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Equilíbrio na educação
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Equilíbrio na educação

A busca pela saúde emocional, sem esquecer o conhecimento técnico
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Rossandro Klinjey estreia quadro "Pensando Juntos" nesta sexta-feira, 15, na Rádio O POVO CBN. (Foto: Rondinelle De Paula)
Foto: Rondinelle De Paula Rossandro Klinjey estreia quadro "Pensando Juntos" nesta sexta-feira, 15, na Rádio O POVO CBN.

Preparar os filhos e a si próprio para o futuro gera uma ânsia cada vez maior por conteúdos técnicos. Esse tipo de formação, afinal, é importante na vida profissional. Mas, além desse conhecimento prático, há uma busca intensa por saúde mental, porque aceitar as frustrações durante a carreira acaba sendo tão ou mais relevante quanto a execução bem feita de qualquer atividade.

Essa busca por maturidade emocional, junto com a busca pela melhor forma de educar os filhos, é uma das principais demandas do público do escritor, palestrante e psicólogo Rossandro Klinjey. Autor de Eu escolho ser feliz, Help: me eduque! e As cinco faces do perdão, ele contabiliza 566 mil seguidores no Instagram e 352 inscritos no canal do YouTube.

A mais nova palestra, "Limites na Educação - Uma prova de amor", será apresentada em Fortaleza no próximo dia 16 de outubro, às 20h, no Teatro RioMar Fortaleza. Em entrevista por telefone ao O POVO, Klinjey fala da importância dos limites e a necessidade da autoaceitação para um desempenho melhor na vida pessoal e profissional.

O POVO - Quais são os limites necessários na educação dos jovens?

Rossandro Klinjey - Na verdade é importante dizer, não é limite por limite, tudo que os pais fazem na relação com os filhos, mesmo que eles não saibam, mesmo que os pais não tenham consciência disso, o objetivo é pedagógico. Ou seja, de ensinar, levar algum tipo de aprendizado. A formação da personalidade de uma criança, ela se dá através dos limites que a sociedade coloca. A criança deseja algo, para conseguir o que quer ela chora, grita. Ela tem que aprender que existem regras, da família, da escola, da sociedade, dos relacionamentos. Mas ela tem que aprender isso em casa, não pode ser do jeito que ela quer, como quer. Então, esse processo vai sendo construído na família. Imagina uma criança sozinha no shopping, você não deixa uma criança sozinha atravessar uma rua, a avenida da praia. Por que os pais não permitem isso? Porque eles têm consciência de que elas não têm capacidade de ir sozinhas ao shopping ou de atravessar a avenida da praia sozinhas. Eles estabelecem o limite, colocam [o limite], seguram a mão da criança para medir a hora, como e com que intensidade vão atravessar. A mesma coisa vale para tudo na vida, uso do computador, hora de dormir, hora de comer, respeitar as pessoas. À medida que a criança vai ficando madura, vai ficando adulta e mais responsável, os limites vão sendo tirados gradualmente, num processo que hoje a gente pode chamar, uma palavra da moda, num processo de empoderamento. Você não dá a uma criança de três anos o poder que você dá a uma de 18 anos. A gente foi sendo empoderado à medida que a gente foi mostrando. Consegue ir à casa dos amigos, consegue ficar vendo série até a hora que a mãe ou o pai falou que tem que ficar.

OP - Por que a ausência de limites implica uma educação "sem amor"? Gancho da sua palestra.

RK - Porque quando você não dá limites, você não ama. Quem ama prepara o indivíduo para ser capaz de ver o mundo. Então, que amor é esse que torna meu filho tão frágil que ele se mata, que ele não consegue respeitar as regras sociais, que ele não consegue respeitar os relacionamentos, ele se frustra com qualquer "não" da vida. Então, isso é amor? Amor não é apenas dizer "eu te amo", amor é me capacitar para a vida, amor não é um discurso, amor é uma coisa prática, que me torna capaz e melhor.

OP - Nos últimos anos, a busca por resultados técnicos se aprofundou, e o desenvolvimento de competências humanas, da criatividade e do bem-estar emocional, ficou em segundo plano. O senhor concorda com isso? Qual o resultado disso na vida dos jovens, futuros adultos?

RK - O que eu entendo é que os pais sabem que o mundo é muito competitivo e têm que fornecer a melhor situação possível para os filhos, para que eles sejam capazes de conquistar o máximo, conseguir remuneração suficiente. Ainda mais em um mundo tão dominado pelo tecnológico, egocêntrico como hoje em dia. Eu compreendo e acho apenas que eles devem lembrar que eu posso dar a melhor orientação para o meu filho e ele ser incapaz de [aceitar frustração]. Se existe uma coisa frustrante é você ver um jovem, que às vezes domina outro idioma, fez intercâmbio nos Estados Unidos, fez um excelente curso, que [termina] namoro e se mata, não suporta uma frustração, entra em uma empresa e quando recebe a primeira crítica se deprime. Porque não aprendeu também a desenvolver habilidades emocionais. Mais de 87% das demissões, não só no Brasil, mas no mundo geral, não têm a ver com a capacidade técnica de executar tarefas, têm a ver com a inabilidade emocional do indivíduo. Costuma-se dizer no mercado que o indivíduo é contratado pelo cognitivo e demitido pelo emocional. Quer dizer então que a família, óbvio, deve dar a melhor educação técnica possível, mas também deve capacitar a criança emocionalmente, se não perde tudo, todo esse investimento vai para o ralo. Hoje há uma busca grande por conteúdos de coaches, textos motivacionais. Tem sua importância, mas melhor é se eu puder dar isso cedo, vou ter uma pessoa que já tem essa habilidade. Você sabe muito bem que, do ponto de vista da Psicologia de desenvolvimento, quanto mais cedo o indivíduo aprende certas coisas, se eu vou ensinar um adulto a ter habilidades emocionais, eu vou ter muito mais dificuldade do que com uma criança.

OP - O que nessa área de motivar a si mesmo e a motivar equipes efetivamente é relevante e tem resultado?

RK - A única coisa relevante sobre motivação é primeiro saber que ela nunca vem de fora, ela é interna. Então, se ela é interna, a principal motivação que eu tenho que desenvolver em mim é amor próprio, autoaceitação. Porque se eu não me amar como eu sou, eu não vou ter habilidade nenhuma de me desenvolver.

OP - Outra coisa que o senhor aborda é a personalidade como soma total das maneiras pelas quais o indivíduo reage e interage com os outros. Qual seria então uma forma de trabalhar fraquezas comportamentais no mercado de trabalho?

RK - Primeiro, eu acho que a gente tem que entender que o ser humano nunca vai ser bom em tudo. Aceitar limites é saúde mental, querer ser [alguém] que sabe tudo, que tem todas as respostas, sempre age corretamente, é uma ilusão que alimenta uma nova forma de loucura, a de não ter transtornos, não ter inabilidade, não ter incompetências. Isso não quer dizer que uma vez que eu as identifico eu vou me martirizar, eu vou o fazer o meu melhor, mas sem a falsa crença de que eu vou ser perfeito. Eu tenho que aceitar minhas imperfeições, mudar o que é possível e aceitar o que não dá para mudar. A melhor coisa que a gente pode fazer, no caso do convívio social, é não levar nossas dores, nossos transtornos para outras pessoas. Eu não posso deixar que a dor do meu passado faça com que as pessoas do meu presente sofram, ninguém tem culpa, ninguém tem nada a ver com isso.

OP - Qual seria a grande demanda atual da vida adulta? E de que forma isso repercute na vida profissional?

RK - Eu acho que é desenvolver habilidades emocionais, a gente, nessa corrida por inteligência, por competência intelectual, é compreensível essa busca [por inteligência emocional]. A gente ignora que também era necessário desenvolver a emoção, e isso tem trazido um custo. Claro que vamos continuar desenvolvendo habilidades intelectuais, o mercado está cada vez mais competitivo, mas [devemos] procurar um equilíbrio. Ao mesmo tempo que a gente desenvolve essas habilidades, também desenvolvermos a nossa capacidade de conviver com as pessoas, de respeitar e aprender a suportar a vida. Esse aprendizado é sempre importante. A saúde mental é o maior tesouro.

OP - O que as pessoas mais buscam saber nas suas palestras? Em relação à vida profissional, quais as principais questões?

RK - As pessoas buscam desenvolvimento profissional, desenvolvimento de habilidades acadêmicas, educação dos filhos, desenvolvimento espiritual e potencial, estão em busca, na verdade, de conhecimento. É como se virasse um mercado, aí qual o problema, como virou realmente um mercado a busca de saúde mental e emocional, tem um monte de charlatanismo no processo. Existem modismos e pessoas sem nenhuma capacidade ou habilidade oferecendo soluções rápidas. Eu acho que o critério de quem busca isso deve ser [pensar]: essa pessoa que está aí, ela tem uma vida que evidencia que ela está tendo esse equilíbrio que ela diz trazer? Meio que virou uma indústria, então procurar primeiro ver isso ajuda bastante.

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