Logo mais, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) desembarca pela primeira vez desde o início de seu mandato em um estado nordestino. O pesselista deve visitar duas cidades pernambucanas, Recife e Petrolina, em uma rápida passagem pelo Nordeste, com apenas duas agendas oficiais e sem uma comitiva presidencial confirmada.
A visita indica uma tentativa de aproximação da única região no país na qual Bolsonaro foi derrotado em todos os estados nas eleições de 2018. Além disso, Nordeste é também onde o presidente tem a pior avaliação da gestão: 40% o consideram ruim ou péssimo, segundo pesquisa do Ibope divulgada no final de abril.
Na capital pernambucana, Bolsonaro participa da reunião do Conselho Deliberativo da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) para discutir o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE). Do encontro também devem participar os nove governadores nordestinos, além dos de Minas Gerais e Espírito Santo - estados que também integram a Sudene.
Dividido em seis eixos - Inovação, Desenvolvimento de Capacidades Humanas, Dinamização e Diversificação Produtiva, Segurança Hídrica e Conservação Ambiental, Desenvolvimento Social e Desenvolvimento Institucional -, o planejamento estabelece metas para os próximos 12 anos.
Ampliação da oferta de educação em tempo integral; expansão da rede de fibra óptica no território nordestino - o Cinturão Digital do Nordeste -; reestruturação do sistema prisional; implantação de parques de energias renováveis estão entre as mais de 800 ações elencadas pelo plano, que deverá ser votado amanhã.
"Pensamos os problemas da região, identificamos os potenciais e as áreas em que podemos aportar recursos de forma estruturante. A ideia é tirar de ações difusas, isoladas, e criar algo que sistematicamente faça sentido e desenvolva a região", explica o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. Segundo ele, que também estará em Pernambuco, a visita de Bolsonaro ao Nordeste representa "um marco para a região".
"Haverá conjugação de esforços para definição de prioridades do Nordeste", considera o superintendente da Sudene, Mário Gordilho. Em um momento em que o governo federal realiza contingenciamento de recursos em diversas áreas, Gordilho ainda não sabe precisar o orçamento que será necessário para efetivar o plano. "Não tenho como lhe dar uma ideia mais precisa (do custo). Temos muito caminho pela frente", afirma.
Ações específicas para o Ceará estão previstas no plano elaborado pela Sudene, como ampliação e recuperação de 4 rodovias que passam pelo estado, além de implantação do Arco Rodoviário de Fortaleza e ampliação da rede de transporte metroviário de alta capacidade da capital cearense.
Além disso, dos 41 municípios estratégicos de médio porte para o PRNDE, cinco são cearenses: Sobral, Crateús, Quixadá, Juazeiro do Norte e Iguatu. Fortaleza também terá prioridade, assim como todas as capitais.
"O superintendente da Sudene vinha discutindo com cada estado", relata Camilo Santana (PT), que deve participar da reunião com o presidente em Recife. "A ideia é que a gente possa sugerir e que a Sudene seja esse grande representante do governo federal que possa coordenar essas ações. Será um momento importante de diálogo", considera o petista.
Outros governadores também esperam que seja um espaço para discussão das demandas da região. "O problema é que o governo está perdido. Particularmente, não acredito que eles implementem o plano, mas só o fato de quererem aprovar já é bom", disse Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão. "Então é hora de todo mundo descer do palanque e trabalhar muito", completou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT).
Itinerário da viagem
Recife
Presidente participa de reunião do Conselho Deliberativo da Sudene no Instituto Ricardo Brennand, às 10h45min. Participam do encontro os nove governadores nordestinos e também os de
Minas Gerais e Espírito Santo.
Petrolina
Bolsonaro inaugura Residencial Morada Nova, do Programa Minha Casa Minha Vida, às 14h30min.
Visita de Bolsonaro à região Nordeste é um acerto político
Antes da chegada a Pernambuco, o presidente percorreu diversos estados de outras regiões brasileiras, além de quatro países - Suiça, Israel, Chile e Estados Unidos, por duas vezes. Apesar da demora, a visita é vista como um caminho para o diálogo com o Nordeste. "É um pouco tarde, mas antes tarde do que nunca", resume o deputado federal Célio Studart (PV).
Para o parlamentar, a visita pode ser o início da aproximação entre o presidente e a região, que ainda é dominada pela oposição a Bolsonaro. "Existe um distanciamento do governo federal em relação à região", concorda a professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco, Tânia Bacelar.
Ela cita como exemplo o fato de nenhum Ministro de Estado ser nordestino. "O Nordeste mudou muito nos anos recentes, mas continua tendo uma imagem deformada em Brasília, no Sudeste e no Sul. Por isso, é importante para um presidente, ao invés de trabalhar com informações que chegam, conhecer a região", aponta Bacelar.
Aliado ao pesselista, Capitão Wagner (Pros) acredita que a visita "pode ser um caminho para diminuir esse tensionamento e facilitar a relação dele com o Nordeste". Wagner, contudo, discorda que houve demora na vinda do presidente. "Com as dificuldades que ele está tendo de votação da reforma da previdência e outros assuntos bem polêmicos, não acredito que foi tão demorada não", afirma.
Em cenário nacional difícil, com crises recentes entre governo e Congresso Nacional, a aproximação da região onde é mais rejeitado, segundo pesquisa do Ibope, pode representar uma mudança na gestão Bolsonaro, principalmente no que se refere à postura do presidente.
"Muito se tem falado da dificuldade do presidente de sair da sua bolha de eleitores-seguidores para contemplar outros segmentos, sobretudo os que, apesar de não terem dado o seu voto, também fazem parte da cidadania brasileira. Nesse sentido, é um acerto do presidente visitar a única região onde foi derrotado", afirma o professor de teoria política da Universidade Estadual do Ceará, Emanuel de Freitas.
"As eleições já passaram e agora ele governa para todos os brasileiros", destaca Heitor Freire (PSL). Segundo o deputado, que acompanhará o presidente na visita a Pernambuco, o governo sempre recebeu "a todos muito bem e nunca mediu esforços para ajudar a quem quer que seja".
Parlamentares oposicionistas são menos confiantes. "O que aproxima entes federativos são ideias, programas, e o governo não tem nada", critica José Guimarães (PT). "Ele não consegue dialogar com o Nordeste", completa Eduardo Bismarck (PDT), para quem, contudo, o presidente "não deve deixar de ir, mas ainda está incipiente".