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Cartas e a negociação com a Congregação
Reportagem

Cartas e a negociação com a Congregação

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Os padres da Congregação Salesiana receberam todo o acervo documental do Padre Cícero, inclusive cartas e livros. Nele se obtém informações detalhadas sobre a negociação que envolve o padre Cícero e a Congregação. As cartas foram selecionadas e catalogadas pelo padre Manoel Isaú e pelo pesquisador Ralph Della Cava e, posteriormente, publicadas pelo padre Antenor de Andrade Silva. A decisão de fazer dos salesianos seus herdeiros universais testemunha sua intenção de que esta Congregação fizesse sua defesa, pois que conheceriam a sua história, por intermédio das informações guardadas nestes arquivos.

O cuidado do padre Cícero em guardar todos os documentos, especialmente aqueles relacionados com a Questão Religiosa de Juazeiro do Norte, era de tal monta que ele costumava copiar toda a correspondência remetida. A maioria das cartas foi escrita por ele, sendo manuscritas ou datilografadas, outras ditadas, em virtude do problema de visão que o acometera.

Para o padre Cícero não importava apenas zelar por sua reputação religiosa; ele terá pretendido ir muito além, na sua luta para implementar a infraestrutura mais favorável à formação da cidade. Buscava expedientes para a transformação da economia, da sociedade e a educação da juventude para que pudesse dar novas contribuições ao desenvolvimento local.

As cartas revelam o longo caminho percorrido pelo padre Cícero e a sua determinação em fundar escolas e trazer a Congregação Salesiana para Juazeiro do Norte. Em carta escrita em 1924, ao padre Della Via, implorou que o auxiliasse junto

ao padre Rota, dizendo: "É aspiração de um velho sacerdote cuja vida tem sido em se esforçar, sem medir sacrifícios, pela propaganda da fé católica, por estes sertões. Já me sinto no final da minha existência e por isso mesmo desejo morrer tranquilo, vendo iniciada aqui a grande, notável e benfazeja obra Salesiana".

O arquivamento dessas cartas seria a ocasião para que ele pudesse ser guardado como memória: fazer-se ver, como ele se via. Ele desejava ser visto como alguém que nunca parou de lutar, e que nem mesmo a proximidade da morte o fizera recuar diante dos obstáculos e desistir dos seus projetos. Foi um padre com ativa participação no meio político e educacional, em meio a sua luta para reaver suas ordens sacerdotais e poderes políticos.

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