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Mourão assume o protagonismo no Grupo de Lima
Reportagem

Mourão assume o protagonismo no Grupo de Lima

| VENEZUELA | Sem ceder às pressões dos Estados Unidos, vice-presidente defende interesses dos militares brasileiros e busca solução política e não violenta
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O vice-presidente Hamilton Mourão, general da reserva, representa a ala governista que não quer se envolver em um conflito regional com a Venezuela. Mais que o chanceler Ernesto Araújo, é Mourão quem tem sido a voz de representação brasileira internacionalmente na crise. Ontem, ele esteve em reunião do Grupo de Lima, em Bogotá, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. A resolução final foi o que ele previa e defendia: saída sem intervenção militar e aperto em sanções.

"Vamos manter a linha de não intervenção, acreditando na pressão diplomática e econômica internacional para buscar uma solução pacífica. Sem aventuras. Condenamos o regime de Nicolás Maduro e estamos indignados com a violência contra a população venezuelana", disse Mourão.

Fluente em inglês e espanhol, o general serviu como adido militar no país entre 2002 e 2004, ainda no governo de Hugo Chávez. Nesse cargo, o militar é alocado junto a uma representação diplomática brasileira no Exterior e tem a missão estreitar laços com autoridades locais. Durante esse tempo, ele pôde conhecer o funcionamento do exército e da política venezuelanas como poucos (ou ninguém mais) no atual governo. Também acompanhou de perto manifestações contra e a favor do chavismo, já naquela época. Segundo a colunista Mônica Bérgamo, Mourão diz ter previsto a crise que atinge a Venezuela.

"O governo está dividido em qual ação tomar. Os militares têm sido reticentes em assumir um papel agressivo e mais interventor. Mourão se credencia como alguém que conhece a estrutura do exército e a maneira de pensar. Ali é um ponto importante principalmente nessa discussão em que há, no lado americano, uma pressão maior colocando por uma intervenção. Alguém com conhecimento de Mourão é um ganho", diz a professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker.

Mesmo com a onda xenófoba de parte dos apoiadores de Bolsonaro, Mourão sempre se colocou favorável ao acolhimento de refugiados venezuelanos e em busca do diálogo internacional para resolver a crise do país vizinho. Mourão entra como a parte do governo que quer manter a tradição diplomática brasileira de não-intervenção. Não cede à pressão americana, embora mantenha boa interlocução com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence.

Defendida pelo general e pelo próprio chanceler Ernesto Araújo, a resolução do Grupo de Lima de não intervir com força militar na Venezuela acaba sendo um banho de água fria para o autoproclamado presidente interino da Venezuela Juan Guaidó. Sem apoio da alta cúpula das forças armadas venezuelanas, ele apela para auxílio internacional para derrubar o regime chavista. A pesquisadora Denilde Holzhacker avalia que os próximos dias sejam decisivos na disputa pelo poder e o futuro da crise está nas mãos dos militares, mais que de influências internacionais.

Venezuelan opposition leader and self declared acting president Juan Guaido speaks during a press conference, in Caracas on February 18, 2019, on the fifth anniversary of Venezuelan opposition leader Leopoldo Lopez's arrest. - Venezuela's crisis was deepening Monday as opposition leader Juan Guaido's deadline to let in desperately needed humanitarian aid loomed, and President Nicolas Maduro showed no sign of backing down on blocking the shipments. (Photo by Federico PARRA / AFP)
Venezuelan opposition leader and self declared acting president Juan Guaido speaks during a press conference, in Caracas on February 18, 2019, on the fifth anniversary of Venezuelan opposition leader Leopoldo Lopez's arrest. - Venezuela's crisis was deepening Monday as opposition leader Juan Guaido's deadline to let in desperately needed humanitarian aid loomed, and President Nicolas Maduro showed no sign of backing down on blocking the shipments. (Photo by Federico PARRA / AFP)

Nicolás Maduro

Partido: Partido Socialista Unido da Venezuela

Aliados internos:

1.Judiciário. A Suprema Corte venezuelana já deu parecer favorável diversas vezes ao governo.

2.Forças armadas são o principal pilar de sustentação de Maduro no governo. Possuem arsenal militar e influência política.

3.Assembleia Constituinte foi convocada em 2017 por Maduro e ganhou o poder de legislar para tentar substituir o papel da Assembleia Nacional.

Aliados externos:

1.Rússia é o maior suporte internacional de Maduro. O país contribui com vetos a intervenções em órgãos internacionais. Também é o fornecedor de armas da Venezuela.

2.China também tem se posiciona contrária a qualquer tipo de intervenção no governo venezuelano.

3.México, Uruguai, Bolívia, Cuba e Turquia também fazem parte do pólo que rejeita Guaidó como interino.

 

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