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Bondes no centro: uma alternativa viável?
Reportagem

Bondes no centro: uma alternativa viável?

| FORTALEZA | A volta de bondes elétricos a regiões movimentadas estimularia caminhadas e integração com outros meios de transporte
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Quando abolidos do sistema de transporte público brasileiro, os bondes foram chamados de antiquados e acusados de embarreirar o progresso das metrópoles, uma vez que disputavam espaço com carros e ônibus — veículos automotores que começavam a se firmar “donos da rua”. Entretanto, sete décadas desde que o último bonde circulou em Fortaleza, agora, se vendo sobrecarregada, a Cidade pode reatar com esse modelo. Não mais na forma de pequenos trens de tração animal ou de vagões elétricos com estética retrô, mas como veículos futuristas, da “família” dos Veículos Leves sobre Trilhos (VLTs).
[SAIBAMAIS] 

O plano Fortaleza 2040 entende que os bondes modernos têm custo de implantação até sete vezes menor que o metrô e manutenção cinco vezes mais barata. Por isso, seria a alternativa mais viável caso a linha leste do metrô — do Centro ao Fórum Clóvis Beviláqua — siga emperrada nos próximos seis anos. Como vantagem, além do custo, se fala em requalificação da paisagem urbana, redução do espaço para automóvel e aumento do uso do espaço público.


Caso Fortaleza opte por seguir essa estratégia de mobilidade, os primeiros bondes devem ser instalados no Centro. A proposta, segundo o arquiteto e urbanista Fausto Nilo, coordenador do ‘2040’, demandaria duas alterações em esquinas de históricas ruas da região — ele não especificou quais, mas adiantou que as mudanças não seriam drásticas. O que Fausto Nilo pode dizer é que a volta dos trilhos ao Centro induziria caminhadas e provocaria a “desmotorização” da região, devido ao espaço reduzido para os carros. A proposta tentaria promover integração entre o modal particular e o público. “Faço recepção de automóveis na periferia da área e ‘tiro’ das ruas, no que a gente chama de ‘hub’ da mobilidade”, explicou.
 

Professor de Engenharia de Transportes na Universidade Federal do Ceará (UFC), Bruno Bertoncini analisa que o padrão de demanda do Centro consegue sustentar a manutenção da malha ferroviária e permite a convivência sem riscos entre pedestres, automóveis e bondes, “como já existe em países de Primeiro Mundo”. Mas, para isso, seria preciso integrar de forma bem ordenada esses meios de transporte a outros, como ônibus e bicicletas. “Tenho que garantir que as pessoas possam fazer essa transferência”, reforça.

Outro plano de implantação de linhas de bonde que está em análise compreende áreas da Aldeota, Varjota, Praia de Iracema e Beira Mar.

Por outro lado, Mário Ângelo Azevedo, também professor de Engenharia de Transportes da UFC, defende que esses bairros, especificamente, são “terrenos já valiosos” e que o ideal seria construir e investir em outras regiões menos adensadas. “Tem que menos gente precisar ir pra Aldeota”.  

 

BATE-PRONTO
 

O arquiteto e urbanista argentino Willy Müller, que assina os estudos das operações urbanas consorciadas de Fortaleza, entende que o adensamento urbano de bairros periféricos é uma tendência mundial que pode contribuir para o ordenamento das metrópoles. Ele também coordena o plano de desenvolvimento urbanístico integrado do Estado do Rio de Janeiro.

O POVO - Atualmente, em Fortaleza, se busca desencorajar o uso do carro particular e injetar mais usuários no sistema público de transporte. Essa iniciativa precisa ser acompanhada de qual outra para funcionar?
 

Willy Müller - Temos um cardápio de soluções satisfatórias. Trata-se de escolher bem, dependendo de cada espaço urbano, distâncias. Não acho que as soluções genéricas possam funcionar bem para todas as cidades do mundo. Tende-se a pensar que, se o BRT de Curitiba foi bom para Bogotá (Colômbia), pode ser bom para qualquer lugar, incluindo Barcelona (Espanha). Não quero dizer que não seja bom modelo, mas que a discussão não deveria estar só nisso. Como, ao mesmo tempo, pensar que podemos ter a mesma rede de ciclovias de Amsterdã, que tem a cultura do uso cidadão da bicicleta há gerações e muitas dificuldades para o uso de carro. Seria sonhar com aquilo que você não é. E um sistema só não resolve. A mobilidade está caminhando na direção sistêmica da combinação de transportes, incluindo o privado.

OP - Que tipo de ocupação surge quando se compacta uma cidade?


Willy - As cidades vão se ocupar em forma de grandes adensamentos na primeira metade deste século. À medida que sejam capazes de gerar oportunidades, distribuir riqueza e equilibrar índices negativos em saúde, educação e habitação. Esse desafio, em paralelo às mudanças climáticas que ameaçam, em particular, cidades litorâneas como Fortaleza, será a prioridade do planejamento urbano.   

 

RESUMO DA SÉRIE


Com a matéria “O transporte ideal para Fortaleza”, a série começou ontem e se encerra hoje, debatendo estratégias de mobilidade para a Capital.   

 

METRÔ


Veículo pesado, de alta capacidade de passageiros e alto custo. Circula de forma subterrânea ou em superfície.  

 

TRANSPORTES
 

VLT
 

Sigla de Veículo Leve sobre Trilhos. Circula em superfície. Está entre metrô e ônibus, tanto no custo como na capacidade de passageiros.   

 

BRT


Sigla do inglês Bus Rapid Transit. Sistema de corredores exclusivos para ônibus. Demanda veículos com capacidade para até 160 passageiros. 

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