A venda de vibradores no período de isolamento social cresceu 50%: mais de um milhão de vibradores e consolos foram comercializados no País, de março a maio, conforme levantamento do Mercado Erótico.org. Mas, na prática, o que significa o "boom" do mercado de brinquedos eróticos? Para quem já atua na área de sex shops, a garantia do negócio em tempos de crise. E, para quem busca nova fonte de renda, possibilidade de se aventurar, seja como revendedor, seja como empreendedor.
Mickaela Correia, 31, por exemplo, pegou R$ 200 da alimentação e lançou na pandemia a Senty Store (@sentystore). "Brincando com uma amiga, eu disse que acreditava em duas coisas: na putaria e na Rihanna. A Rihanna tem a Fenty lá, e eu com a Senty cuidaria aqui dos outros lábios", diz. Todo o lucro obtido tem sido reinvestido na marca que, em quatro meses, conseguiu seguidores orgânicos no Instagram e tem uma linha própria de produtos de cuidado íntimo.
Fabricante alemã de vibradores de luxo e brinquedos eróticos, a Fun Factory registrou aumento de 500% de lojas brasileiras interessadas em trabalhar com a marca no País, em relação ao mesmo período de 2019. "De faturamento, julho de 2020 foi o nosso recorde de vendas desde que assumimos a representação da marca em setembro de 2018. Nosso faturamento cresceu mais de 20% em relação ao mesmo período de 2019", informa Andreia Paro, diretora da Himerus, representante exclusiva da Fun Factory no Brasil.
O mercado de produtos eróticos como um todo, de março e maio de 2020, vendeu no Brasil 4,12% a mais em relação ao mesmo período de 2019. Com a recessão, a busca maior não deve significar contratação imediata nas lojas. É o que avalia a publicitária Paula Aguiar, sócia do MercadoErótico.Org (@mercadoerotico). "Os empresários do ramo erótico ainda vão demorar a contratar, vai ser uma equipe enxuta e qualificada, porque cada vez mais o consumidor vai se apegar na confiança e na expertise desse vendedor", frisa.
Empreendedores locais apostam na representatividade e na criatividade como diferenciais dos seus e-commerces. "Enquanto mulher negra, eu entendo que o mercado ainda se comunica mal. Eu sempre olhava os sex shops que existiam, não tinham a pegada que eu queria propor: humor, fala mais simples e discussões de negritude", afirma Mickaela.
Na linha do empoderamento feminino, Laís Costa, 31, comanda a Treme Treme (@oitremetreme), que completa um ano em outubro. Morando em Fortaleza há 12 anos, a jornalista natural de Teresina vive integralmente da renda do sex shop online. Principalmente durante o lockdown, viu as vendas aumentarem: "Eu não esperava uma procura tão grande, então até me estruturar foi bem corrido".
Para se comunicar melhor com o público, Laís estuda e faz cursos relacionados à sexualidade. "Eu entendo o conhecimento como algo dinâmico, e sempre precisamos de atualização, seja qual for a nossa área", acrescenta a dona da Treme Treme, com disponibilidade de entregas em todo o Brasil. Geralmente, fabricantes também disponibilizam aos lojistas treinamentos, como é o caso da Fun Factory.
Segundo Paula, o empreendedor do setor de brinquedos eróticos precisa entender que trabalha com a intimidade das pessoas, portanto, deve ter um conhecimento mínimo ou formação em sexualidade. "Muitas vezes, o consumidor não tem coragem de falar com o terapeuta e tem coragem de falar com a atendente que vende o produto erótico. Então, tem que estar ciente de que, em determinados casos de disfunção, esse cliente não precisa de produto, mas de tratamento com ginecologista, psicólogo, sexólogo", completa.
Sexualidade livre de preconceitos
Antes ligados à "cura da histeria feminina", hoje vibradores e masturbadores compõem kits íntimos de muitos casais. No isolamento social, viraram artigo de desejo para suprir outras válvulas de escape, analisa a psicóloga, mestre em Sexologia e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH), Sheila Reis. "Não necessariamente [essa busca maior] é escondida, está diminuindo o preconceito. É um absurdo que ainda seja um constrangimento."
Em relação à procura por terapia, Sheila diz que em seu consultório a demanda foi equilibrada entre saúde sexual e psicoterapia. "Para algumas pessoas, o atendimento online cria até uma segurança, por estarem atrás de uma tela", acrescenta a psicóloga.
É necessário ter pós graduação Lato Sensu ou Stricto Sensu para ser um sexólogo. E mesmo quem tem especialização em sexualidade pode ir até determinado ponto da terapia, porque é importante uma visão multidisciplinar e o cliente ter passado pela avaliação de urologista, ginecologista e/ou fisioterapeuta, explica Sheila
"Quanto à formação em Sexologia, há uma certa confusão entre o que é especialização, formação, orientação e aconselhamento em Sexualidade Humana. O que recomendamos para quem quer entrar na área de forma séria e com conteúdo científico: procurarem por Centros Universitários, com curso reconhecido pelo MEC", diz Sheila. Dentre os associados da SBRASH, estão psicólogos, médicos, fisioterapeutas, educadores, enfermeiros e comunicólogos. Profissionais de diferentes áreas podem se especializar em sexualidade e relacionar o conhecimento ao seu campo de atuação.
Siga em: @sbrash_oficial
CONHECIMENTO DIGITAL
Gerar conteúdo relevante e de valor é o desafio de qualquer negócio online. No caso dos sex shops, ainda há o risco de censura. "Vemos por aí perfis verificados com milhões de seguidores que mostram produtos sem sofrer nenhum tipo de censura. Enquanto isso, quem está começando ou já está no ramo há algum tempo e não tem esse alcance pode, sim, sofrer censura no Instagram, Facebook, Tik Tok e até mesmo no WhatsApp, principalmente o business", alerta Paul Araújo, líder da A Sós (@a_sos_oficial), marca de Cosméticos e Artigos Eróticos. Por isso, ele indica que os empreendedores definam o público-alvo: "a partir desse ponto, você já começa a gerar relacionamento com os seguidores, formando sua autoridade e posteriormente vendendo momentos, sensações e transformação na vida sexual destas pessoas".
IDEIAS
Catálogos online;
Sorteios;
Kits de "sobrevivência sexual";
Lives;
Promoções em datas comemorativas
QUARENTENA DO PRAZER
Público:
65,8% - mulheres
21,1% - homens
13,2% - casais
Faixa etária:
51,4% - 25 a 34 anos
37,1% - 35 a 44 anos
5,7% - 18 a 24 anos
5,7% - 45 a 54 anos
Fonte: MercadoErótico.org
R$ 2 bilhões
6 de setembro
é o Dia
do Sexo