As queimadas na floresta amazônica têm efeitos que extrapolam o meio ambiente. Para analistas ouvidos pelo O POVO, os focos de incêndio também trazem instabilidade ao mundo da política.
Nessa quinta-feira, senadores da Rede ingressaram com pedido de afastamento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a quem acusam de negligenciar proteção ao ecossistema, desidratando ações de entidades de controle.
O documento foi protocolado no Supremo Tribunal Federal (STF) por Fabiano Contarato (Rede-ES) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). "O ministro não atuou para prevenir a catástrofe de queimada que acontece na Amazônia", afirma Randolfe.
Segundo o parlamentar, Salles "atua no desmonte dos quadros dos órgãos, na desarticulação das secretarias". O senador também avalia que "um conjunto de medidas e ações levaram à catástrofe que ocorre neste momento na Amazônia" e que "essas ações e omissões levaram a esse agravamento".
Por nota, o partido Novo, ao qual Salles é filiado, esclareceu que o ministro "não foi uma indicação da legenda" e não representa a instituição. "O ministro", prossegue a sigla, "foi escolhido e responde ao presidente Jair Bolsonaro". O texto acrescenta: "Só temos conhecimento das suas ações quando divulgadas publicamente. Ricardo Salles não participa de nenhuma atividade partidária e nem exerce qualquer cargo dentro do partido".
Esclarecimentos do NOVO em relação ao Ministro Ricardo Salles:
1 – Esclarecemos, mais uma vez, que o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles não foi uma indicação do NOVO e, portanto, não representa a instituição. O ministro foi escolhido e responde ao presidente Jair Bolsonaro
— NOVO 30 (@partidonovo30) August 22, 2019
Nesta sexta-feira e sábado, há protestos agendados em várias cidades brasileiras contra as queimadas. Em Fortaleza, há ato programado para amanhã na Praça da Gentilândia, no Benfica, a partir das 14 horas.
Ainda na noite de ontem, o presidente Jair Bolsonaro convocou reunião de emergência para discutir soluções para a crise. Aos oito ministros presentes, o pesselista determinou que executem medidas para combater os focos de incêndio.
Em edição extra do Diário Oficial da União, o Planalto ordena respostas "necessárias para o levantamento e o combate a incêndio na região da Amazônia Legal para a preservação e a defesa da Floresta Amazônica, patrimônio nacional".
Participaram da agenda os ministros Salles (Meio Ambiente), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil).
Durante o encontro, Bolsonaro respondeu a críticas do presidente francês, Emmanuel Macron, que acionou o grupo dos sete países mais ricos do mundo, o G7, para discutir a situação da Amazônia. O bloco é formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest - the lungs which produces 20% of our planet’s oxygen - is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let's discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon pic.twitter.com/dogOJj9big
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) August 22, 2019
Pelas redes sociais, o chefe do Executivo brasileiro rebateu: "Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até para fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema".
- Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ ganhos políticos pessoais. O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até p/ fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) August 22, 2019
À reportagem, o professor e pesquisador Rodrigo Prando, da Faculdade Mackenzie (SP), avaliou que a politização de um tema ambiental é resultado da postura do presidente da República. "Aquilo que o Bolsonaro verbaliza acaba sendo politizado, e sempre numa discussão bastante rasa", assinala.
Prando adiciona que, "ao tratar as ONGs e ativistas assim, torna político o problema ambiental". O estudioso completa: "A conjugação da esfera social, ambiental e financeira toma uma dimensão de confronto. Para o Bolsonaro, é uma guerra contra ONGs".
Cientista político da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho de Leitores do O POVO, Cleyton Monte aponta que "o governo brasileiro não está fazendo nenhum esforço para apagar o incêndio". Monte conclui: "A fala do Onyx é de simplesmente dizer que os governos estrangeiros estão mentindo".