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Dez times que sumiram
Reportagem

Dez times que sumiram

| Futebol no Interior | Levantamento exclusivo revela que ao menos dez clubes cearenses deixaram de disputar competições profissionais na última década
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Em pouco mais de dois meses os campeonatos estaduais estarão de volta. O desenho de todos eles é o mesmo dos últimos anos. Dois ou três clubes grandes favoritos, geralmente da capital, e um monte de coadjuvantes, a maioria de outros municípios, de onde vez por outra sai uma surpresa. Nesse panorama comum em todo o Brasil, o futebol cearense tem apresentado uma característica própria e preocupante: perda de força do futebol do Interior.

 

Não estamos falando apenas de disputa de títulos, apesar de que o último clube interiorano a disputar final da Primeira Divisão do Cearense foi o Guarany de Sobral, em 2013. Levantamento feito pelo O POVO constatou que pelo menos dez times de fora da Capital deixaram de disputar competições de futebol profissional no Estado nesta década. Dentre eles, equipes que eram figuras carimbadas na elite cearense, como Quixadá e Limoeiro.

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A lista engloba também os times de Boa Viagem, São Benedito, Trairiense, Arsenal, Tauá, Jardim, Uruburetama e Eusébio, todos afastados dos gramados há no mínimo duas temporadas. A maioria já é considerada inativa pelo site oficial da Federação Cearense de Futebol (FCF), status usado quando um clube passa três anos sem competir.

 

Os motivos que levaram ao desaparecimento dessas equipes são múltiplos, porém comuns a todos. "Noventa por cento é falta de apoio do poder público, no caso, a prefeitura municipal. Sem isso, time do Interior não anda", afirma o último presidente da Associação Desportiva São Benedito, Aurélio Alves, de 61 anos. O ex-dirigente aponta ainda a barração de estádios como um segundo gargalo. "O Ministério Público faz exigências estapafúrdias. Eles querem que um estádio como o Capitão Tarcísio Araújo (em São Benedito) seja igual ou superior a um estádio de Copa do Mundo", reclama.

 

Ivan Nobre, 56, responsável pela Associação Desportiva Limoeiro Futebol Clube ? que não tem relação com o Esporte Clube Limoeiro, que disputou a Série B cearense nesta temporada ?, aumenta a lista de "vilões", citando a FCF. "A gente chega lá e tem um pacote de pagamentos para ser feito, dá até desespero", relata. Neste caso, porém, ele se refere a reativação do time, que não joga desde 2015 e, por isso, está inativo. Custa R$ 80 mil reais para que uma equipe volte a ter condições de jogo (metade vai para a CBF e a outra para a federação local).

 

Mesmo para quem não tem esse problema, o futebol pesa no bolso. Todos os dirigentes ouvidos pelo O POVO afirmaram que as partidas ficaram mais caras. O pior cenário é de quem não pode jogar em casa, seja por não ter estádio, seja porque a praça esportiva da cidade não tem laudos aprovados pelo Ministério Público.

 

José Alberto Esteves, conhecido como Berico, 39, presidente da Associação Desportiva Arsenal de Caridade, precisava de orçamento de viagem para todos os jogos, já que seu mando era em Maranguape, no estádio Moraisão. 

 

Ele cita tudo que é cobrado para a realização de um jogo oficial nos dias de hoje. "Só a viagem (sem hospedagem) custa em torno de 3 mil reais. Fora isso, tem que pagar a arbitragem, a ambulância, o aluguel do estádio e o quadro móvel", enumera. O somatório sai em torno de R$ 7 mil por partida de uma segunda divisão local. Não mandar partidas na cidade de origem, segundo Berico, gera ainda um agravante. "Se você não jogar para a sua torcida, nenhum empresário do seu município vai querer investir".

 

Quem não desapareceu, vem perdendo força. São os casos de Itapipoca, Itapajé e Icasa, de Juazeiro do Norte, por exemplo. Agremiações dessas três cidades disputaram a elite cearense pelo menos uma vez na década e hoje sobrevivem na segunda ou terceira divisões.

 

O Estadual deste ano deixou claro perda de espaço do Interior. Foram apenas dois representantes: Guarani de Juazeiro e Iguatu. O Horizonte representou a Região Metropolitana de Fortaleza.

 

Números


42 participações
o Quixadá acumulou na série  a do cearense entre 1969 e 2016

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