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Protagonismo urgente
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Protagonismo urgente

As mulheres negras devem estar na ciência e na tecnologia
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. (Foto: Getty Images)
Foto: Getty Images .

"Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela." A frase icônica de Angela Davis expõe a urgência de debater gênero e raça na atual conjuntura e a importância da mulher negra enquanto sustentáculo social ao longo de gerações.

O Censo da Educação Superior (INEP 2016) constatou que no Brasil as mulheres representam 57,2% nos cursos de graduação. No entanto, não há mesma proporção entre homens e mulheres nos cursos de ciências exatas. Ainda no relatório é possível verificar, por exemplo, que nós correspondemos a irrisórios 10,2% no curso de Engenharia Mecânica, 13,1% na Engenharia Elétrica e 30,3% na Engenharia Civil.

Quando da análise da dimensão racial combinada com a de gênero, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2014) verificou que o percentual de mulheres brancas com ensino superior completo é 2,3 vezes maior do que o de mulheres negras. Além disso, 10,4% das mulheres negras possuem ensino superior completo.

Os dados apresentados demonstram como a combinação histórica de machismo e racismo estruturais marginalizaram a mulher negra e não permitiram o acesso igualitário à educação para que se pudesse desconstruir a divisão sexual e racial do trabalho, que as subalterniza há várias gerações.

É certo que em uma economia cada vez mais influenciada pelo desenvolvimento científico e tecnológico interfere cotidianamente na organização social. Apesar disso, nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 2% da força de trabalho em todo universo da ciência e engenharia seja de mulheres negras. No Brasil, sequer há dados para constatar o cenário.

É sabido que os empregos na área de tecnologia, engenharia e ciência oferecem excelentes salários, além de carreiras estáveis e atrativas. A falta de acesso das mulheres negras no segmento reforça a marginalização histórica e a desigualdade laboral que predefiniu o trabalho precário e pouco intelectualizado como única opção para essas mulheres. A combinação desses fenômenos é uma das maiores responsáveis pela vulnerabilidade social das mulheres, que sequer alcançam 40% da renda de homens brancos (Previdência, 2014).

As mulheres negras representam potência. Ao longo do tempo contribuíram para a formação socioeconômica do País. São a base da pirâmide social que dão sustentação aos produtos e serviços aos quais não possuem acesso. Portanto, é inadiável a adoção de medidas que provoquem a redefinição de papeis sociais que desnaturalizem a servidão e reconheçam as mulheres negras como parte imprescindível de um processo legítimo de desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação.

RAQUEL ANDRADE

Advogada e servidora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

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