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Local da barbárie é hoje ocupado por uma igreja
Reportagem

Local da barbárie é hoje ocupado por uma igreja

| Rua Madre Teresa de Calcutá | Moradores ouvidos por O POVO afirmam que tranquilidade voltou a ser rotina
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Tipo Notícia

Passado um ano, o palco da maior chacina da história do Ceará mudou radicalmente suas feições. O outrora Forró do Gago hoje é lar da igreja evangélica Santuário da Palavra de Deus. Seus representantes afirmam que o templo ajudou a mudar o estigma de violência que pairava sobre a rua.

Hoje, conforme moradores ouvidos pelo O POVO, essa região das Cajazeiras vive em tranquilidade. Apesar disso, a comunidade segue registrando a ação do Comando Vermelho (CV).

As pichações da facção continuam marcando muros das ruas dos bairro. Estão, inclusive, em um poste ao lado da hoje igreja. No entanto, a prática comum nas localidades dominadas por facções de fiscalizar e ameaçar motoristas que entram no bairro deixou de acontecer, exemplifica uma fonte como sinal da tranquilidade.

Ela, que terá a identidade preserva, ainda lembra de episódios de violência motivados pela disputa de facções no local, mas não mais ocorreu tentativas de "tomar" o bairro.

Conforme o pastor Francisco César Serafim, 30, da Santuário da Palavra de Deus, a igreja concorreu para renovar a sensação de segurança no local. Dias após a chacina, ele relembra, às 19 horas não havia mais quem se arriscasse a ficar na rua. Hoje, voltou-se à rotina normal, "sem medo". "Nós fomos abraçados pela comunidade", afirma César.

O intuito era "tomar de conta dessa rua". "Fazer com que essa rua apague aquela cena de horror que teve". A igreja faz ações sociais, como a entrega de cestas básicas para moradores do bairro.

A transfiguração religiosa já havia sido anunciada pelo proprietário do espaço, horas após o massacre. Mas, a igreja que assumiu de imediato realizou "dois cultos" e não mais usou o local, diz o pastor César. Há cerca de quatro meses, a Santuário da Palavra de Deus, que já atuava na comunidade, resolveu alugar o espaço.

O pastor diz que arrendou o local com um comerciante. Disse não saber quem era o dono, apenas que o terreno era da família dele.

Apontado como dono do Forró do Gago à época do crime, José Clediano Girão Nobre chegou a ser indiciado por poluição sonora.

Em setembro último, despacho do juiz que preside o caso apontava que ele se encontra em local incerto e não sabido. A última movimentação do processo ocorreu em outubro do ano passado. O POVO não conseguiu localizá-lo.

César agora torce para que o estigma de violência deixe a região das Cajazeiras. "O nosso bairro ficou com uma visão de um lugar ruim de morar. Na verdade, se você sair em uma rua dessa com o celular na mão ou qualquer outro aparelho, você vai ver que a comunidade é tranquila. Entra, sai, ninguém mexe".

Um dos vizinhos da igreja é também pastor hoje nela. Alexandre Alves, 41, lembra que no dia do crime, salvou uma jovem. Após pular o muro do Forró, ela bateu na porta da casa de Alexandre. Apesar do medo, ele abrigou a adolescente, de 17 anos.

No telhado, outras sete pessoas se avolumavam para salvar-se dos tiros, relembra. Alexandre é outro a destacar a retomada da tranquilidade e a contribuição da igreja para tanto. Outro vizinho, porém, foi embora "porque não aguentou". É uma das casas com placa de "vende-se" na rua Madre Teresa de Calcutá. (Lucas Barbosa)

 

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