Boa parte das pessoas que transitam pela av. Alberto Nepomuceno e veem o Mercado Central ao lado da Catedral Metropolitana de Fortaleza não têm ideia de que o local vai para além do turismo e concentra um grande mix de produtos e traz a gastronomia, a cultura e a história do Ceará.
Para entender o que ele é hoje, é preciso conhecer sua historia. Por exemplo, saber que inicialmente, em 1809, o Mercado ficava na rua Conde d'Eu, no endereço onde hoje podemos ver o Centro Cultural Banco do Nordeste.
Cinco anos mais tarde a estrutura foi demolida e deu lugar a um novo prédio nomeado como Cozinha do Povo. No entanto, foi somente na década de 1930 que uma das mais importantes mudanças ocorreu: a comercialização de carnes, frutas e verduras foi proibida.
Nesse momento, para conseguirem manter-se no local, os lojistas tiveram que mudar de ramo, daí a origem dos boxes de artesanato, hoje o principal forte do Mercado.
Em meados dos anos 1970, o primeiro endereço do Mercado já havia passado por diversas reformas e foi reinaugurado. Um labirinto de boxes, distribuídos em 1.200 metros quadrados, recebia mais visitantes, não apenas de Fortaleza, como também de diversos lugares do Brasil e do mundo.
A modernização e o crescimento de Fortaleza unidos às constantes ameaças de incêndio, por causa da precária estrutura elétrica do prédio antigo, fizeram com que um novo projeto fosse idealizado no início dos anos 1990.
Permissionário no mercado há 35 anos, João Eudes de Oliveira, o "Joãozinho das castanhas", relembra a mudança. "Eu iniciei meu trabalho no Mercado velho, aquele que ficava na rua Conde d'Eu de um lado, e na rua General Bezerril do outro, mas quando veio para cá em 19 de janeiro de 1998, a gente viu que melhorou bastante".
Nascia o Mercado Central como conhecemos hoje, com quase 10.000 metros quadrados, composto por cinco andares, que abrigam boxes com os mais variados itens, além de estacionamento próprio.
Clélia Lustosa, doutora em Geografia e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), ressalta o objetivo econômico estratégico do Mercado Central, construído durante o governo Juracy Magalhães. "Quando surge esse novo mercado, ele tem apenas o papel de polo artesanal, haja vista que estávamos no auge do discurso do turismo no Ceará", diz a geógrafa.
José Aquino Paulino, presidente da Cooperativa de Permissionários e Locatários do Mercardo Central de Fortaleza (Coopcentral), possui um loja de artigos regionais. Segundo ele, entre vagas diretas e indiretas, são gerados de 3 mil a 4 mil empregos. "Aí tem os fornecedores, as pessoas que fabricam o produto direto, que são principalmente artesãos".
De acordo com ele, durante a baixa estação o número de visitantes varia de 4 mil a 5 mil pessoas e na alta estação (julho, dezembro e janeiro) de 8 mil a 10 mil.
Marcos Pompeu, secretário executivo do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da Fecomércio-CE, avalia que o Mercado Central é um ponto turístico por excelência. "Os mercados centrais no Brasil e pelo mundo costumam ser locais onde a cidade se apresenta para o turista e para a o morador, e reúne o artesanato, a gastronomia, a história e a cultura da cidade". Segundo Marcos, o estabelecimento tem a capacidade de resumir a cidade num ponto de vista cultural e histórico.
Para o Presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem do Ceará (Abav), Colombo Cialdini, além do valor cultural, o Mercado possui grande relevância econômica. Ele destaca que o local é parada obrigatória no roteiro de turismo receptivo, que conta ainda com o fato de Fortaleza ter um dos maiores hubs aéreos do Brasil.
Mas não é somente pelo valor econômico e cultural que um dos principais cartões postais de Fortaleza se destaca. João Mateus de Lima, funcionário de um boxe de venda de redes há 35 anos, desde o antigo endereço, é apenas um dos vários funcionários com uma visão que vai além do trabalho. "O Mercado é nossa segunda casa, aqui é uma família".
O que você vai encontrar aqui
Artigos em couro (sandálias, sapatos, chapéus, bolsas e malas), rendas e bordados em roupas e em peças de cama, mesa e banho, rendas de bilro, camisetas, lembrancinhas como mini-jangadas, bijuterias, joias em ouro e artigos para decoração. cachaça, licores, castanha e doce de caju.
Na hora da venda
João Mateus de Lima, 55, vendedor no Mercado há 35 anos, diz que é agraciado, porque vem gente de todo o mundo. "Mas os visitantes que vêm mais são os do Norte do Brasil, de Belém, Roraima, Manaus. São os nossos melhores clientes. Mas a gente acaba vendendo para todo mundo, até o povo daqui compra também. Temos muitos amigos que eram clientes". Para fazer uma boa venda, ele diz que tem que ter um preço bom, bom atendimento, e o produto de qualidade. "A simpatia também é muito importante".
Visitantes
Rivânia Souza, 28, estudante de Pedagogia, e Railton Lima, 38, técnico em Eletrotécnica, vieram do Maranhão. Ele disse que chegaram em uma excursão e o Mercado Central era um dos pontos que estavam na rota. "Viemos procurar mais coisas de praia mesmo, roupas, calçados, e algumas lembranças para levar para a família". Rivânia já havia comprado saídas de praia para "presentear todo mundo". "Tem muitos itens interessantes, algumas imagens e artesanatos que eles fazem que representam localidades e praias. É a cultura do Estado e da Cidade".
Artigos regionais
João Eudes de Oliveira "Joãozinho das castanhas", 55, permissionário há 35 anos, iniciou no seu trabalho ainda no Mercado velho, aquele que ficava na rua Conde d'Eu de um lado e rua General Bezerril do outro. "Sempre trabalhei com artigos regionais, que são a castanha de caju, doce de caju, bebidas de modo geral, licores, rapaduras, manteiga de garrafa, mel de caju, mel de abelha, mel de cana, e alguns artesanatos de palha também, porque os clientes gostam bastante. Mas o carro-chefe mesmo que nós vendemos aqui na nossa lojinha é a castanha de caju. É a mais procurada.
Turistas
Fábio Alencar, 30, autônomo, e Manoel Tomas, 34, analista de sistemas, turistas de Brasília pela primeira vez no Mercado Central. Manoel diz que foi ao local para comprar presentes e conhecer a parte turística da Cidade. "Comprei um presente para levar para a minha mãe também. O Mercado está de parabéns, a Cidade de vocês está de parabéns. Estou gostando muito de conhecer tudo". Fábio já optou por comprar uma pinga. "Muito boa, recomendo. O que chama mais a nossa atenção é aquilo que a gente não tem tanto lá, é o material artesanal", acrescenta.
Estrutura
José Aquino Paulino, 47, presidente da Cooperativa de permissionários do Mercado Central de Fortaleza (Coopcentral) e permissionário, lembra que o Mercado Central, apenas nesse prédio, possui 21 anos. "Nós temos 559 lojas, 70 quiosques, divididos em cinco andares, com uma estrutura muito boa para o turista, temos 20 banheiros, três elevadores, serviço de manobrista. Nós frisamos muito também o atendimento, para que as pessoas que venham aqui falem bem, porque a melhor propaganda que tem é o boca a boca. A gente procura tratar bem o turista para que ele possa voltar e falar bem do nosso mercado. Eu cheguei no mercado com 16 anos estou com 47, são 32 anos de mercado. Eu vim desde o outro mercado".
Na história de Fortaleza
Como a maioria das cidades, Fortaleza nasceu no entorno de sua igreja matriz, a Catedral de Fortaleza. Além da Igreja da Sé, outro importante ponto estratégico para a expansão do município foi a Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. Com a função de defender o território e grande importância econômica, o forte era um local de abastecimento de navios entre o Ceará e os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Maranhão.
"As duas cidades mais importantes no século XVIII eram Recife e São Luís. Fortaleza não tinha importância, a riqueza do Ceará estava toda no sertão", explica Clélia Lustosa, doutora em Geografia e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo Clélia, a riqueza do Estado era baseada no gado e no algodão, e se concentrava nas cidades de Icó, Aracati, Camocim, Sobral, Quixadá, Crato.
Somente no começo do século XX Fortaleza passa a ganhar maior importância estratégica. O algodão produzido no interior começa a ser exportado pelo porto de Fortaleza, atraindo mais visitantes e movimento para a região central da cidade. "A partir daí Fortaleza ganha importância, e as feiras e os mercados começam surgir e crescer", conta a professora.
Linha do tempo
1809
O Mercado era feito em madeira e comercializava apenas carne, fruta e verdura.
1814
Estrutura de madeira é demolida e, em seu lugar ergue-se um novo prédio, o Cozinha do Povo.
1931
Comércio de carne, fruta e verdura é proibido dentro do prédio. Lojistas do mercado mudam de ramo dando lugar aos boxes de artesanato.
1975
é reinaugurado ocupando um espaço de 1.200 m². Labirinto formado por pequenos boxes.
Anos 1990
É idealizado um novo mercado mais moderno, em espaço amplo e com mais boxes.
21/10/1997
Lei autoriza o chefe do poder Executivo a outorgar à atual Associação dos Lojistas do Mercado Central (Almec) a administração gerencial do novo equipamento.
19/1/1998
Início das operações na av. Alberto Nepomuceno, 199, ao lado da Catedral Metropolitana de Fortaleza, e em frente ao comando da 10ª Região Militar.