A média da taxa estimada de homicídio entre os 20 municípios mais violentos do País, em 2017, era 14,6 vezes maior do que a taxa dos 20 menos violentos, segundo o Atlas da Violência 2019, disponibilizado ontem, 5, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Além da taxa de homicídios nas cidades, o estudo faz um cruzamento de dados com alguns indicadores socioeconômicos.
Isso permite depreender que as cidades mais violentas e menos violentas apresentam também um grande abismo entre os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Enquanto as cidades mais violentas, em geral, apresentam números piores no acesso à educação, desenvolvimento infantil e mercado de trabalho, as menos violentas têm indicadores considerados parecidos com os de países desenvolvidos.
Conforme o Atlas, as cidades mais violentas têm, em média, 60% da taxa de atendimento escolar das menos violentas, e o percentual de jovens de 15 a 24 anos que não estudavam, não trabalhavam e eram vulneráveis à pobreza era quatro vezes maior no conjunto do mais violentos.
"Antes da violência e da morte prematura de jovens nos territórios mais violentos, já houve inúmeras mortes simbólicas, uma vez que uma parcela da sociedade residente nesses locais não teve acesso a condições de desenvolvimento infantil, a oportunidades educacionais e ao mercado de trabalho na juventude, nem a bens culturais e materiais, parte do ideal de sucesso nas modernas economias de mercado", diz o estudo.
Entre os 20 municípios com mais de 100 mil habitantes mais violentos do País, 18 situavam-se nas regiões Norte e Nordeste, sendo 5 na Bahia, 4 no Pará, 3 no Ceará, 2 no Rio Grande do Norte, 2 em Pernambuco, e 1 em Sergipe e no Acre.
O coordenador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Conflitualidade e Violência (COVIO), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Geovani Jacó, explica que o aumento da violência em cidades pequenas reafirma a tendência de migração da criminalidade violenta, e que o público preferencial são jovens de baixa escolaridade. Para Jacó, é preciso que o Estado fomente a criação de políticas afirmativas e de inclusão, pois "a ampliação dessas medidas é fator de inclusão e, por consequência, de pacificação".
"É um sinal de alerta duplamente avisado para o Brasil. O primeiro é de se pensar de fato que temos um déficit histórico de políticas públicas, voltadas para a diminuição das desigualdades sociais, e a importância de se manter aquelas políticas que podem influenciar na diminuição dessa criminalidade, sobretudo educacionais e de renda", frisa.