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"Reacomodação" entre facções influencia na redução
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"Reacomodação" entre facções influencia na redução

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Luiz Fábio Paiva, professor de sociologia e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que, pelas pesquisas, as taxas de homicídios costumam estar ligadas à dinâmica dos conflitos entre os grupos de facção, "seja quando eles (conflitos) se intensificam, produzindo uma escalada nos homicídios, seja quando essas forças se acomodam e realizam tréguas, baixando essas taxas". Na avaliação do pesquisador, a redução vista no Estado poderia estar ligada a uma "reacomodação" dos confrontos, e não a uma mudança de política pública.

"Quando eles (conflitos) se intensificam, esse número (de homicídios) aumenta, e quando eles sofrem uma acomodação, esses números de homicídios são reduzidos. A gente não observa no ano de 2019 que houve uma mudança na política de segurança pública. A política do governo continua a mesma, com processos de intensificação do combate, intensificação do controle social. Agora houve uma mudança na gestão prisional, mas, com certeza, não são essas ações que estão efetivamente reduzindo o homicídio", opina Paiva.

O pesquisador explica que no Ceará, nos último anos, sobretudo em 2017 e 2018, facções estavam em disputa de controle dos mercados ilegais de droga e de territórios com muita intensidade. "Foram várias situações de invasão, de chacina, um processo muito turbulento. Hoje, esses grupos parecem mais acomodados às suas situações. Você não vê mais tanto as situações como de invasão de territórios ou de conflito entre eles. É como se cada grupo tivesse constituído o seu espaço e seu lugar de poder, e estivesse, por enquanto, tranquilo com o que conquistou", aprofunda.

Paiva lembra ainda que, apesar de arrefecida, a atuação das facções ainda permanece. "Em janeiro, nós estávamos sob ataques de grupos faccionados. Esses grupos sumiram? Eles pararam de atuar no Ceará? Não. Continuam atuando. Se você for à periferia, vai continuar encontrando pessoas que estão saindo de suas casas a mando de facções criminosas. Esses grupos continuam presentes no nosso cotidiano, na nossa periferia, e continuam exercendo o poder de mando nesses lugares. O que mudou, realmente, é a intensidade dos conflitos entre eles", conclui. (Isaac de Oliveira)

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