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Conexões humanas em tempos digitais
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Conexões humanas em tempos digitais

Sebrae realiza palestra-live com a atriz Denise Fraga sobre como unir gentileza e tecnologia nesta quinta-feira, 26
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Tipo Notícia
Denise Fraga reflete: como não ser tomado pela frieza da tecnologia? (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Denise Fraga reflete: como não ser tomado pela frieza da tecnologia?

Encerrando o ciclo de palestras "Experience - Grandes temas: renove seus conceitos de liderança e impulsione seus negócios", o Sebrae realiza nesta quinta-feira, 26, uma palestra-live com a atriz, produtora e cronista Denise Fraga. Um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Denise participou de dezenas de novelas, séries e filmes e é autora dos livros "Retrato Falado: Histórias Fantásticas da Vida Real" e "Travessuras de Mãe", ambos lançados pela Editora Globo.

Em suas palestras, a artista trata com humor e sensibilidade de temas como liderança humanizada, valores da sociedade contemporânea e o poder da gentileza. Nesta edição, Denise falará sobre a urgência da presença plena, da convivência e da empatia. O evento é gratuito e ocorre online a partir das 19 horas. Para se inscrever, basta acessar https://bityli.com/XiF88. Confira um bate-papo do O POVO com a atriz:

O POVO - Quando a pandemia começou, você estava iniciando a temporada de uma peça, a Eu de Você, em que você conta histórias de várias pessoas. Com o isolamento social, você começou a levar um pouco da proposta da peça para o YouTube, com o programa Horas em Casa. Como surgiu essa ideia?

Denise Fraga - Na verdade, o Horas em Casa é como se fosse um filhotinho da Eu de Você. Para a peça, recebemos cerca de 300 histórias entre vídeos, cartas e áudios. Dessas, a gente selecionou e trabalhou em cima de umas 25, sempre misturando as histórias com trechos de literatura, música e trechos de dramaturgia que foram escritos especialmente para a peça. No Horas em Casa não tem essa mistura porque a questão de direitos autorais do YouTube é bem complicada. O programa surgiu da nossa inquietude. Estava todo mundo muito angustiado, tentando entender o que estava acontecendo, tentando achar brechas para que o nosso ofício existisse numa época em que a gente viu que tudo ia parar - e parou mesmo, né? A gente queria falar sobre esse denominador comum - o vírus -, que não escolhe lugar para estar e escancara todas as diferenças. Ficamos todos muitos compadecidos disso, dessa injustiça, da desigualdade social do nosso País. Como o que nos interessa é sempre contar histórias pelo lado íntimo a gente (a atriz e o marido, o diretor Luiz Villaça) ficou pensando como essas diferenças estavam se estabelecendo em cada casa, como estaria a vida íntima de cada um, como as pessoas estariam reagindo. Talvez eu tenha achado pela primeira vez, nessa pandemia, com o decorrer das coisas, um lugar para existir na rede, porque eu sentia muita resistência à rede social, à essa vida postada. Mas se é para compartilhar histórias, vivências, experiências, tentar vestir o outro, sentir o que o outro sentiu, isso realmente me interessa, porque eu acho que aí sim a gente é capaz de ter uma identificação muito grande e até compartilhar opiniões.

OP - Você é uma atriz que está sempre numa conexão muito próxima com o público, já que o teatro permite que o elenco tenha uma conexão física com quem assiste. Como tem sido a experiência de se conectar com o seu público apenas virtualmente?

Denise - O teatro só existe com o público: é palco e plateia, não existe se for só o palco. O teatro não prescinde da audiência. Quem constrói a experiência teatral é o corpo presente. Por isso que acho até esquisito chamar de "teatro online" essas experiências que a gente fez. Em maio, logo no início da pandemia, também fiz Galileu e eu - A arte da dúvida à convite do Sesc, que foi pioneiro. Foi muito bacana, o projeto "Em casa com o Sesc" colocou todo mundo pra fazer suas experiências para uma câmera e era uma experiência cênica, uma maneira de fazer algo que tenha ares teatrais, mas que não era nem cinema, nem audiovisual, nem um discurso online pra câmera. Criou-se uma teatralidade para o online, com a possibilidade de poder atingir tanta gente, mas sem corpo presente. Acho que uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

No Horas em Casa, o fato de eu estar de cara limpa, sempre com a mesma cara, fazendo vários personagens vem um pouco da Eu de Você, porque nela eu uso um figurino só, não ponho uma peruca, um óculos, não me caracterizo de maneira alguma. Aqui em casa eu poderia prender o cabelo, botar um boné, mas a questão é que estar de cara limpa vivendo todos os personagens com a mesma cara é uma concepção nossa. A ideia é justamente a gente só pincelar esse personagem, como se eu estivesse contando para você "ai, eu tenho uma amiga que me disse assim". E eu não faço exatamente a amiga, eu só dou uma ideia dela pra você. Fazer isso com a mesma cara é como eu estar falando para você "olha como nós somos todos, olha como o que cada um é pertence a mim, olha como a gente não existe sem o outro, a gente é o que o outro reverbera de nós".

OP - Falando um pouco das outras experiências que você tem vivido... você recentemente estreou na série Boca a Boca (Netflix) e agora vai voltar à televisão com um papel fixo depois de muito tempo. O que você espera dessas novas conexões com o público, já que com a série talvez você atinja um público diferente e na televisão você já tem aquele público que te conhece?

Denise - A pandemia, que no início deu esse vazio, foi um tempo de muito trabalho, mas todos os trabalhos vieram dessa reflexão, dessa inquietude que esse tempo provocou em todos nós, que é um pensamento sobre a existência. Em maior ou menor grau, acho que todos nós tivemos contato com a morte, né? E eu sempre gosto de falar da minha compaixão, do meu real sentimento pelas pessoas que além de passar o que todos nós passamos, tendo que reaprender a viver de vários jeitos meio dessa maneira, ainda fizeram isso carregando o luto nas costas. Eu acho que a gente nunca pode deixar de pensar nas pessoas que perderam gente querida e passaram por tudo isso. É uma loucura o que nos aconteceu e a nossa capacidade de nos adaptar e começar a normalizar o que não dá para normalizar é assustadora. É bom que a gente mantenha a nossa indignação acesa.

Esses novos caminhos, esses novos personagens me deixam muito feliz, mas ao mesmo tempo eu não imaginava que isso ia durar todo tempo, como qualquer pessoa. Eu não imaginava que a gente ia ter que viver com isso, que eu ia ter que voltar para o teatro com uma pandemia. E eu não sei como voltar, te confesso, porque eu ainda não sei como falar para o público "venha me ver, venha se aglomerar por mim!" (risos) Eu fico um pouco constrangida, porque agora os casos estão aumentando de novo e parece que isso vai ficando mais distante... Vai dando medo na gente, não só medo do vírus, mas medo de você ser indelicado com o medo dos outros. A gente tem que respeitar muito o cuidado, porque cuidar-se é cuidar-nos.

OP - O tema da sua palestra é "Conexões Humanas em Tempos Digitais". Durante a pandemia, você vem se conectando com pessoas de maneiras diferentes através da arte. Como esse assunto será abordado na palestra?

Denise - Antes da pandemia, eu sempre falava sobre o poder da gentileza, que é uma coisa que eu sempre acreditei, porque acho que a gentileza é uma melhor forma de vida, a vida fica melhor se você fizer o exercício de ser gentil. Porém, eu acho que é muito difícil você falar de gentileza hoje sem contextualizar com a tecnologia, que foi algo que caiu na nossa cabeça e que nos potencializou em velocidade, mas não em capacidade. Sinto que a gente está sendo reformatado. Mesmo sem uma tela na frente, a gente já está ficando embotado do nosso maior poder de afeto. A tecnologia tem comprometido não só a nossa gentileza, mas a nossa educação. E eu sinto que a gente precisa remar contra esse rio que acaba nos levando para um estado meio letárgico e para uma relação social muito asséptica, muito veloz, muito pragmática, muito funcional, muito só o que interessa.

Acho que se há alguma coisa que a gente pode herdar de bom dessa pandemia é que, como a gente teve que usar a tecnologia por uma necessidade real, talvez a gente tenha conseguido usá-la de maneira mais afetiva, e isso a gente tem que lembrar: do estar ali se olhando, fazer ligações de vídeo em vez de ligar rapidinho ou de mandar mensagem. A conversa é sobre isso: sobre essa nossa nova presença virtual e como esquentá-la, como humanizá-la, como a gente não ser tomado pela frieza da tecnologia. (Ana Beatriz Caldas)

Para assistir

Programa Horas em Casa (Youtube) - https://bit.ly/36XG21t

Série Boca a Boca (Netflix) - https://bit.ly/399eJnk

Serviço

Palestra "Conexões humanas em tempos digitais", com Denise Fraga

Quando: 26 de novembro de 2020, a partir das 19 horas

Inscrições: Online, no site do Sebrae (https://bityli.com/XiF88)

Acesso gratuito

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