Logo O POVO+
A agroecologia do presente para um agronegócio do futuro
Pop-Empregos-E-Carreiras

A agroecologia do presente para um agronegócio do futuro

Um novo paradigma passou a reger as relações de consumo entre os povos e estados
Edição Impressa
Tipo Notícia
. (Foto: Getty Images/iStockphoto)
Foto: Getty Images/iStockphoto .

Poucos países no globo conseguiram atingir o protagonismo no setor agropecuário aliado ao considerável grau de preservação da cobertura vegetal original. Neste cenário, o Brasil desempenha indiscutível liderança como potência agrícola isolada no Hemisfério Sul, com área cultivada de 63.994.479 hectares, segundo a Embrapa, e produção anual de grãos aproximando-se dos 232,6 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Esses indicativos de sucesso ganham ainda mais relevância quando se considera que as terras agricultáveis nacionais perfazem uma parcela de 7,6% do território, contrastando com percentuais mais elevados em países competidores, no setor primário, ao Brasil: 18,3% nos Estados Unidos e 55% em média na União Europeia. Enquanto no Brasil 66,3% de nossa cobertura vegetal permanece incólume, a Europa, sem a Rússia, detinha mais de 7% das florestas originais do planeta e hoje possui apenas 0,1%. 

A dimensão geográfica, segundo a Embrapa, dos 563.736.030 hectares destinados hoje no Brasil à conservação da vegetação nativa representa uma área maior do que a superfície dos 28 países da União Europeia. E ainda caberia um adicional de 3,6 Noruegas nesse total.

Se até então vigorara a máxima do "rendimento a todo custo" capaz de tornar ainda mais competitivo os produtos no mercado mundial, com o advento - irrevogável - do desenvolvimento sustentável um novo paradigma passou a reger as relações de consumo entre os povos e estados, demandando uma revisão de antigas práticas produtivas que absolutizavam o rendimento e a competitividade sem se importar com os efeitos colaterais desta busca desenfreada: se o fator preço continua a impulsionar a competitividade, este agora passa a refletir os impactos ambientais de produção e de descarte de rejeitos, além de versar a respeito dos ganhos regionais que favorecem os arranjos comerciais locais.

O surgimento do "preço inteligente" que não é apenas produto fatalístico de balanças comerciais, mas, antes disso, reflexo dos custos sociais e ambientais da produção, impõe a todos os mercados uma "diplomacia verde" por demais influente no multilateralismo do século XXI para ser ignorada: decisões domésticas que destoem dos anseios globais de preservação do meio ambiente tendem a ocasionar perda de mercados e menor competitividade dos produtos.

Como todo período de transição, são altas as potencialidades e os riscos em que a primeira privilegia as iniciativas de pioneirismo e o último pune o imobilismo e apego ao passado. Nesta quadra, nosso País desponta com enormes potencialidades que exigem dos grupos econômicos a adoção de políticas ambientais como instrumento propulsor capaz de agregar valor "ecológico" às commodities agrícolas. É imperioso que se abandonem os pré-conceitos que nos dividem entre "produtores" e "idealistas" pois a realidade exige a todos o pragmatismo: não se vence nos mercados globais emergentes desprezando os dados e desvalorizando a ciência, os números não mentem e não possuem ideologia.

O nosso produto conserva valor quando conservamos nossas coberturas vegetais - de onde obtemos o nosso produto. Ignorar esta íntima relação agroecológica entre meio ambiente equilibrado e qualidade comercial não custará caro somente ao bem-estar das futuras gerações, mas também aos bolsos e às bolsas do presente. Ainda há tempo de nos prepararmos aos novos tempos, de sermos os pioneiros de um agronegócio que agrega valor no futuro de uma floresta preservada - antes que outros o façam.

Yago Queiroz dos Santos

Professor de Biologia do IFCE Campus Boa Viagem

 -

O que você achou desse conteúdo?