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Quando a empresa não pode parar
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Quando a empresa não pode parar

Quais as medidas preventivas que não comprometem a produtividade muito menos a saúde da equipe?
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Solar Coca-Cola mantém parte da equipe em home office e outra com cuidados intensos (Foto: divulgação)
Foto: divulgação Solar Coca-Cola mantém parte da equipe em home office e outra com cuidados intensos

Devido ao isolamento social em decorrência da pandemia de covid-19, a maioria das empresas com serviços considerados não essenciais está fechada, medida preventiva para frear a contaminação. No entanto, ainda que com funcionamento diferenciado ou com menor número de funcionários presenciais, algumas empresas precisam continuar operando para prover mantimentos e serviços importantes para a população, a exemplo de supermercados e farmácias. Mas como essas empresas podem garantir a produtividade necessária e, ao mesmo tempo, a segurança de funcionários e clientes?

Segundo Haroldo Matsumoto, especialista em gestão de negócios e sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa, este é o momento ideal para empresas revisarem as funções dos colaboradores, com o intuito de permitir que o corpo administrativo, quando possível, opere em formato home office. "O ideal é que apenas quem é responsável pelo processo produtivo manual opere presencialmente, para evitar ao máximo a aglomeração de pessoas em todos os ambientes. Em micro e pequenas empresas, uma boa saída é o revezamento de funcionários", explica.

Com 500 funcionários e cinco lojas em Fortaleza e região metropolitana, o Supermercado Guará tem tomado medidas extras para tentar impedir a propagação da doença. Além de alterar o horário de funcionamento das lojas, com o objetivo de reduzir o tempo dos funcionários fora de casa, e redobrar a higiene em gôndolas, caixas e ambientes de circulação comum, os colaboradores têm feito, diariamente, teste rápido de pulmão e medição de temperatura.

"Estamos acompanhando todos os nossos funcionários e analisando quem se encaixa em grupos de risco. Temos investido em ações de conscientização para que os clientes evitem ir em família ao supermercado e também colocamos colaboradores com álcool gel na entrada de todas as lojas para higienizar os carrinhos e lembrar os clientes da importância da higiene frequente das mãos", conta a analista de marketing do Guará, Érica Catunda.

O grupo, que possui um aplicativo de entregas próprio, registrou aumento de 50% nos pedidos online nos últimos dias e, por isso, também possui um número de WhatsApp (99636.6468) para tirar dúvidas de clientes que não têm o costume de comprar por meio de apps.

 

CHECK-LIST PARA FUNCIONAR

- Horários de funcionamento especiais para evitar aglomerações;

- Uso frequente de álcool em gel e materiais de higiene;

- Distância mínima de um metro ou mais entre funcionários;

- Redução da jornada de trabalho;

- Substituição de toalhas de pano por de papel;

- Abertura de portas e janelas para arejar o ambiente.

Empresas de grande porte

Mesmo em empresas que já necessitam de um processo de higiene reforçado, como restaurantes, supermercados e fábricas que produzem alimentícios, é hora de redobrar os cuidados. Com foco na saúde do público interno e externo, de acordo com Haroldo Matsumoto, indústrias devem reforçar a regra da distância mínima entre funcionários e recomendar ações preventivas, como a substituição de toalhas de pano por toalhas de papel e o desligamento de ar-condicionado e abertura de portas e janelas, por exemplo.

Em grandes fábricas, porém, há outros pontos que devem ser observados, como a aglomeração de funcionários e regras de higiene específicas para equipamentos e máquinas. "Nas indústrias de grande porte, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) podem ser bons aliados na hora da prevenção, e, por isso, deve haver ainda mais rigor por parte das empresas ao exigir a obrigatoriedade de uso. Também é necessário que profissionais da segurança do trabalho verifiquem, nesses ambientes, quais produtos de limpeza podem auxiliar cada setor e máquina no combate ao coronavírus", ressalta.

Nas fábricas e centros de distribuição da Solar Coca-Cola, que possui mais de 12 mil colaboradores em 12 estados, medidas como o afastamento de colaboradores em grupo de risco e a alteração de regime de trabalho de funcionários do setor administrativo têm sido tomadas antes mesmo das recomendações de isolamento social. Até agora, 1.300 funcionários da empresa estão em casa, trabalhando em regime home office ou em quarentena preventiva.

De acordo com o diretor de Relações Externas da Solar, Fábio Acerbi, outras ações de prevenção incluem a exigência de distância mínima de dois metros entre colaboradores de todos os setores da empresa, a recomendação de uso frequente de uso de álcool em gel ou álcool 70 em borrifadores, o espaçamento entre roletas para evitar fluxo intenso em horários de maior movimento, como os de trocas de turnos, e a redução de jornada de trabalho para funcionários da logística, com manutenção total dos salários.

"Diariamente nos reunimos para avaliar nossas medidas e, quando necessário, atualizar o que estamos fazendo, pois acreditamos que neste momento manter uma comunicação transparente com todos é essencial. Nossa prioridade é cuidar das pessoas e, por isso, precisamos continuar os negócios. Além de produzir água mineral, também produzimos chás, sucos, e queremos possibilitar um pequeno conforto a quem vai ficar com mobilidade reduzida neste período", ressalta Fábio.

Impactos da covid-19 no home office

Tatiana Carmona

diretora executiva de consultoria para gestão de pessoas da EY

Estamos vivendo um momento sem precedentes no Brasil, no qual a covid-19 afeta cada dia mais as operações das empresas e a rotina da população. As medidas de prevenção estão sendo adotadas principalmente no sentido de isolamento social e são extremamente importantes na redução de impactos da contaminação e multiplicação em nossa sociedade.

Por outro lado, é importante que sejam adotadas práticas e procedimentos de forma a minimizar os impactos nos negócios e nas pessoas. Diante disso, temos vivenciado constantemente a adoção de diferentes medidas para amenizar o cenário. Recentemente, em 22 de março, foram publicadas novas regras aplicáveis a alguns temas trabalhistas e que terão impacto direto nas relações de trabalho durante o período de calamidade pública que estamos vivendo.

Uma das alterações recentes diz respeito ao teletrabalho, incluindo o regime de home office, já que, na medida do possível, empregadores estão definindo que seus empregados trabalhem de casa. Durante este período basta uma notificação ao empregado por via eletrônica, com 48 horas de antecedência, sobre a adoção deste regime.

Para alguns empregados, o home office já era uma realidade, embora aderido com menor frequência, mas outros sequer tinham vivenciado essa experiência, gerando, assim, uma mudança repentina em suas rotinas. Com a mudança, vieram as ansiedades e os novos desafios de manter o foco em um ambiente com outros familiares e, muitas vezes, crianças demandando atenção em tempo integral. Por outro lado, há o positivo aprendizado acerca do uso intensivo de ferramentas de comunicação.

Apesar do infeliz cenário da covid-19 que levou a esta mudança, em relação ao uso do home office, empregadores e empresas certamente terão uma experiência que talvez não tivessem num curto prazo. Poderão assim confirmar, na prática, se é viável e eficiente o trabalho em casa, para quem sabe, incorporar o trabalho remoto e/ou home office em suas políticas de forma permanente.

 

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