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Polarização em par
Reportagem

Polarização em par

Ingrid Lopes & Igor Lobo
Edição Impressa
Tipo Notícia
Igor Lobo e Ingrid Lopes (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES Igor Lobo e Ingrid Lopes

A astrologia determina que pessoas nascidas sob a regência de um mesmo signo do zodíaco tendem a ter características semelhantes. Igor Lobo, 23, nasceu no dia 24 de dezembro e, justinho um ano e dois dias depois, Ingrid Lopes, 22, rebentou no mundo. As vidas dos dois foram correndo em paralelo até se encontrarem em meio aos confetes e serpentinas de um Pré-Carnaval dois anos atrás. Tranquilos, caseiros, prudentes, estudiosos, com rotinas corridas de estágios e faculdades, os dois combinavam até mesmo na área em que atuarão - Ingrid está na reta final do curso de Medicina, e Igor está concluindo Nutrição.

Tudo ia bem com os astros, até que as eleições presidenciais de 2018, assim como fez com o Brasil, embaralhou o tarô da vida dos dois. Não é que o cupido, ou coisa que o valha, calhou de juntar sob o céu de um mesmo amor uma feminista de esquerda com um anti-PT eleitor do Bolsonaro? Os indícios de que o romance improvável reservaria alguns embates ideológicos já se desenhavam no mapa, mas outubro foi como se fosse um inferno astral.

Uma versão de realidade aumentada de um grupo de Whatsapp discutindo política: assim virou o relacionamento deles dois. Igor não perdia a oportunidade de entrar em alguma polêmica e Ingrid não deixava por menos. Era o período entre-turnos das eleições, o País e o casal viviam o momento máximo de tensão. "Até que decidimos terminar. Eu estava angustiada já alguns dias, sem saber se queria continuar com alguém que pensava tão diferente de mim", lembra a estudante.

Daí, que as constelações deram o seu jeito e menos de 24 horas depois eles decidiram dar uma nova chance ao amor. Mas não do mesmo jeito. "Foi um recomeço mesmo, a gente não ia ignorar os problemas", conta Ingrid. "Tanto que na nossa saída depois do término, a gente sentiu como se fosse o primeiro encontro de novo", descreve Igor. Ingrid colocou algumas questões cruciais para discutir: Igor concordava que mulher tem de receber salários menores? Ele era homofóbico? Ele era racista? Com respostas negativas às questões, desataram o imbróglio.

"Ele sempre se mostrou uma pessoa sensata em relação a esse tipo de coisa. Acho que ele é mesmo anti-PT", se conforma Ingrid, ao que Igor confirma: "Sou mais anti-PT mesmo, não consigo me ver votando no PT. Gostava bastante da época do Lula, mas aí, com todos os escândalos, me decepcionei mesmo. O Bolsonaro foi uma pessoa que eu vi que era contra isso tudo, essa parte de corrupção", fala, e Ingrid olha meio de lado, mas deixa passar.

Com a vitória do agora presidente, Ingrid teve a prova de que ela e Igor fariam dar certo. "Ele não passou na minha cara a vitória e entendeu quando eu disse que alguns grupos minoritários poderiam sofrer"."Eu percebi que não é porque a pessoa votou no Bolsonaro que ela é uma pessoa ruim. Passei a escutar os motivos pelos quais eles votaram nele, sem precisar convencer", ensina Ingrid. "E eu comecei a ter mais empatia com as questões sociais de grupos que são minoria", explica Igor. O medo de que sumissem da previsão de futuro um do outro fez com que ajustassem a sinastria amorosa e aprendessem a tolerar e a respeitar.

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