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Barragem do rio Cocó sangra e desaloja população ribeirinha
Reportagem

Barragem do rio Cocó sangra e desaloja população ribeirinha

Em alguns pontos, a água ultrapassava a altura da cintura, mesmo horas após o fim chuva. Pessoas contavam com ajuda de vizinhos para salvar pertences e conseguir abrigo
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EM FEVEREIRO DE 2019, barragem do Cocó transbordou inundando casas no Conjunto Palmeiras (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES EM FEVEREIRO DE 2019, barragem do Cocó transbordou inundando casas no Conjunto Palmeiras

Quem seguia na tarde de ontem na rua Valparaíso, no Conjunto Palmeiras, uma das principais vias de acesso ao bairro José Walter, encontrou cones e pneus colocados no meio da rua pelos moradores, que anunciavam: "não tem acesso". A chuva da manhã e da madrugada de domingo fez com que a água extravasasse da barragem do rio Cocó, causando alagamento nas ruas e nas casas. Em alguns pontos, a água passava da altura da cintura de uma pessoa adulta. Alguns moradores do bairro precisaram procurar abrigo, tentando salvar os poucos pertences que não ficaram imersos.

Os moradores ficaram ilhados, alguns preferindo ficar na calçada de suas casas, já que a água também estava do lado de dentro. O POVO visitou o bairro por volta das 14h30min de ontem, horas após a chuva cessar, durante a manhã. Conforme pessoas que moram no local, é comum que situação ocorra quando chove muito. Houve anos em que demorou até três dias para que toda a água escoasse.

O servente Alex de Almeida, 28, perdeu devido à chuva guarda-roupa, cama, estante e estoque de água mineral, que vende para complementar a renda. "Quando acordei a água tava batendo na canela. Muita gente saiu só com a roupa do corpo mesmo", relata. Ao ser questionado sobre perspectivas, fez silêncio. "Só Deus mesmo, não sei como vai ser", respondeu.

Para a cuidadora de idosos Geracinda Sampaio, a preocupação maior são os dez gatos que moram junto com ela. Alguns de seus companheiros estavam em cima da cama e outros, perdidos. "Nada me importa, móveis, não tenho apego. Meu problema é só os gatos. Não tem onde ficar. Tem uns em cima da casa e não querem descer para comer", chora, preocupada. Na vizinhança, era comum ver animais como gatos e galinhas em cima dos telhados, sem ter como descer devido à água.

A dona de casa Marluce Lourenço, 57, tentou se preparar para a possível enchente quando viu que se aproximava o tempo de chuva; suspendeu os sapatos e desligou aparelhos eletrônicos. O impacto da água, porém, foi muito maior que o esperado. "A água entrou de uma vez. Não dá para ver o que eu ainda tenho", diz. Ela contou com ajuda de vizinhos para resgatar aos poucos alguns móveis. Mas ainda não sabia para onde levar, já que não conseguiu alugar outra casa em tão pouco tempo.

Das três famílias que moravam na casa da dona de casa Edslania Ribeiro, haviam sido salvos apenas algumas redes, um fogão e documentos. Eles usaram a porta de uma geladeira como suporte para carregar os poucos pertences e as crianças por meio da água até o abrigo temporário que conseguiram, na rua Avaré. "A gente não tinha quase nada, perdemos tudo o resto que a gente tinha", lamenta.

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