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Impacto sobre a vivência da infância na periferia
Reportagem

Impacto sobre a vivência da infância na periferia

Brincadeira e violência são realidades distintas conforme o espaço
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CRIANÇAS de área dominada por facções criminosas relatam ruas dividas e impedimentos para brincar na rua (Foto: O POVO)
Foto: O POVO CRIANÇAS de área dominada por facções criminosas relatam ruas dividas e impedimentos para brincar na rua

As diferenças territoriais em Fortaleza demarcam não apenas divergências espaciais. A partir dos relatos de crianças que vivem em diferentes zonas da Cidade, é possível perceber que a manifestação da infância e os cuidados relacionados ao consumo de informação também mudam de acordo com a área.

Erica Atem, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (Labgrim) e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), pontua que as particularidades vividas por crianças residentes em áreas periféricas precisam ser levadas em conta na análise do impacto causado pela presença de facções criminosas na vida cotidiana. "Aquelas (crianças) moradoras de regiões periféricas têm sofrido mais o impacto da violência, se quisermos focar apenas na questão de onde moram", analisa.

Dados do relatório do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, referentes ao primeiro semestre de 2018, corroboram com a reflexão da pesquisadora. O documento conclui que Fortaleza é uma capital com altas taxas de homicídios de pessoas entre 10 a 19 anos. Somente nos sete primeiros meses de 2018, foram 189 meninos e meninas dessa faixa etária mortos.

Erica também defende que a mudança no quadro passa por reorganização urbana. De acordo com ela, é fundamental que a sociedade e os governos garantam que meninas e meninos brinquem e, dessa forma, ocupem os espaços públicos. "Brincar é uma forma de dizer o mundo do qual se faz parte. Garantir que isto ocorra não é uma tarefa isolada dos pais nem uma empreitada pedagógica. (...) Em que lugares podemos estar com as crianças em meio às suas práticas lúdicas, que não sejam em espaços fechados, privatizados e pagos? Gostaria que todo esse cenário nos fizesse pensar em como temos conduzido nossos desejos de cidade", conclui.

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