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A visão da experiência
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A visão da experiência

José Hissa fala do mercado para novos profissionais e das tendências do setor no Ceará
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José Hissa, sócio da Nasser Hissa Arquitetos Associados, fala sobre as tendências e os nichos do mercado (Foto: PRISCILA SMITHS/ESPECIAL PARA O POVO )
Foto: PRISCILA SMITHS/ESPECIAL PARA O POVO José Hissa, sócio da Nasser Hissa Arquitetos Associados, fala sobre as tendências e os nichos do mercado

A Nasser Hissa Arquitetos Associados praticamente acompanhou o crescimento urbano de Fortaleza ao longo dos seus quase 50 anos de mercado. Para falar das décadas de experiência, José Hissa participou do último programa Mercado Imobiliário, onde também aproveitou para dar sua visão sobre os cursos de Arquitetura e o crescimento de moradias com áreas de serviço compartilhada. "Eu acho que isso é uma tendência inevitável. A vida moderna hoje impõe certa praticidade. Se não tem mais a mão de obra que se tinha no passado, você tem que ter esses espaços menores. Isso é a tendência", comenta sobre o formato de colivings.

O arquiteto também enfatiza que não vê a participação de empresas de fora como algo maléfico, e, assim como na Arquitetura, há o que se tirar de bom disso. "Há 20 anos, nós nos preocupávamos com a invasão de escritório de São Paulo aqui no Ceará. Eu via como uma oportunidade de trocar experiências e não como um risco de sermos engolidos por eles. Acho benéfico qualquer participação de escritórios de fora, desde que seja feito com profissionais locais, e que traga enriquecimento para a arquitetura do Ceará."

O POVO - Como o senhor vê a grande expansão de cursos de Arquitetura no Ceará? É algo positivo para o mercado?

José Hissa - É um pouco exagerado o número de cursos de Arquitetura. Acredito que o mercado não tem condições de absorver esses profissionais todos, principalmente na nossa cidade. Se esses profissionais, após a conclusão dos cursos, retornassem as suas cidades, seria ótimo pois alguns municípios são carentes deles. Eu acho que é um número muito elevado para a absorção do mercado.

OP - O mercado é sábio. Ele cria nichos e especializações. Hoje é possível trabalhar com várias possibilidades, como a ambientação, que é uma tendência forte hoje, correto?

José - Nós que trabalhamos em escritório costumamos dizer que não fazemos projetos de interiores, pois é algo muito específico e deve ser acompanhado de perto com os clientes. Os profissionais de interiores são os que dão alma aos espaços que nós projetamos. Há uma diferença gritante entre um projeto em que você teve um profissional de arquitetura cuidando de interiores e um projeto que você constrói e não tem esse profissional. É um nicho muito importante, o qual foi ocupado pelos arquitetos de maneira bem eficiente.

OP - Qual a influência dos investimentos externos na Arquitetura do Ceará?

José - Acho que os investimentos de fora são vitais para a retomada do nosso mercado. Existem projetos que carecem de um aporte de recursos volumosos, e esses fundos, se voltarem a serem investidos no Ceará, serão muito bem-vindos.

OP - Quando uma construtora de fora vem ao Ceará ela tem mais chances de ter bons dias se tiver um parceiro local. No caso da Arquitetura, o senhor diria que essa também é a melhor forma de entrar no mercado daqui?

José - Há 20 anos nós nos preocupávamos com a invasão de escritório de São Paulo aqui no Ceará. Eu e meu irmão sempre achamos que isso seria uma oportunidade de trocar experiências e não um risco de sermos engolidos por eles. Eu acho que é benéfico qualquer participação de escritórios de fora, desde que seja feito de forma minuciosa, com profissionais locais, e que traga enriquecimento para a arquitetura do Ceará.

OP - O senhor acha Fortaleza uma cidade bonita?

José - Eu acho que Fortaleza precisa de espaços mais amigáveis para os pedestres. Nós deveríamos ter mais recursos de frente e espaços mais generosos na frente dos edifícios. Eu concordo quando se fala das nossas calçadas e a legislação está começando a ajudar.

OP - Em que medida o mercado entrega essa responsabilidade para a legislação?

José - Eu acho que a responsabilidade é do arquiteto. Não é do mercado nem da legislação. A nossa profissão tinha uma mania de sempre culpar os clientes pelos desacertos que nós produzimos. Eu acho que a responsabilidade é nossa e a nós compete fazer o melhor possível.

OP - O senhor diria que a gente aqui no Ceará ainda tem a influência do arquiteto pernambucano Acácio Gil Borsoi na história recente da arquitetura?

José - A contribuição de Borsoi foi extremamente benéfica para a nossa arquitetura. Ele tem obras marcantes aqui, e, particularmente, posso citar uma em que acompanhei, que foi a casa do seu Clóvis Rolim, na esquina das ruas Ana Bilhar com Osvaldo Cruz. Acompanhava aquela obra e me estranhava aquela casa singela. Todas as obras do Borsoi tinham esse caráter inovador. O hotel Esplanada, eu também sempre cito como referência, assim como o edifício Miró e o prédio da Receita Federal.

OP - Há uma apologia dos espaços diminutos, os espaços privativos de menores em prol de um espaço coletivo compartilhado. Como o senhor vê essa tendência e como Fortaleza pode absorver isso, que é colocado como o próximo momento do mercado?

José - Eu acho que isso é uma tendência inevitável. A vida moderna hoje impõe certa praticidade, por exemplo, os cuidados de manutenção dos espaços residenciais hoje são cada vez mais a critério de cuidados dos próprios proprietários. Se não tem mais a mão de obra que se tinha no passado, você tem que ter esses espaços menores. Eu vivo só com a minha mulher, e nós poderíamos tranquilamente habitar um espaço de 70 m² ou 80 m². Isso resolveria as nossas necessidades, além de ser um desejo dela. Isso é a tendência.

OP - O senhor acha que existe uma certa timidez do mercado e dos arquitetos em oferecer uma cidade melhor?

José - Em partes sim, mas isso está mudando. Estamos fazendo atualmente um projeto em parceria com o professor Romeo Duarte, que prevê o restauro de uma antiga residência, com um projeto novo ao lado. Isso é um processo que se realiza lentamente, mas está em andamento. Hoje, esses cuidados estão mais presentes e todos os nossos colegas têm compartilhado disso.

OP - É possível definir uma tendência a nossa Cidade, em termos de característica, e estamos falando em uma mudança recente em nossa legislação sobre prédios mais altos. O que o senhor espera dessa mudança?

José - Eu posso dar o testemunho de que há décadas, o meu irmão e eu lutamos pelo seguinte: a decisão da geometria do projeto é responsabilidade do arquiteto. A lei deveria flexibilizar isso ao máximo, exceto em raríssima situação, como diante uma catedral ou paisagismo que tenha que ser preservado. Fora disso, quem decide a geometria é o arquiteto. Algumas pessoas confundem a geometria com o índice de aproveitamento, ou seja, com a quantidade de metros quadrados que se vai produzir naquele terrenos. Essa quantidade é limitada, e quem deve decidir a melhor maneira de aproveitar a área é o arquiteto. Nós temos projetos em avenidas nobres, como a Virgílio Távora, duas esquinas valiosas que foram ocupadas com projetos de três pavimentos. Ali, os empresários optaram por fazer uma geometria horizontal, mesmo numa área valiosa e com terrenos proveitosos.

 

Alcance nacional

A Nasser Hissa Arquitetos Associados assina o projeto do centro de esportes e lazer do Banco Bozano, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Também tem hotéis e apartamentos em Manaus (AM), em Belém (PA) e no Cabo Verde.

 

Acácio Borsoi

Foi um arquiteto e projetista de obras como a Casa do Arquiteto, no Rio de Janeiro, o Fórum de Teresina e o Hospital da Restauração, em Recife. Ele contribuiu para a difusão da arquitetura moderna no Nordeste. Desenhou em Fortaleza edifícios comerciais e residenciais, como o prédio da Receita Federal e a antiga sede da Holding J. Macêdo, onde é realizada a CasaCor Ceará 2019.

Mercado Imobiliário

Confira o programa na íntegra em https://bit.ly/2nB6JpJ

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