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Como não surtar no home office
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Como não surtar no home office

Conciliar rotina doméstica com o novo modelo de trabalho é desafio na pandemia. Saiba como manter a tranquilidade
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Sistema de trabalho em home office pode ser tendência para as empresas no pós-pandemia (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Sistema de trabalho em home office pode ser tendência para as empresas no pós-pandemia

Em um momento de crise mundial com proporções nunca antes vistas, o home office tornou-se o único regime de trabalho viável para milhões de brasileiros que estão em isolamento social. Muitos deles, porém, vivem essa experiência pela primeira vez e não dispõem de tempo suficiente para realizar as adaptações físicas e comportamentais necessárias ou para aprender técnicas sobre como ser produtivo em casa mantendo-se saudável.

No Google, a busca pela expressão "home office" no Brasil aumentou quatro vezes nas últimas semanas, demonstrando a necessidade de informação sobre o assunto, até então pouco abordado em muitos segmentos. Para muitas pessoas (especialmente quem mora com família ou amigos), trabalhar em casa pode se tornar sinônimo de estresse e angústia, ainda mais em tempos onde as incertezas profissionais e pessoais se misturam, e apenas dois cenários parecem ser possíveis: a improdutividade ou o esgotamento mental. Neste momento, segundo a psicóloga e especialista em carreira Marina Simeão, é necessário que os trabalhadores se atentem aos fatores comportamentais que fazem parte da dinâmica do trabalho remoto.

"Alguns desses fatores podem ser estimulados e orientados pela própria gestão da empresa e incluem questões como procurar um local mais reservado, fazer acordos com a rede de apoio familiar e criar um horário para as tarefas profissionais. Também é importante dar pequenas pausas, como você faria no trabalho presencial, para respirar um pouco, trocar ideia com um colega ou fazer um lanche. Não é saudável se cobrar além do normal por estar em casa", ressalta.

Outro ponto importante para manter a tranquilidade é a regulação das emoções, que quando não exercitadas podem resultar em patologias mais graves, como ansiedade e depressão. No entanto, Marina pontua que, com a incerteza do futuro, os planos pausados, as mudanças e a própria questão do trabalho são fatores que deixam os ânimos exaltados, não é incomum se sentir um pouco à flor da pele.

"É natural sair um pouco do eixo, pois isso significa que você está consciente do que está acontecendo, mas é importante regular a intensidade e a frequência desse sentimento. Tudo se torna mais fácil quando você cuida da saúde mental de forma preventiva, dormindo bem, se alimentando bem, praticando exercícios e pedindo ajuda se necessário", lembra.

Pais se desdobram para acompanhar rotina das crianças

Com a necessidade do distanciamento social, muitas famílias com filhos não podem mais contar com auxílio de uma rede de apoio presencial ou com os serviços de creches e escolinhas. É preciso fazer concessões para se dedicar às crianças e ao trabalho ao mesmo tempo. A servidora pública Guilhermina Bezerra e o esposo, Gladson, pais de Cecília, 2, e Clarice, nove meses, têm sentido essa dificuldade diariamente.

Apesar de dividirem as tarefas "praticamente de maneira igual", as filhas pequenas demandam a atenção do casal durante todo o dia, especialmente da mãe. "Horário de criança é muito indefinido, e acredito que a minha filha mais velha sentiu as mudanças, pois está dando mais trabalho para dormir e está mais dependente, principalmente, de mim", conta.

Ainda que tenham conseguido se adaptar ao teletrabalho e até percebam vantagens, como a ausência do estresse causado pelo trânsito, o casal precisa se desdobrar sem ajuda de babás ou familiares. "É uma verdadeira maratona. Estamos conseguindo fazer home office apenas durante à noite, quando elas dormem, e já chegamos a virar noite trabalhando. Mesmo quando não há trabalho, já estou tão esgotada que não consigo ter mais nenhum tempo de qualidade comigo. Acabo sentindo uma certa frustração", lamenta Guilhermina.

Pandemia acentua desigualdades

Já a assistente social Jane Aquino, mãe dos gêmeos Heitor e Davi, de sete anos, confessa que costuma tomar mais iniciativa do que o marido nas tarefas de casa. "Ele sabe fazer tudo, mas nem sempre pode pausar o trabalho, pois possui um cargo de gestão. A nossa cultura ainda é muito machista, então, realmente, é a mulher que assume", afirma.

Com as aulas online das crianças, Jane precisou adaptar seu horário de trabalho para orientar os meninos. "Como eles são muito pequenos para essa metodologia, precisam muito que a gente esteja do lado. Na hora do almoço, preciso organizar a comida deles, então acabo passando do tempo previsto. Tudo isso resulta em um sentimento de não estar produzindo", conta Jane.

Segundo Teresa Esmeraldo, doutora em Serviço Social e professora do curso da Universidade Estadual do Ceará (Uece), essa situação é resultado da ausência de uma divisão sexual do trabalho igualitária, que coloca o cuidado - não só de crianças, mas também de idosos, doentes e do próprio lar - como uma questão feminina.

Por isso, com o passar das semanas, Jane começou a se perdoar. "Precisei aceitar que os meninos não têm o mesmo ritmo em casa e que eu não vou ter a mesma produtividade. Depois que você começa a aceitar, você começa a respeitar os seus limites e se priorizar."

Esmeraldo lembra que uma estratégia necessária é fortalecer as redes de apoio, ainda que de maneira virtual. "O importante é não se isolar, ocupar a cabeça com outras questões. Afinal, o que nos fortalece e nos segura em um momento como este são os afetos."

Dicas para manter a saúde mental

Por Marina Simeão - Psicóloga clínica, especialista em carreira e diretora da M. Simeão Serviços em Psicologia

1. Não se compare ao outro. Cada pessoa é única e vai lidar de maneira diferente com a situação atual, de acordo com o impacto da pandemia em sua vida.

2. Tenha horário para estar no trabalho. Tente organizar uma rotina com começo, meio e fim, com tempo reservado apenas para atividades prazerosas, como ouvir música, assistir a um filme ou fazer uma videochamada com amigos.

3. Caso o seu trabalho permita, organize sua rotina, atividades com a família e de casa de acordo com os horários que você acredita que rendam mais para cada uma delas.

4. Tente fazer coisas que lhe tragam propósito de vida, como ajudar instituições sociais ou iniciar pequenos projetos pessoais. Esse tipo de atitude pode tornar seus dias mais fáceis durante um período de crise.

5. Crie momentos para investir na sua saúde mental, como uma hora do dia reservada para exercícios físicos ou para alimentar sua espiritualidade. Caso prefira, também é possível encontrar diversos psicoterapeutas que atendem online a preços mais baixos, além de grupos de apoio virtuais gratuitos.

Diversidade e colaboração para além da Covid-19

Por Marcelo Godinho

Sócio líder de consultoria para gestão de pessoas da EY

A frase mais clichê e talvez
mais ouvida nas análises e projeções sobre o cenário atual é: vivemos tempos sem precedência.

Nossos hábitos mudarão. Aliás, já mudaram. Trabalho remoto, por exemplo. Uma realidade amadurecida em países desenvolvidos, porém tímida no Brasil, com estruturas organizacionais moldadas em comando e controle, que julgam e penalizam as pessoas.

O discurso é carregado no coletivo, mas as políticas e processos convergem para o individual. E isso ocasiona um problema de confiança. Como confiar que o colaborador entregará o melhor resultado se eu não o vejo?

Nesse tópico, são fundamentais os insights do economista alemão Otto Scharmer, quando traz a provocação de mudança do ego-system ao eco-system, isto é, do "eu" para o "nós".

É chegada a hora de elevar a teoria à prática e declarar o óbito do modelo de liderança egocêntrica. Devemos mudar parâmetros e priorizar o indivíduo, sobrepondo-o às temáticas do mundo corporativo como gestão de riscos e compliance.

É preciso, sim, ter consciência dos impactos no negócio e das ações de curtíssimo prazo, mas também é
fundamental olhar beyond! E olhar com novas lentes, porque os remédios usados para gerenciar crises passadas não serão capazes de resolver a turbulência atual.

A voz dos colaboradores precisa ser elevada. Ouvir diferentes perspectivas com a máxima diversidade e inclusão é crucial.

O call to action é:

• NOW: entender fragilidades, ineficiências e o que bloqueia a evolução do modelo mental para colocar foco no indivíduo.

• NEXT: identificar as ações que levarão à perenidade: negócio ágil, fluido e processos de gestão de performance, remuneração e engajamento voltados ao senso coletivo.

• BEYOND: construir uma cultura fundamentada em evidências e voltada às pessoas, para que possamos desejar o extraordinário todos os dias e, assim, construir um mundo de negócios melhor.

Em quaisquer dos timings acima, a liderança só cumprirá o seu papel com inteligência emocional, humanização
e honestidade!

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