O vazamento de informações trocadas por autoridades políticas ganhou um novo capítulo ontem. No decorrer do dia, foram anunciadas invasões nos celulares do presidente Jair Bolsonaro; do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio Noronha; do presidente do Senado, Davi Alcolumbre; do presidente da Câmara, Rodrigo Maia; da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, além de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), esses não revelados.
A estimativa dos investigadores da Polícia Federal é de que pelo menos mil pessoas tenham sido hackeadas pelo grupo que foi alvo da Operação Spoofing na última terça-feira, 23. O juiz federal Vallisney de Oliveira foi o responsável pela autorização das prisões, cujos mandados foram cumpridos nas cidades de Araraquara, Ribeirão Preto e São Paulo. Os quatro envolvidos seriam responsáveis por invasões na conta do aplicativo Telegram mantida pelo ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro e outras autoridades.
Ontem, o presidente do STJ, ministro João Otávio Noronha, um dos alvos do hackeamento, lançou nota afirmando que Moro disse a ele que as provas coletadas seriam destruídas. O comunicado informa que o descarte tem como objetivo "não devassar a intimidade de ninguém". A conversa entre os dois, de acordo com a nota, ocorreu por telefone. No texto, João Otávio Noronha também assume postura semelhante à declarada por Jair Bolsonaro ao afirmar que não há o que esconder dos investigadores. O presidente disse que os hackers "perderam tempo" com ele.
Ainda ontem, após o anúncio das possíveis destruições de provas, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, teria dito que apenas o Judiciário tem poder de decisão sobre o descarte do material apreendido. A informação foi divulgada pela jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo.
Ainda de acordo com a Folha, a Polícia Federal também contradisse Moro ao afirmar, por meio de nota, que caberá à Justiça o destino do material. O texto também afirma que não faz parte dos objetivos da operação deflagrada nesta semana a análise do conteúdo das mensagens dos celulares invadidos. Detalha, ainda, que mensagens que venham a ser encontradas não serão divulgadas, dada a ilegalidade da forma como foram obtidas.
A possível destruição de provas prevista por Moro é vista como criminosa pelo deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP). "Ele comete crime se destruir essas provas", disse ao O POVO. O parlamentar afirmou que o material encontrado junto ao grupo preso na Operação Spoofing vai reafirmar os conteúdos publicados pelo site The Intercept Brasil e por outros veículos que atuaram em parceria.
Já o deputado federal Heitor Freire (PSL-CE) comemora os efeitos da Operação Spoofing e avalia que as prisões ocorridas na última terça-feira fortalecem a imagem de Moro. "Agora está provado que o que houve com o ministro foi terrorismo virtual e uma invasão criminosa que tinha como objetivo principal descredibilizar Sergio Moro e suas decisões quando juiz à frente da Lava Jato", afirmou em nota. (das agências).
Linha do tempo
4/6
Moro afirma que teve o celular hackeado e ordena investigação
9/6
The Intercept Brasil publica a primeira matéria em que Moro supostamente teria interferido na Lava Jato
19/6
Moro vai ao Senado para prestar esclarecimentos sobre supostas conversas com coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol. O ministro minimizou a crise e admitiu possível saída do governo caso comprovadas as irregularidades.
2/7
Moro vai à Câmara para prestar esclarecimentos sobre os di[alogos vazados
21/7
Em vídeo divulgado nas redes sociais, deputada federal e líder do governo na Câmara, Joice Hasselmann (PSL-SP), afirma que teve o celular hackeado.
23/7
Grupo de quatro pessoas é preso, durante operação Spoofing, da Polícia Federal, por suposto hackeamento de celular de Moro e de outras autoridades. No mesmo dia, a assessoria do ministro da Economia, Paulo Guedes, divulga que o celular do titular da pasta também foi alvo de hackeamento.
24/7
Walter Delgatti Neto, um dos presos pela operação Spoofing, confessa hackeamento de Sérgio Moro.
24/7
Polícia Federal identifica movimentações suspeitas de R$ 627 mil nas contas do ex-DJ Gustavo Henrique Elias Santos, e de sua mulher, Suelen Priscila de Oliveira, presos na operação Spoofing.
25/7
Ministério da Justiça e Segurança Pública afirma que celulares usados por Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia, Davi Alcolumbre, ministros do STJ e do STF além de Raquel Dodge foram alvos do grupo hacker preso na operação Spoofing.
OS QUATRO PRESOS
Walter Delgatti Neto
30 anos
Conhecido como "Vermelho", já foi preso por falsidade ideológica e por tráfico de drogas; foi preso em Ribeirão Preto pela PF. De acordo com fontes que tiveram acesso ao depoimento de Delgatti, ele afirmou que não recebeu nenhuma contrapartida financeira ao vazar as conversas obtidas ilegalmente ao site The Intercept Brasil.
Gustavo Henrique Elias Santos
28 anos
Conhecido como DJ Guto Dubra em Araraquara. Já foi preso por receptação e falsificação de documentos; foi detido pela PF em São Paulo. Entre abril e junho de 2018, teria movimentado R$ 424 mil, tendo uma renda mensal de R$ 2,8 mil.
Suelen Priscila de Oliveira
25 anos
Esposa de Gustavo, não tinha passagem pela Polícia. Foi presa em São Paulo junto com o marido, também por movimentações financeiras suspeitas.
Danilo Cristiano Marques
33 anos
Já teve condenação por roubo. Foi preso em Araraquara. Era proprietário de uma empresa que comercializava equipamentos de telefonia cujo nome fantasia era "Pousada e Comércio Chatuba.