Logo O POVO+
Na mesma Fortaleza, uma diversidade de infâncias
Reportagem

Na mesma Fortaleza, uma diversidade de infâncias

Na Aldeota, cenário é outro. Notícias de violência não chegam às crianças
Edição Impressa
Tipo Notícia
NA PRAÇA DAS FLORES, brincadeira ao ar livre e desconhecimento sobre facção e violência (Foto: Mateus Dantas)
Foto: Mateus Dantas NA PRAÇA DAS FLORES, brincadeira ao ar livre e desconhecimento sobre facção e violência

A alguns quilômetros da comunidade dominada por facção, em uma Aldeota com ruas asfaltadas e bem iluminadas, o anoitecer na Praça das Flores, localizada em um dos quarteirões mais valorizados da Cidade, tem outros ares. Aos poucos, crianças de diferentes idades, acompanhadas dos pais ou responsáveis, aglomeravam-se em busca da diversão proporcionada pela segurança de um dos bairros que não sofreram com ataques.

Em um cenário sem limites de circulação territorial e com ampla variedade de serviços urbanos públicos, meninas e meninos demonstraram desconhecer problemas enfrentados por outras crianças, residentes em bairros distantes poucos minutos dali.

A primeira criança com quem O POVO conversou foi um menino de 9 anos que franziu a testa diante da explicação do objetivo da reportagem, sem entender detalhes do universo desconhecido representado pelas facções. "Fac o quê?". De acordo com a babá dele, moradora do bairro Genibaú, a família do menino tenta não mostrar notícias que possam impactar negativamente no desenvolvimento da criança. "Lá no meu bairro é diferente, todas as crianças sabem do que acontece. A criança da classe pobre enfrenta tudo isso. Aqui (Aldeota) não, ele não tem acesso, é outra classe social".

Outro garoto, também de 9 anos, afirma que soube dos ônibus incendiados, mas sem demonstrar saber do que se tratava. "Sei lá, não sei o que isso significa". O irmão dele, de 13 anos, comenta que chegou a ver imagens de veículos e lojas incendiadas na televisão, mas que não entendia o porquê desses acontecimentos. "Acho que é insegurança".

Os pais dos dois meninos disseram que evitam comentar detalhes de ações criminosas com as crianças. Durante a primeira semana de ataques, a família deixou de realizar passeios tradicionais. "Todos as quintas eles iam andar de skate na Beira Mar. Quando começou (a onda de ataques), não deixei mais", relata a mãe. O pai conta que, na época dos ataques, a Praça das Flores ficou irreconhecível, sem pessoas praticando atividades físicas e sem as costumeiras brincadeiras protagonizadas por meninas e meninos.

A mãe comemora a ausência de ataques no bairro. "Graças a Deus, não ouvi falar de nada aqui na Aldeota". Ela e o marido afirmam que, assim como os pais do primeiro menino ouvido pelo O POVO, tomam uma série de cuidados ao abordar o assunto com os filhos. O pai diz lamentar a realidade vivida por crianças da periferia e que tenta esconder esse tipo de problema dos filhos.

"A gente se solidariza, mas meus meninos não sabem o que é facção. A gente toma até cuidado para que eles não se misturem com outras crianças desses bairros (onde ocorreram os ataques) que estudam no colégio deles", confessa. Um dos meninos trajava a farda de uma escola da rede pública de ensino.

O que você achou desse conteúdo?