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Educação como forma de prevenção
Reportagem

Educação como forma de prevenção

Especialistas defendem disseminação de informações sobre violência sexual
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Informação é a principal arma que a sociedade dispõe para prevenir abuso sexual contra crianças e adolescentes, afirmam especialistas que lidam com vítimas de estupro, ouvidos por O POVO. É a melhor forma de vítimas ou mesmo parentes de vítimas poderem identificar abusos e deixar em alerta a sociedade para o tema.

De acordo com a coordenadora da Rede Aquarela, Kelly Meneses, é bastante comum que, após as palestras realizadas pelo programa, crianças ou adolescentes se aproximem para pedir apoio, muitas vezes, por terem entendido ali que haviam sido vítimas de abuso sexual. Ela também cita que a cada pessoa que participa da palestra pode replicar a informação para até outras 10.

A Rede Aquarela é ligado à Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), da Prefeitura de Fortaleza, e é responsável pela Política Municipal de Enfrentamento à Violência Sexual Infantojuvenil. As palestras integram o eixo de disseminação de informação, um dos quatro eixos que compõem o programa.

Seu público alvo é crianças, adolescentes e profissionais da rede de atendimento a vítimas. Os demais eixos são: atendimento na Delegacia de Combate a Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca); atendimento psicossocial e atendimento na 12ª Vara Criminal, especializada no processamento de crimes contra crianças e adolescentes.

São 11 psicólogos e 11 assistentes sociais, além de advogados e profissionais de diversas áreas no eixo informativo. Em 2018, o programa realizou 3.679 atendimentos especializados a vítimas de violência sexual até 18 anos. Neste ano, até junho, já haviam sido 2.149 atendimentos. Kelly, no entanto, ressalta que, conforme estimativas da literatura especializada, apenas cerca de 10% dos casos de abuso sexual são denunciados. "Muito mais violência sexual está acontecendo".

Supervisor do Núcleo da Infância e Juventude (Najid), da Defensoria Pública Estadual, Adriano Leitinho, é outro a acreditar que a educação, com ações como campanhas públicas, são a melhor forma de prevenção. A facilidade de ludibriamento é um dos fatores que o defensor público aponta como explicação para o fato de crianças e adolescentes serem as principais vítimas de abuso — da mesma forma que fatores como facilidade domínio físico e o medo. Ele alerta que, apesar de não haver um perfil específico, o agressor, na grande maioria das vezes, são pessoas próximas à família da vítima — familiares e vizinhos, por exemplo.

A assessora técnica do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), Marina Araújo, corrobora com a percepção sobre a proximidade dos agressores. Ela afirma que estudos apontam que os abusos decorreram de uma relação de poder, seja de gênero, seja de faixa etária. Além de trabalhos de conscientização, como discussões de gênero, o Cedeca, diz Marina, defende prioridade absoluta para crianças e adolescentes na execução de políticas públicas.

Adriano pede que pais e responsáveis fiquem atentos a mudanças bruscas de comportamento em crianças e adolescentes, o que pode indicar a ocorrência de abuso. Conforme Kelly, culpa, baixa autoestima e medo ao estar em um mesmo ambiente de uma determinada pessoa são os efeitos mais presentes em vítimas. Além disso, alguns dos outros sinais de abuso sexual incluem dores nas regiões íntimas, corrimento, dificuldade para sentar ou caminhar, cólicas intestinais, surgimento de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.

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