Logo O POVO+
Chacina das Cajazeiras: o registro da barbárie
Reportagem

Chacina das Cajazeiras: o registro da barbárie

| INQUÉRITO | Matança no Forró do Gago foi planejada por um "conselho" de criminosos da GDE e executada por um grupo especializado em assassinar, degolar, esquartejar e incendiar inimigos
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Nas investigações para se chegar aos acusados da Chacina das Cajazeiras, a Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar do Ceará (CIP) traçaram o perfil de integrantes da facção Guardiões do Estado (GDE). Os investigadores também fizeram o desenho de como a organização criminosa se hierarquiza por “cargos” e divisões de tarefas. Além disso, mapearam o território por onde a quadrilha se movimenta na disputa pelo tráfico de drogas e execução de ações bárbaras em Fortaleza.


Dentro do inquérito, Deijair de Sousa Silva, 29, é apontado pela DHPP e CIP como o único líder da GDE a morar fora da zona das favelas da periferia da Capital cearense. Do Cocó, bairro da área nobre de Fortaleza, Deijair teria sido um “dos autorizadores da chacina” que terminou com 14 mortos e 18 feridos no Forró do Gago em 27 de janeiro deste ano. Para os delegados Leonardo Barreto, Fábio Torres e George Ribeiro, que assinam o relatório final do inquérito de mais de 330 páginas, Deijair ocuparia o status de “cofundador da GDE e nº 01 do conselho” do bando de traficantes e matadores.

[SAIBAMAIS]

Deijair de Sousa, também conhecido nos negócios do crime por “De Deus”, “Dejavu” e “Dudeca”, já havia sido preso antes do ataque ao Forró do Gago – casa de show localizada em um território tomado pelos inimigos do Comando Vermelho (CV), no subúrbio fortalezense.


Dudeca foi capturado em 24 de abril de 2013, quando a Polícia Federal (PF) o flagrou ao lado de Tiago Costa de Araújo e Carlos Hélder Flanklin Marques com 101 quilos de pasta base de cocaína, pistolas e uma máquina de contar dinheiro. Segundo o relatório da DHPP, ele “é apontado como traficante de alto nível, não participando do tráfico de varejo. Supostamente, é responsável por intermediar a compra de grandes quantidades de drogas e de repassá-las para traficantes locais”.


Não por acaso e dado o “elevado poder aquisitivo”, Deijair foi rastreado em interceptações telefônicas feitas pela PF durante a Operação Expresso 150. Trama criminosa que revelou como traficantes, advogados e alguns desembargadores dos plantões do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) teriam criado um balcão para negociar decisões judiciais. A liberdade de criminosos custaria de R$ 70 mil e R$ 150 mil por habeas corpus.


De acordo com inquérito da PF, e com o processo que está no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Dejair, Tiago Costa Araújo e Carlos Hélder Franklin teriam comprado uma liminar assinada pelo desembargador Carlos Feitosa em 9/7/2013.


Solto pelo magistrado, Deijair teria tocado os negócios ligados ao tráfico de drogas e à facção criminosa GDE sem ser importunado por nenhuma das três polícias nem pelo aparelho de Justiça no Ceará. Só foi preso agora, cinco anos depois, após a Chacina das Cajazeiras.


Deijair de Sousa foi surpreendido em um apartamento no bairro Cocó, onde morava com a família. De acordo com relatório da DHPP, um imóvel de classe média alta “cujo aluguel beira os R$ 4 mil”. Também foram apreendidos dois veículos Corolla blindados, uma pistola Glock, calibre 45 e um extrato bancário no valor de R$ 160 mil em nome de uma empregada doméstica. O que levou a polícia a investigar a possibilidade do uso ‘laranjas’ para lavagem dinheiro.


O cruzamento de dados com depoimentos de informantes e diálogos extraídos dos grupos de whatsApps dos investigados da GDE levou os policiais do DHPP ao nome de Deijair. Ele, ao lado dos criminosos Zaqueu Oliveira da Silva (o H2O), Auricélio Sousa Freitas (o Celim) e os irmãos Misael de Paula Moreira (o Afeganistão) e Noé de Paula Moreira (o Gripe Suína), formariam o Conselho da GDE. Braço da quadrilha que teria planejado a ataque e convocado os algozes das pessoas que se divertiam no Forró do Gago, na favela do Barreirão.


De acordo com o inquérito da DHPP, a carnificina teria ficado a cargo dos “Quebra Coco”. Um subgrupo da facção que reúne os criminosos que assassinam, degolam, esquartejam e incendeiam inimigos ou quem tem o azar de cruzar com o crime no Ceará.


Quatorze pessoas foram indiciadas no inquérito pela maior Chacina do Ceará.

 

SOBRE O INQUÉRITO


O RELATÓRIO DO INQUÉRITO concluiu que a ordem para a matança não partiu da Casa de Privação Provisória de Liberdade II (CPPL II), em Itaitinga, como fora afirmado inicialmente. A permissão para o ataque foi concedida por lideranças da GDE que atuam em comunidades da periferia de Fortaleza.


CERCA DE 100 pessoas foram ouvidas, entre indiciados e testemunhas, oculares e auriculares, no intervalo dos quatro meses de investigação.


O DOCUMENTO TAMBÉM detalha que, de início, o ataque seria realizado no clube Nitro Night, localizado na comunidade da Mangueira, na Grande Messejana. O grupo, porém, desistiu da ação após saber que havia muitos membros do Comando Vermelho (CV) e da Família do Norte (FDN), fortemente armados, no local.

 

CONFORME AS investigações, assim como no Nitro Night, as festas realizadas no Forró do Gago também eram patrocinadas pelo CV, e frequentadas por seus membros. Nos bailes, eram tocadas músicas que fazem alusão à facção.

 

Os 14 acusados da Chacina das Cajazeiras

 

DEIJAIR DE S. SILVA

Apontado pela DHPP como líder do “Conselho”da GDE. Teria planejado e autorizado a Chacina das Cajazeiras.

NOÉ DE P. MOREIRA

“Conselheiro” da GDE. Teria “idealizado o crime”. Indiciado por homicídio e corrupção de menores.


MISAEL DE P. MOREIRA

Seria líder dos “Quebra Coco”. Grupo da facção responsável pelos assassinatos e ações bárbaras da quadrilha.

 

ZAQUEL O. DA SILVA

Comandaria o tráfico de drogas na favela da Rosalina e entorno segundo a polícia. Teria enviado “homens” para matar.

 

AURICÉLIO SOUSA

Seria líder do tráfico na Babilônia/Barroso II. Teria fornecido “armas e homens” para a matança no Forró do Gago.

 

KEVIN ANDERSSON

Ainda está livre. Seria homem de confiança de Misael. É apontado como fornecedor de parte das armas para a chacina.

 

JOEL ANASTÁCIO

Seria um dos matadores. Segundo a DHPP executou o ambulante que trabalhava em frente ao Forró.

 

FERNANDO A. SANTANA

Apontado como um dos matadores do grupo “Quebra Coco”. Fugiu para Bahia após a chacina e foi capturado lá.

 

RENAN GABRIEL

O “Biel”. Criminoso de confiança de Celin da Babilônia. Teria participado ativamente da matança no dia 27/1/2018.

 

UM JOVEM DE 17 ANOS

Pelo telefone, falou de sua participação. Além dos comparsas: Ruan, Robin Hood, Joel, Irmão Pedro e Kelson.

 

FRANCISCO KELSON

Participação confirmada por um adolescente, por fotos do grupo tiradas minutos antes da ação na casa de show.

 

PEDRO P. DO PRADO

Vulgo “Samurai”. Sua participação aparece em conversas de WhatsApp

trocadas entre RD e adolescente.


RUAN DANTAS RD

Em depoimento, afirmou ter incendiado os dois veículos usados pelos matadores. Sua participação seria mais efetiva.

 

AYALLA DUARTE

Teria incendiado um dos veículos do crime. Solto pela audiência de custódia, deu fuga a vários investigados pela DHPP.

 

O que você achou desse conteúdo?