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Brasil tem de ser protagonista, dizem especialistas
Reportagem

Brasil tem de ser protagonista, dizem especialistas

| ANÁLISE | País deve exercer papel histórico, o de mediador da crise
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Quando participarem da reunião do Grupo de Lima, na Colômbia, na próxima segunda-feira, 25, conduzida pelo presidente da Colômbia, o conservador Ivan Dúque, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, terão de propor saída pacífica para a crise pela qual passa a Venezuela.

A avaliação é do professor de Relações Internacionais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Sidney Ferreira Leite. Ele diz que o "cheiro de pólvora está no ar" e a questão venezuelana demanda pressa.

"Temos longa história de diplomacia vitoriosa no sistema internacional, princípio de negociação de conflitos e não de (estímulo de) confrontos".

Questionado se o chanceler brasileiro terá condições de promover ou contribuir para uma proposta de solução pacífica, Ferreira Leite prefere mencionar Mourão. "Nós vamos torcer para que (Mourão) recupere a nossa tradição de buscar a negociação".

A relação entre os países ganhou novos contornos com o fechamento de fronteira que liga Roraima à Venezuela. A ação de Nicolás Maduro se deu após sinalização de ajuda humanitária brasileira.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou ontem, inclusive, que cerca de 200 toneladas de alimentos, como arroz, feijão, açúcar, café, sal e leite em pó, além de kits de primeiros-socorros "à espera do transporte" tomarão, se possível, o rumo da Venezuela.

O empecilho para os mantimentos chegarem reside nesta fase da crise. Um aceite de Maduro, elabora Ferreira Leite, seria a admissão de fracasso à frente do país. Ele menciona ainda a narrativa do ditador, de que a ajuda representa ameaça externa de ocupação ou mesmo um levante popular, já que a fronteira poderia ser canal para armamentos.

O também professor João Bosco Monte concorda que esta é a retórica do mandatário venezuelano. Diz que, para Maduro, a saída é pelo populismo, já que há cerco externo cada vez mais inoportuno para ele.

Mesmo assim, o professor menciona a fronteira como um fator que distingue ainda mais o Brasil das demais nações. Este, entre outros fatores, alça o Brasil à condição de conciliador.

Monte pondera, contudo, que o contexto se difere de outros já vividos: o chavismo de Maduro se vê em declínio, à beira do isolamento, e o Brasil tem outro governo, que marca posição clara em relação ao regime, saindo do terreno de neutralidade antes comum.

"Mesmo com uma Venezuela diferente e um Brasil diferente, deveria haver outro posicionamento que não este", critica Monte. E complementa: "Não estou dizendo que deva apoiar Maduro, mas, como as nossas fronteiras são uma só, o País precisa ter papel de expressão".

Ainda segundo Monte, diante disto, entra ou deveria entrar em cena, então, Ernesto Araújo. "Deveria entrar na história recente como jovem diplomata a emprestar seu nome para buscar entendimento", sugere o professor, que logo desconsidera chances reais disto acontecer, já que diz pensar que a formação do ministro não aponta para entendimentos desta natureza.

 

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