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O POVO - Em Fortaleza, bastam duas ou três chuvas intensas, sendo otimista, para que ruas e avenidas fiquem esburacadas. Essa realidade também é constatada em outros estados do Brasil? Por quê?
Rosângela Motta - Isso pode acontecer em outros estados, sim, caso os pavimentos não tenham sido projetados para as condições a que serão submetidos (tráfego, clima etc.), construídos de maneira correta e/ou submetidos a manutenção periódica.
OP - Sabemos que uma das causas para o surgimento dos buracos é a falta de drenagem, que impede que a água escorra do pavimento. No entanto, a Escola Politécnica da USP já desenvolveu um pavimento poroso, capaz de absorver a água em excesso. Como funciona essa inovação? A água absorvida não prejudica as camadas inferiores?
Rosângela - No caso do pavimento poroso que foi objeto de estudo de pesquisas na Escola Politécnica da USP, seu projeto prevê uma estrutura de pavimento com elevada porcentagem de vazios em seu interior, capazes de absorver rapidamente a água da superfície durante uma chuva intensa, armazenando-a em sua estrutura e liberando-a gradualmente para os sistemas de drenagem. Ou seja, os sistemas de drenagem externos conseguem receber a água da chuva de maneira amortecida. A água absorvida pelo pavimento não prejudica sua estrutura, pois esta foi projetada para tal.
OP - A aplicabilidade massiva desse tipo de pavimento poroso é viável? Custa caro?
Rosângela - Sua aplicação não é viável para todos os tipos de via, uma vez que se trata de uma estrutura mais sofisticada, o que certamente encarece este tipo de solução. Sua aplicação pode ser interessante para áreas urbanas “impermeabilizadas” sujeitas a inundação, como grandes estacionamentos, por exemplo.
OP - Em Fortaleza, foi aplicado de forma experimental um asfalto modificado chamado Hima (Highly Modified Asphalt). A senhora tem conhecimento sobre esse tipo de asfalto? É realmente mais durável?
Rosângela - Nesta tecnologia é adicionado um tipo de polímero ao asfalto. O uso de polímeros pode tornar o asfalto mais resistente à ação do tráfego e da temperatura. O asfalto é um produto muito sensível à temperatura, por isso, em situações de clima quente, como de Fortaleza, e de grande volume de tráfego pesado (caminhões e ônibus), o uso de asfaltos modificados pode ser interessante. Entretanto, esta solução certamente é mais cara e, portanto, é mais indicada para condições específicas. A questão do custo deve ser considerada em função da maior durabilidade.
OP - Além do pavimento poroso, o que, atualmente, se estuda para aumentar a durabilidade do asfalto brasileiro?
Rosângela - O uso de asfaltos modificados (com polímeros, por exemplo) é uma tendência. O asfalto também pode ser modificado com a adição de borracha de pneus velhos moídos (reciclados) para a produção de asfalto-borracha. Outras tecnologias interessantes também têm ganhado espaço no Brasil, como o uso de materiais reciclados do próprio pavimento para compor novas estruturas (reciclagem de pavimentos) ou o uso de asfaltos produzidos em temperaturas mais baixas que as convencionais para menor emissão de poluentes e menor consumo de energia (misturas asfálticas mornas).
ROSÂNGELA MOTTA
Professora do departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Atua no Laboratório de Tecnologia de Pavimentação.