A telecomunicação provavelmente mudará ainda mais. Meios serão acrescentados e convergidos. Mas se há algo que os especialistas apontam como pouco provável é o abandono da voz como pilar da comunicação. Se a voz for utilizada para vendas, seu potencial de convencimento é facilmente identificado. Se for entre relações, a voz estabelece o mais importante na humanidade: a possibilidade de diálogo.
"Transmite sentimento. E, de certo modo, a voz mobiliza. Até mesmo uma gravação, como no Whatsapp, já faz diferença, porque é voz", destaca o radialista, professor do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), Nonato Lima. O professor pondera ainda que numa comunicação à distância, falar e ser ouvido possibilita o retorno, a resposta imediata.
A mensagem de texto, que hoje é unanimidade quando se trata de comunicar, pode até ter certo impacto, instigando o imaginário e a curiosidade. "Mas é diferente de você apresentar uma informação em uma relação direta de diálogo através da voz. As ideias são expostas, refeitas, você pode mudar pontos de vista para se ajustar ao entendimento do outro", detalha o professor. O forte da comunicação, explica Nonato, não é apenas dizer, mas o entendimento de quem escuta. "E, nesse processo, o tom de voz, por exemplo, pode fazer toda a diferença", frisa.
Uma linha em casa, outra no trabalho. Um cancelamento do telefone fixo e o uso do celular como telefone comercial. Na prática, os usos da telefonia estão mais diversos, influenciados principalmente por características como qualidade, comodidade ou preço. A empresária Manuela do Vale atende e divulga seu número de celular como o contato institucional do seu restaurante.
Já a dona de casa Aline Bezerra de Morais cansou de pagar por algo que ela nem usava. "Já fazia um bom tempo que meu telefone estava desligado. Na hora que eu colocava ele na tomada era só para receber ligação de banco e de empresas oferecendo pacote disso e daquilo", conta. A decisão de cancelar a linha adquirida há mais de 30 anos se concretizou quando a operadora do celular ofereceu ligações ilimitadas para telefones fixos e móveis, interurbanos e sem taxa de deslocamento.
"Não tinha tirado antes porque as operadoras diziam que era um pacote, que a internet era ligada direto no telefone. Quando vi que não tinha mais essa obrigatoriedade, imediatamente pedi para cancelarem a linha", detalha a dona de casa.
Para Manuela, o mais prático mesmo era fazer do celular o principal número do seu comércio. "Quando eu divulgo um telefone, preciso fazer dele um canal de comunicação e, para isso, se fosse um fixo, precisaria ter sempre alguém para atender, com um bom atendimento e que soubesse passar as informações necessárias", avalia. A empresária não tinha essa pessoa, então decidiu trazer para si essa responsabilidade e nem cogitou colocar uma linha fixa no estabelecimento.
A rotina se adaptou à necessidade de comunicação. Manuela diz que não se importa que clientes liguem para seu número pessoal, acha importante tirar dúvidas e saber do que ele gosta ou no quê está interessado. "Uma limitação é que em alguns horários eu não posso atender. Mas se fosse uma linha fixa isso também aconteceria. Em casa eu tenho, mas nunca nem coloquei aparelho. Foi só porque o pacote da operadora precisava", destaca.