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Centro Cultural do BNB cancela atividades, mas banco nega fechamento
Reportagem

Centro Cultural do BNB cancela atividades, mas banco nega fechamento

| Cultura | Artistas de teatro, música e literatura que tinham apresentações marcadas no Centro Cultural Banco do Nordeste foram surpreendidos com o cancelamento da programação. O banco alega momento de readequação. Cortes atingem unidades de Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sousa (PB)
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Exemplo de arquitetura do litoral. Centro Cultural do Banco do Nordeste pode deixar o Centro e ser transferido para o Benfica (Foto: Alex Gomes em 26/6/2019)
Foto: Alex Gomes em 26/6/2019 Exemplo de arquitetura do litoral. Centro Cultural do Banco do Nordeste pode deixar o Centro e ser transferido para o Benfica

As três unidades do Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) - em Fortaleza, Juazeiro do Norte (Cariri) e Sousa (Paraíba) - cancelaram atividades que estavam marcadas para acontecer nos meses de julho e agosto. A decisão causou estranhamento em alguns artistas, que já estavam com produções em andamento, com divulgações sendo feitas e datas marcadas. Segundo apurou O POVO, pelo menos 70% das apresentações agendadas para os equipamentos culturais foram eliminadas das grades de programação.

Em nota, o Banco do Nordeste informou que "está reestruturando seu modelo de atuação, no intuito de modernizar a estratégia de funcionamento e ampliar parcerias com outras instituições". O POVO também apurou que colaboradores das três instituições foram advertidos informalmente de que cortes de pessoal podem acontecer nos próximos meses. A resposta foi que "o reposicionamento de atuação (do BNB) não implica desligamento de funcionários".

Artistas de linguagens como música, teatro e literatura relatam que receberam comunicações por telefone, oriundas do CCBNB, informando sobre o cancelamento das apresentações. Isaac Cândido, produtor cultural e músico, tinha programação já agendada para o dia 20 de julho em Fortaleza e, inclusive, estava em negociação para levar a atividade também para as unidades de Sousa (PB) e do Cariri.

"Esses cortes são uma sinalização de que os centros culturais vão acabar. Eu vi com muita tristeza. Até mesmo porque sei da necessidade de a classe artística inteira ter o Centro Cultural, que tem uma programação diversa e contempla todos os estilos sem se centrar em grupinhos. É um dos mais democráticos equipamentos do Ceará. Fico triste pela classe artística inteira. Todos nós perdemos muito com essa possibilidade do Centro Cultural fechar. O público também fica órfão. É uma das coisas mais tristes que eu vi", desabafa Isaac.

Logo que os cortes de programação começaram a se avolumar e deixaram de ser apenas casos isolados, foram levantadas as hipóteses sobre o fim definitivo para as atividades dos três equipamentos culturais.

O produtor Gustavo Portela argumenta que o rareamento nas atividades dos centros culturais mantidos pelo Banco do Nordeste não é um processo recente. O artista lembra que logo que as atividades foram iniciadas, nos anos 1990, as plateias eram sempre constantes e os cachês suficientes para custear ensaios e processos criativos. "Mas permaneceu por muitos anos sem reajuste e mudança. E aos poucos os projetos foram acabando", diz o produtor, que em anos passados costumava realizar apresentações teatrais e de música nas três unidades.

Um dos aspectos apontados por artistas e produtores é a circulação existente entre os braços de Sousa, Juazeiro do Norte e Fortaleza. Gustavo explica que a possibilidade de viajar até as duas unidades do equipamento, no Sertão, possibilitaram diálogo de artistas da Capital com outras ferramentas culturais. Estando no Cariri e no interior paraibano, era possível realizar apresentações em cidades vizinhas, conhecer outros públicos, divulgar trabalhos e arregimentar plateias para o próprio CCBNB.

Outra programação cancelada em julho e agosto é o Jazz em Cena, um dos mais famosos projetos de fomento musical em Fortaleza. "Unilateralmente, pelo CCBNB, por 'contingenciamento' e corte de recursos. Até segunda ordem, sem nenhuma previsão de retomada", informou nota pública, divulgada pela coordenação do projeto.

"Não há até o momento sequer formalização por escrito à produção do Jazz em Cena. Apenas contato verbal, por telefone. Além de informações, compartilhadas por colegas músicos, de que o mesmo está sendo comunicado a outros projetos, shows e artistas que se apresentariam no CCBNB nos referidos meses", continua o texto da nota.

Ao O POVO, o produtor musical Dalwton Moura, um dos responsáveis pela execução do projeto, disse que o cancelamento aconteceu "sem previsão de retomada", apesar de artistas já estarem contratados para realizar apresentações em julho e agosto.

"Eu quero dizer que essa notícia me chegou com extremo sentimento de melancolia, uma tristeza perigosa", explica o cantor e compositor Davi Duarte, que também já tinha atividades marcadas no CCBNB Fortaleza em julho. O artista enfatiza que a programação do equipamento é uma das poucas no cenário atual que contempla a pluralidade dentro das próprias linguagens, "indo do rap ao jazz", e que envolve e abre portas para artistas locais.

"O centro sempre estava lá fazendo a sua parte e fomentando artistas e formando plateias. Isso é muito importante. Temos uma defasagem grande de plateia aqui no Ceará. Essa questão passa do desmanche para a sucata em relação a cultura", aponta Davi. No Ceará, ele explica, a métrica dos pagamentos de cachês esteve sempre estigmatizada por uma prorrogação - mas, dentro dessas questões, o CCBNB sempre realizou os pagamentos devidamente. "E a gente sempre se sentia seguro", finaliza.

Linguagens

O POVO apurou que foram canceladas programações infantis, musicais, literatura e teatro.

3

é a quantidade de centros culturais mantidos pelo Banco do Nordeste. Eles estão localizados em Sousa (Paraíba), em Juazeiro do Norte (Cariri cearense) e em Fortaleza.

21 anos

é o tempo de atuação do Centro Cultural Banco do Nordeste de Fortaleza, primeiro equipamento da categoria criado pela instituição bancária.

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