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Caminhoneiros pedem baixa do diesel
Reportagem

Caminhoneiros pedem baixa do diesel

| Reivindicação | O governo tenta negociar para evitar uma nova paralisação. Lançou, por exemplo, cartão pré-pago contra oscilações de preço
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Sara Oliveira
saraoliveira@opovo.com.br
Jornalista do O POVO
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Foto: O POVO Sara Oliveira saraoliveira@opovo.com.br Jornalista do O POVO

O preço do diesel continua subindo, o piso mínimo do frete não é cumprido e ainda há o impacto direto de uma economia sem destaques. Entre desastrosas tentativas de intervenção nos custos da Petrobras e promessas ainda sem data para serem efetivadas, a política que tenta equalizar a rentabilidade dos caminhoneiros não caminha devidamente.

O Cartão Caminhoneiro, que consiste em um cartão pré-pago e deve começar a ser implantado no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro ainda nesta semana, é uma das expectativas positivas. "Porque garante o preço, mesmo que o combustível esteja mais caro no local de destino. Com isso, amortece variáveis de um ponto a outro", explicou o consultor sobre petróleo e gás, Bruno Iughetti. Conforme ele, uma medida inteligente do Governo Federal. Evitará que o caminhoneiro encha o tanque a um preço e, durante a viagem, reabasteça por um valor mais alto.

De São Paulo ao Ceará, o gasto com óleo diesel pode chegar até R$ 6 mil. Sem contar com as diferenças de preços entre as regiões brasileiras. O combustível nos postos cearenses custa até 4,5% a mais do que em estados vizinhos como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba, onde estão instalados importantes portos. Para Iughetti, apesar da realidade financeira, uma nova greve como a do ano passado é difícil de acontecer. "Se trata de um momento político diferente, houve uma renovação e há uma expectativa de negociação junto aos caminhoneiros. O Cartão serviu para arrefecer os ânimos", ponderou.

A medida ajuda, mas os caminhoneiros querem mesmo é diesel mais barato. Caso isso aconteça, ponderam até não precisar mais que a tabela de frete seja impositiva. "O governo prometeu que estabeleceria uma nova política de preço e isso não aconteceu. Não sentimos o efeito amortizador de preço", destaca o especialista.

A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), que liderou a paralisação de 2018, afirma que o combustível representa em média 40% do custo operacional do caminhoneiro. Uma audiência junto ao Governo Federal está programada para quinta-feira, 23, e a categoria aguarda anúncio de redução no preço do combustível. "No valor que está, subindo semanalmente, a possibilidade de uma nova paralisação é real. O preço do petróleo influencia até no valor do pneu, que tem derivado na sua borracha, e que hoje custa em média R$ 2.200. Um caminhão que usa 30 pneus", calculou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte de Mudanças, Bens e Cargas do Ceará (Sindicam), José Tavares Filho.

De acordo com ele, em algumas localidades cearenses o litro do diesel chega até R$ 4,30. Para ele, o pacote de medidas anunciado recentemente pelo presidente Bolsonaro, que inclui o Cartão Caminhoneiro e o aumento de crédito aos caminhoneiros, nem de longe supre a necessidade dos trabalhadores. "Eles esquecem de avisar sobre os juros que serão cobrados. E o cartão, se o caminhoneiro não tem dinheiro, como ele vai pagar adiantado?", questionou.

O cenário, ainda conforme o presidente do Sindicam, exibe ainda a diminuição da produção industrial. Que também influencia nos fretes. "Sem produção o transporte não funciona e tudo para. Se está parado é culpa do governo", acrescentou.

O assessor econômico do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo (Sindipostos-CE), José Antônio Costa, lembrou que, ainda em 2018, houve uma tentativa de fazer com que os preços não subissem. Um Decreto possibilitou essa estagnação por 90 dias. "Mas de imediato as distribuidoras de combustível furaram o acordo, dizendo que se subiram o frete - uma tabela com preço mínimo foi estabelecida - o valor ia subir. Isso é mercado", justificou. Enfático, ele destacou que só há duas maneiras de fazer com que o preço do diesel realmente fique num patamar baixo. "Ou diminui os impostos ou abre o mercado para outras empresas, além da Petrobras, instalarem-se no Brasil", ponderou.

 

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