possibilidade de atendimento remoto também são ampliadas. Recentemente, a LHH criou o MyCareer, programa de soluções em plataforma on-line.

Os preços são definidos conforme salário, área de atuação, duração. No caso de transições mais reflexivas, os valores costumam ser menores, explica Luciana Lima, do Insper. "Há projetos que custam R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 15 mil. Se você é um executivo, quer mapear todo o mercado para fazer o processo de aproximação de empresa, fazer o assessments das competências, vai subir o valor", acrescenta a professora.

 

PASSO A PASSO DA VIRADA

1. Desenvolva o seu autoconhecimento

Não sabe o que quer? Reflita sobre o seu propósito. "Se eu não sei o que, de fato, eu quero, não tenho por enquanto que pensar em transição de carreira, se não você se afunda", frisa a professora do Insper, Luciana Lima


2. Busque capacitação

Comece a fazer os cursos, pesquisar o mercado e buscar as certificações necessárias, em uma rotina dupla. "Às vezes, as pessoas romantizam a transição. Elas não estão satisfeitas com o trabalho, acham que mudar vai resolver todos os problemas e não experimentam. Quando elas não se preparam, elas descobrem que não é bem aquilo que elas queriam fazer", explica a educadora financeira Beatriz Holanda.

3. Faça uma reserva financeira para 12 a 24 meses

Quem tem peso forte no orçamento familiar deve ficar na jornada dupla até ganhar 100% do que recebe atualmente na segunda carreira. "Se não é o principal do orçamento familiar, então a partir de 50% a 70% com essa renda extra já pode fazer de uma transição de forma tranquila", ensina Beatriz.

4. Crie sua marca pessoal e use a experiência a seu favor

Mantenha um bom currículo, atualize suas redes sociais e cuide do networking. "Não existe a questão do jovem ou velho é melhor, o que é melhor é a combinação dos dois. Muitas empresas estão revendo todos os seus processos seletivos para absorver profissionais com faixa etária maior e que estão voltando para o mercado para começar uma nova jornada", reforça Luciana.

5. Deixe as portas abertas

Caso tenha um emprego fixo, é importante conversar com os chefes e até estabelecer um prazo de saída. "A discussão de carreira tem que ser cada vez mais aberta entre o chefe e o subordinado, ter mais conversas de carreira para que tanto as pessoas estejam bem, quanto as empresas", avalia Mariangela Schoenacker, diretora de Operações da LHH.

6. Não tenha medo de voltar à carreira anterior

Ao viver a possibilidade de mudar, não descarte a possibilidade de retornar. "O que muito provavelmente o pessoal de recrutamento vai querer entender é os motivos que o levaram a mudar, o que você aprendeu, quais as competências você não tinha antes e agora tem", completa Luciana Lima.

 

 

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EMPREENDEDORA DA BELEZA

Nem sempre a transição de carreira recebe apoio dos outros. Quando a então engenheira de alimentos Milena Freire (@milenafreiree), 42, decidiu sair do emprego em uma empresa de laticínios, há 11 anos, para se dedicar exclusivamente à venda de maquiagem, os pais condenaram: "Você passou cinco anos na faculdade, fez pós-graduação, vai trocar carteira assinada para vender batom?". Mas Milena mudou, agora é diretora Sênior de Vendas Independente Mary Kay e acabou de conquistar o terceiro carro rosa, "em plena pandemia", conta. "O que eu ganhava não supria minhas necessidades, eu estava pagando um carro, a metade ia para a parcela, a outra eu pagava conta e ficava sem dinheiro. Em busca de renda extra, eu fiz as duas atividades durante nove meses. Comecei a perceber que com o pouco tempo que eu tinha para me dedicar à Mary Kay, eu já ganhava de lucro o equivalente ao meu salário." A timidez foi um obstáculo, mas ela compartilha a receita: "a morte do medo é fazer aquilo que você tem medo".

 

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Por que você tem medo de mudar? Saiba quais são as principais crenças limitantes

Por Beatriz Holanda (@beatrizholanda__)

Necessidade de reconhecimento

As pessoas querem muito reconhecimento pelo esforço que elas têm e não percebem que a gente ganha é pelo resultado.

Significado do trabalho

Pessoas que têm o sonho de não trabalhar e receber, geralmente, são pessoas que não ascendem nas suas carreiras.

Fazer apenas o suficiente

Isso cria um pacto com a mediocridade, o "não sou pago para isso". Não é trabalhar de graça, eu quero dizer que a pessoa tem que dar seu melhor, e muitas se contentam em dar o suficiente. 

DICA: Essas são crenças limitantes, e, para todas elas, existem várias técnicas que podem ser feitas, mas a metodologia é a mesma: identificar, ressignificar e criar uma crença positiva.

 

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